Professor
José J.
Respondeu há 4 anos
Na realidade há um complexo desenvolvimento político e social da questão religiosa no Império Romano ao longo do século IV. Isso já começa com Constantino mesmo: ele irá atribuir a sua vitória sobre o rival Magêncio, na Batalha da Ponte Mílvia, em 312, perto de Roma, a uma aparição de uma cruz meio dia no céu no qual uma inscrição em latim dizia que ele venceria e obteria a coroa do Império Romano. Sua esposa, a posteriormente canonizada Santa Helena, era cristã e, numa viagem a Palestina, teria milagrosamente encontrada a cruz de Cristo. Nesse local o governo romano financiou a construção, em 335, da Igreja do Santo Sepulcro, uma das mais importantes construções cristãs do mundo. Constantino promoveu o primeiro concílio para definir oficialmente as regras da religião cristã e distinguir ela das muitas heresias que existiam. Foi o Concílio de Niceia ocorrido em 325 nas proximidades da capital Constantinopla. Constantino vivia cercado de autoridades cristãs, entre elas o erudito e bispo palestino Eusébio de Cesareia que afirmava em seus escritos que o imperador romano agia pela graça de Deus, no entanto ele somente se converteu ao cristianismo no leito de morte.
Os seus sucessores foram educados no cristianismo mas ou eram mais pró-cristãos e ora mais pró-pagãos e isto possivelmente era o resultado de lutas políticas, ideológicas e sociais entre as elites cristãs e pagãs ao longo do império e seus apoiadores nas demais classes sociais. Haviam também imperadores que favoreciam facções diferentes da religião cristã apoiando hora o cristianismo católico hora a heresia ariana (Constâncio II que enviou Úlfilas para converter os visigodos-instalados ainda na atual Romênia- ao cristianismo ariano). Um dos sucessores de Constantino, Juliano o apostata, foi o último governante romano a se declarar e promover o paganismo tendo até promovido uma sistematização dos dogmas da religião politeísta greco-romana como forma de enfrentar o crescente poder ideológico e intelectual do cristianismo. Juliano se colocava como um leito dos deuses e se colocou sobre a proteção de Zeus e Hélio (Deus do Sol protetor da dinastia e do império antes de Constantino).
Por fim, com Teodósio, através do Édito de Tessalônica, como você apontou, o cristianismo virou religião de estado e todos os habitantes do estado romano foram obrigados a abandonar as demais religiões, o que não foi conseguido pacificamente, assim como foi ordenado que todos os templos não cristãos fossem abandonados ou destruídos, embora por muito tempo os camponeses, por viverem afastados dos centros urbanos onde estavam localizados as estruturas administrativas do poder estatal romano, se mantiveram majoritariamente pagãos por muito tempo.
Realmente existia até 391 d.c. uma certa política e prática social de tolerância (herdadas da tradição secular da cultura romana e só rompida se os fieis não aceitassem o poder imperial e atacassem a religião do estado de alguma forma como em diversos momentos ocorria com os cristãos, por exemplo), embora com eventuais episódios de repressão religiosa como foi imperador ariano Valente que perseguiu os cristãos católicos.
No entanto, havia uma intensa luta social e ideológica entre defensores do cristianismo (e suas muitas subdivisões), paganismo e várias outras fés dentro do Império Romano com projetos políticos sociais, ambições e interesses distintos. À medida que avançava o século IV as elites cristãs ganhavam mais poder e se estruturavam melhor como poder (a estrutura dos bispados e dos patriarcados era moldada na estrutura e prática administrativa do estado romano), as altas autoridades estabelecidas cristãs (o papa romano e os patriarcas orientais) era reconhecidas e respeitadas pelo governo romano, havia uma refinada intelectualidade cristã nessa época (Santo Atanásio, Eusébio de Cesareia, Santo Ambrósio, os padres Capadócios, São João Crisóstomo são alguns exemplos) que não rejeitavam a herança da filosofia greco-romana, mas a usavam para sofisticar a religião cristã e os altos contatos com a corte, as famílias imperiais e altas autoridades da administração e do exército romano fez com que o cristianismo adquirisse uma força que somente o paganismo greco-romano havia tido no passado. Por fim, um imperador romano, Valente que era cristão ariano, foi derrotado e morto por um povo cristão ariano rebelado contra os abusos cometidos contra eles pelo estado romano na batalha de Adrianopla (atual Edirne na parte europeia da Turquia) em 379: os visigodos. Esse último fato também teve forte impacto na política de Teodósio I de promoção do catolicismo que culminou no Édito de Tessalônica de 391.