Na linguagem artística da dança do ventre
Por: Jacquelyne O.
21 de Janeiro de 2020

Na linguagem artística da dança do ventre

Teoria da Dança Teoria da Dança do ventre

NA LINGUAGEM ARTÍSTICA DA DANÇA DO VENTRE: O

REENCONTRO COM A FEMINILIDADE NO PROCESSO DE SUBJETIVAÇÃO

 

O sujeito-mulher, em seus diferentes contextos institucionais, distancia-se de sua feminilidade por ocupar um lugar regido pelo discurso institucionalizado do mito da beleza. Discursos são veiculados, em relação ao corpo, por práticas

discursivas em direção da construção de um corpo “perfeito”, que não pode “deformar-se”. Com tais práticas discursivas, estabelece-se uma relação com o corpo: uma relação comercial e de industrialização da beleza. (P. 1)

 

Segundo Penna (1989), o universo interior quando modificado,

transparece no corpo e essa “imagem corporal” opera:

com as três estruturas constituintes da complexa relação que criamos com o nosso próprio corpo – estrutura fisiológica: responsável pelas organizações

anatomofisiológicas. Incluem-se nesta estrutura as contribuições geneticamente herdadas e as modificações sofridas pelas funções somáticas durante as fases anteriores da vida do sujeito. Estrutura libidinal: considerada como o conjunto das experiências emocionais, vividas nos relacionamentos desde a gestação. Estrutura sociológica: derivando-se parcialmente dos intecâmbios pessoais, a imagem corporal.

(PENNA, 1989, p. 28). (P. 1-2)

 

com as três estruturas constituintes da complexa relação que criamos com o nosso próprio corpo – estrutura fisiológica: responsável pelas organizações

anatomofisiológicas. Incluem-se nesta estrutura as contribuições geneticamente herdadas e as modificações sofridas pelas funções somáticas durante as fases anteriores da vida do sujeito. Estrutura libidinal: considerada como o conjunto das experiências emocionais, vividas nos relacionamentos desde a gestação. Estrutura sociológica: derivando-se parcialmente dos intecâmbios pessoais, a imagem corporal.

(PENNA, 1989, p. 28).

É a partir da interação dessas estruturas que a imagem do corpo feminino é composta. O que uma mulher considera como modelo ideal feminino – este modelo ideal trazido aqui como ideológico-cultural – é reflexo de sua satisfação ou não com o seu próprio corpo. As imposições do estereótipo social, as variáveis culturais e sociais da imagem padronizada do corpo humano projetam a idéia de “beleza” e de “feiúra” como fenômenos que levam a mulher ao sucesso ou ao fracasso por serem as “proporções ideais” difíceis de atingir. Do ponto de vista cultural, a mulher, independente de seus valores pessoais, está condicionada a exercer um papel atrativo nos homens estando “bonita”. Isto porque culturalmente a mulher sempre foi alvo dos homens. Por outro lado

são impostas, através de práticas discursivas, “fórmulas” de industrialização e comercialização para que ela atinja o modelo ideal. No que concerne ao papel social, as mulheres vêm abrindo um caminho da liberdade que, de acordo com sua história marcada de repressão, submissão e silêncio, este caminho, jamais trilhado, destruiu convicções, mitos e “verdades” que eram levados em consideração. No entanto, de todas as conquistas realizadas neste caminho para a liberdade, Naomi Wolf (1992) indaga: “Será que as mulheres se sentem livres?” Segundo a autora, essa falta de liberdade está relacionada à beleza

feminina. À medida que as mulheres vencem diferentes barreiras de poder tidas como inatingíveis, mais se cobra de sua imagem de beleza. Wolf afirma existir “uma subvida secreta que envenena nossa liberdade: imersa em conceitos de beleza, ela é um escuro filão de ódio a nós mesmas, obsessões com o físico, pânico de envelhecer e pavor de perder o controle”. (WOLF, 1992, p. 12).

Este obscuro silêncio leva o sujeito mulher a ser um sujeito consumidor em prol da beleza estipulada pelo social. Isto significa dizer que o mito da beleza feminina faz o sujeito mulher “cuidar de si” como a sociedade quer, segundo práticas discursivas determinadas por um dizer social que forma ideologia. O mito da beleza ao qual Wolf se refere, impõe e é usado contra a liberdade e evolução da mulher, porque possui leis repressoras tanto quanto às do passado. A mulher, então, como resultado do quadro feminino hoje, liberta-se da domesticidade e prende-se ao mito da beleza que assume o controle social. A ideologia da beleza feminina “se fortaleceu para assumir a função de coerção social que os mitos da maternidade, domesticidade, castidade e passividade não conseguem mais realizar.” (WOLF, 1992, p. 13). (P. 2-3)

 

A beleza é uma obrigação para as mulheres, um valor ideológico imposto pela sociedade por práticas discursivas na qual todas as mulheres têm de entrar nessa ordem do discurso. (p.4)

 

Por alterarem o corpo da mulher, os ciclos como menstruação, maternidade, envelhecimento, são vistos como negativos, doentios e esses conflitos trazem ansiedade e incômodos, insatisfação com a própria imagem feminina. Essas mudanças são encaradas como ameaçadoras. Com isso a mulher submete-se a práticas socialmente impostas de padrão ideal do corpo. Entretanto, à medida

que a mulher atinge um nível de consciência da sua natureza e passa a observar tudo em si e à sua volta, é desenvolvido seu comportamento e sua consciência de si. Dentro desse contexto, Penna (1989) afirma que:

a mulher dispõe de uma perspectiva própria e o seu corpo é uma condição

fundamental na maneira de ser feminina. No entanto, enquanto procura definir-se pelo externo, pelo social, ela se afasta dos motivos internos. Haveria um motivo interno que caracterizasse a perspectiva feminina frente a si mesma e ao mundo? Tal motivo atingido como antecedente dos seus comportamentos nos faria transpor o limite das aparências e ir ao fundo, para entender a intencionalidade da maneira de ser feminina. (PENNA, 1989, p. 42-43). (p. 4)

 

Para Porpino (1999, apud MELO) as formas de vivenciar o corpo são apreendidas pela cultura porque “diferentes concepções do corpo podem ser vistas em diferentes contextos sociais e momentos históricos”. (P.5)

 

O corpo da mulher, principalmente, é visto como marca profunda de interdição e, por “perder” o seu corpo, a mulher também se distancia da feminilidade, do seu “eu”. Para Beauvoir (1980), é na história cristalizada da mulher nas civilizações humanas patriarcais que são encontradas expressões da marca cultural de desigualdade social. (p. 5)

 

Jean-Yves Leloup, em O corpo e seus símbolos, escreve sobre as diferentes escutas do corpo humano. Segundo ele, o corpo é marcado por estórias e sentidos profundos vividos desde a infância porque “o corpo é nossa memória mais arcaica. Nele, nada é esquecido. Cada acontecimento vivido deixa no corpo a sua marca profunda(...). O corpo freqüentemente é o último que perdoa. Sua memória é sempre muito viva.” (P. 5)

 

A Dança do Ventre, enquanto forma de expressão essencialmente feminina,

considerada como componente transformador leva a mulher à procura de novas perspectivas. Dessa forma, entendemos que a Dança do Ventre resgata a essência feminina e como o contexto sociocultural em que a mulher está inserida constrói os seus valores ideológicos capazes de levá-la a um processo de sujeição; (P. 6)

 

 

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