O pensamento filosófico se diferencia do pensamento mítico por ter como fundamento a racionalidade humana? Por que essa questão é considerada errada?
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A afirmação está incorreta. O pensamento filosófico não tem o privilégio de inaugurar a 'racionalidade humana' em relação ao mito. Isso reflete a ideia do 'milagre grego', isto é, a teoria tradicional de que a filosofia tem um princípio absoluto na história humana instaurando um rompimento radical do discurso racional-filosófico com os mitos antigos.
O rompimento absoluto entre a filosofia e o mito é amplamente questionado. Na verdade, há rupturas e continuidades entre o pensamento mítico e o filosófico. O mito é uma narrativa sobre a origem do mundo e da natureza relatado pela autoridade religiosa do discurso do poeta e assumido como verdade por seu público. A narrativa mítica fornece a genealogia, isto , a gênese ou o nascimento e a descedência dos pais ou antepassados divinos, seja pelo relato das relações sexuais entre os deuses (teogonia) ou pelas ações, disputas e alianças de forças divinas sobrenaturais (cosmogonia).
Nesse aspecto, a estrutura de pensamento filosófico reproduz características centrais dos mitos: a geração dos deuses (Uranos, Gaia e Oceano) no tempo primordial corresponde a realidades concretas, como o céu, a terra e o mar, enquanto a filosofia fornece uma visão positiva do mundo através dos próprios elementos naturais, como a água, o fogo e a união dos opostos. Todavia, a filosofia fornece uma 'cosmologia', isto é, uma explicação racional do princípio primordial (arché) do mundo através da problematização e questionamento da realidade, em busca a verdade. De fato, os primeiros filósofos jônios mantém características fundamentais das forças divinas, como a eternidade e permanência, que permite criar e regular os fenômenos naturais mutáveis e transitórios. De todo modo, a filosofia pré-socrática aproveita a estrutura do pensamento mítico ao mesmo tempo que abre espaço para uma nova forma de reflexão mais de reflexão do mundo mais coerente, lógica e rigorosamente conceitual.
FONTES:
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000.
ARANHA, Maria Lucia; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à Filosofia. 4 a ed. São Paulo: Moderna, 2009.
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