"Por que raios preciso estudar Gramática"?
Por: Julia P.
22 de Junho de 2021

"Por que raios preciso estudar Gramática"?

Como conhecer as principais estruturas e funcionamento da gramática pode nos ajudar na produção e melhor compreensão de textos.

Português Gramática

Quem nunca se viu diante de uma aula de Gramática e se perguntou algo do tipo: "Por que raios eu preciso saber que isso é um sujeito oculto, e não um sujeito simples? O que isso vai mudar na minha vida?". Realmente, a maneira como a Gramática muitas vezes é ensinada pode nos levar a esse tipo de questionamento, e com razão! Quando estudamos a gramática como algo isolado, o sentido desse estudo acaba se restringindo à resolução de exercícios de provas, concursos ou vestibulares e, por isso, a única resposta possível ao questionamento inicial seria "porque cai na prova". No entanto, não é essa a única forma de olhar para a Gramática. Pelo contrário, existe uma outra maneira de encarar as tais regrinhas gramaticais e vê-las à luz da produção de texto ou mesmo da literatura, tornando esse estudo muito mais útil e interessante!

Como assim? Bom, peguemos o exemplo dos tipos de sujeito (lembrando que o sujeito seria sobre quem declaramos algo, ou, de maneira simplificada, quem realiza a ação verbal). Quando eu entendo a minha intenção por trás de um texto e eu conheço os conteúdos relacionados aos tipos de sujeito, eu consigo aplicá-los na minha escrita. Então, se eu sei que o sujeito oculto é aquele que é possível de ser identificado, mas não está explícito na frase, e sim oculto, escondido, eu posso usar esse recurso como uma maneira de evitar repetições no meu texto, tornando-o mais fluido. Por exemplo, se eu quiser iniciar um texto com: "A Gramática pode ser muito enfadonha e se a Gramática não for encarada como um recurso para aprimorar a escrita, a Gramática pode soar até inútil", posso entender que fazendo uso de um sujeito oculto, consigo cortar as repetições de "a Gramática" e ainda assim manter o meu texto claro e coeso: "A Gramática pode ser muito enfadonha e se não for encarada como um recurso para aprimorar a escrita, pode soar até inútil". 

Outro exemplo? Vamos agora à literatura e à construção do sentido em poemas. Se pegarmos a canção de Caetano Veloso, "Gente", podemos ver o movimento contrário: ele evita o uso do sujeito oculto, ainda que esse seja possível, e resolve repetir várias vezes o sujeito simples. Olhemos um trecho como exemplo: "Gente quer comer/ Gente quer ser feliz/ Gente quer respirar ar pelo nariz". Aqui, Caetano poderia simplesmente ter ocultado o sujeito "gente", escrevendo: "Gente quer comer/ quer ser feliz/ quer respirar ar pelo nariz". No entanto, ele prefere manter o sujeito simples e explícito "Gente", ainda que isso o leve à repetição. Por quê? Será que Caetano não sabia que poderia fazer uso do sujeito oculto? Não! Na verdade, vemos uma repetição intencional: sua música tem como tema principal as pessoas (gente) e seus desejos, assim, ele busca na repetição do sujeito simples "gente" um recurso de ênfase, destacando esse sujeito sobre o qual ele fala! Fora, é claro, uma questão rítmica, que também é importante, mas não é o único fator que mobiliza a repetição.

Com esses rápidos exemplos, vemos que a Gramática pode ser muito mais do que simplesmente "A Gramática". Vista numa perspectiva mais ampla, associada a outras áreas de conhecimento, como redação e literatura, é possível encontrar um sentido maior para essa disciplina que muitas vezes parece tão "cabeluda". Com certeza, uma análise gramatical voltada ao real uso da língua também ajuda no aprendizado, afinal, quando vemos sentido em algo que estudamos fica muito mais fácil de aprender e saímos daquele velho lugar de ficar tentando decorar nomenclaturas esquisitas, passando a compreender o seu real funcionamento.

Voltando, então, à pergunta inicial: "Por que raios eu preciso saber que isso é um sujeito oculto, e não um sujeito simples? O que isso vai mudar na minha vida?". Porque sabendo que na língua existem formas diferentes de se expressar sobre quem falamos (o sujeito), conseguimos usar e identificar recursos como a repetição expressiva, que dá ênfase a determinadas ideias, ou evitar repetições desnecessárias, tornando nosso texto mais fluido e agradável. E nossa vida muda na medida em que nos tornamos mais conscientes dos recursos que a língua que falamos nos oferece.

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Julia P.
São Paulo / SP
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Gramática da Língua Portuguesa Gramática para concursos públicos Português - gramática e ortografia para todas as séries
Mestrado: Estudos Comparados de Literatura (Letras Modernas) (Universidade de São Paulo (USP))
Professora de português, mestranda em letras pela usp. Ensino personalizado de acordo com as necessidades e expectativas do/a aluno/a.
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