Quais as contribuições?

História História Geral Ensino Médio

Quais as contribuições da ciência política na análise deste filme? O filme é Uma História de Amor e Fúria.

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Mari perguntou há 3 anos

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Professor Enzo S.
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Respondeu há 3 anos

A ciência política (sendo esse um termo bem genérico para simbolizar uma relação entre variadas áreas do saber, que perpassam as Ciências Sociais, a História, a Sociologia e, até mesmo a Filosofia) tende a desenvolver uma análise bem interessante com relação a variados momentos históricos atravessados pelo protagonista, que tem a capacidade de morrer e ressurgir, sempre cruzando o caminho trilhado pela sua amada a cada reencarnação.

Em primeiro lugar, podemos estabelecer certo contato com a temática da dominação e do extermínio de indígenas por europeus (que se estende até os dias atuais). Ora, a história inicia com o massacre das comunidades tupinambás, que se caracterizavam como as mais "estranhas" ao olhar do europeu, tendo em vista o ritual de antropofagia praticado pelas mesmas. Dessa forma, até mesmo pela representação, os indígenas são demarcados pelo olhar do "outro", aquele que é diferente do europeu. Consequentemente, também poderíamos dar início à discussão sobre a demarcação de terras indígenas, cuja problemática se estende até os dias atuais.

Passando para a nova reencarnação, o indígena Abeguar, dessa vez, se apresenta como Manuel, futuro líder da Balaiada, revolta ocorrida no Maranhão, na primeira metade do século XIX. Dessa vez, as questões que aparecem são mais sociais e políticas do que étnicas, tendo em vista que observamos tanto a submissão das mulheres por parte dos homens (vide o estupro acometido contra uma das filhas de Manuel) quanto das camadas sociais mais baixas que compõem a sociedade maranhense, que decidem se revoltar em decorrência da dominação policial recorrente. Assim, é interessante como, analisando socialmente e politicamente as condições nas quais se encontra o personagem principal, podemos analisar as mesmas questões dispostas no século XIX por uma ótica do século XXI, já que muitos dos problemas aqui vistos ainda são presenciados na atualidade. Ao mesmo tempo, nos faz questionar a imagem produzida sobre certos agentes políticos como os cangaceiros como sendo "vilões" ou "inimigos", que nada mais eram do que indivíduos pobres geralmente submetidos pelo poder policial nordestino local. Apesar dos crimes, violências e males cometidos pelo grupo liderado por Virgulino (vulgo "Lampião"), a discussão aparenta ser ainda mais complexa.

A terceira ressureição de Abeguar, dessa vez no corpo de Cau, se inicia em 1968, geralmente considerado um dos períodos de maior opressão por parte do governo militar de Costa e Silva. Aqui, observamos não só a reação do povo à um governo opressor como também a sua organização política para combatê-lo. Nesse sentido, é interessante observar o cidadão aqui como um agente político que, ao longo da formação do Estado brasileiro, foi adquirindo cada vez mais noção da importância de sua participação socio-política, tendo em vista que o Estado nem sempre provê e/ou é justo para com aqueles que deveriam ser protegidos por ele. A certo nível filosófico, também poderíamos pensar se o ato de Cau foi correto ou não ao delatar todo o grupo militante do qual participava para proteger sua amada, mas não irei desenvolver mais essa questão para que não estenda demais a resposta.

Por fim, renascendo em um futuro distópico tal como o de "1986", de George Orwell, Abeguar (desta vez, "JC") mostra-se estarrecido por se encontrar em um mundo onde a limpeza e distribuição de água foi monopolizada por uma empresa. O preço do produto, por sua vez, era tão elevado que tornava impossível para camadas mais baixas adquiri-lo, obrigando-as a consumir água suja e não encanada. Nesse momento, foi a primeira vez que vemos Abeguar obtendo certo sucesso em salvar sua amada da morte e conquistando êxito em sua tentativa de ajudar o restante da população que o circunda. Com as seguintes frases: "O passado é o que está acontecendo agora. A cada dia que passa, uma nova página é escrita com histórias de amor e fúria. Viver sem conhecer o passado é viver no escuro", Abeguar mais uma vez mergulha no desconhecido e se torna um pássaro.

A moral do filme não deixa de "puxar a sardinha" para a ciência historiográfica, já que uma das premissas mais importantes que lhe servem de base e que comprovam sua importância é a de que devemos estudar o passado de forma a compreender o nosso presente completamente. Consequentemente, a História serviria para compreendermos o mundo onde vivemos e quem somos, além de nos servir como "bússola" para nossas ações, por mais que, como mostrado pelo filme, a história tenda a parecer em alguns momentos repetitiva, cíclica. Assim, sendo uma história complexa e bem heterogênea, Uma história de amor e fúria é um título de duplo significado, já que remete tanto à história de Abeguar quanto à história da própria humanidade. Trazendo variadas temáticas interessantes a serem estudadas pelas variadas ciências políticas, o longa necessita de ser estudado cuidadosamente.

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