Professor
José J.
Respondeu há 4 anos
Conceito desenvolvido em 1940 pelo antropólogo cubano Fernando Ortiz para explicar os processos de assimilação dos escravos africanos dentro da sociedade colonial escravocrata cubana, a transculturação ocorre quando indivíduos de uma coletividade recebem aportes culturais de uma outra no qual substitui a sua de um modo mais ou menos completo. Isto ocorre gradualmente e se dá tanto em processos de dominação colonial e nacional como por meio de migração de um povo a outro território ou na fusão de grupos étnicos em determinado contexto histórico. Nesse processo, um elemento central da transculturação é a substituição da língua do povo transculturado como ocorreu com os escravos africanos em Cuba ou no Brasil (existem exceções) ou os irlandeses diante da dominação inglesa, especialmente no século XIX. Essa mudança linguística pode levar a uma maior identificação do grupo transculturado com aquele que alterou a sua cultura ou, ao menos, aproxima-los. Ortiz também se refere à dominação espanhola sobre os tainos de Cuba como uma transculturação fracassada, pois estas populações acabaram desaparecendo como resultado dos muitos choques que sofreram por conta da conquista e colonização (biológico, destruição de sua fé e cosmovisão pela derrota militar e conversão forçada ao cristianismo, à destruição de sua ordem social e a degradação física e social de suas classes dirigentes, a violência da exploração econômica a que foram submetidos e a crueldade cotidiana dos colonizadores espanhóis.
Há casos no qual ela ocorre com poucos ou nenhum conflito como quando filhos de imigrantes bem instalados adotam a cultura e língua do país onde nasceram. Esse processo tende a ser de longo prazo, mas também pode se dar em uma geração dependendo da conjuntura histórica em que ocorre. A ideia de transculturação é usada também para se referir a fenômenos como a assimilação da cultura de um povo conquistado por um conquistador que a vê como superior criando uma nova realidade cultura no qual as diferenças entre as duas culturas anteriores desaparece ou se torna menor. O afrancesamento dos conquistadores vikings (até na língua) na região da Normandia, norte da França, seria um exemplo extremo desse processo. A assimilação da cultura grega pelos romanos, que não implicou a perda do idioma e da identidade étnica é um exemplo menos extremo de aculturação. Um ainda menos extremo e onde a transculturação foi de ambos os lados é a absorção da cultura persa pelos árabes depois da conquista realizada pelos últimos no século VII d.c. Aqui ambos mantiveram sua identidade étnica de forma bem definida, mas os árabes absorveram muito da cultura, sistema de governo e civilização dos persas e um rico vocabulário de sua língua. Por outro lado os persas assimilaram sua religião (o islamismo), seu alfabeto (adaptado para transcrever os sons de sua língua) e usaram o árabe como língua erudita junto com o persa. Todos o três processos apresentados foram marcados por tensões também.
Já o termo aculturação foi criado por antropólogos norte-americanos para designar fenômenos observados em uma sociedade quando sua cultura é levada a incorporar elementos de outras, geralmente por meio de dominação militar, econômica e social. Porém, há outros estudiosos que afirmam ser a aculturação proveniente do contato entre duas culturas e não somente quando uma se sobrepõe a outra. Essa última visão é minoritária entre os estudiosos das ciências sociais. Atualmente o grande e maior exemplo de aculturação esta se dando com a globalização comandada pelo império anglo-americano no qual todas as culturas do planeta estão sofrendo uma pressão maior ou menor da cultura ocidental na sua vertente anglo-americana e da língua inglesa.
Não há uma clara diferenciação entre os dois conceitos. Aculturação é frequentemente usado num sentido negativo, embora estudiosos como Gilberto Freyre (autor de Casa Grande e Senzala de 1933) o usassem num sentido positivo.