Diante das regras de ênclise, próclise e mesóclise, tenho dúvidas nas seguintes frases: 1) "O conhecimento (se) caracteriza(-se) pela busca por soluções" - Nesse caso, não há nada que atraia o "se" para antes do verbo, mas também não há regra que diga que ele tem que ficar após o verbo. Qual é a opção correta? 2) "Outra particularidade é que a oração (se) encontra(-se) na voz passiva" - o "que" antes de "a oração" tem precedência para atrair o "se" para antes do verbo?
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Romildo, excelente pergunta. Não há consenso entre professores, gramáticos etc., mas o uso consagrou o uso enclítico de pronomes no português brasileiro. Em 1, na linguagem comum no Brasil, é mais usada a próclise, já em Portugal, a ênclise. Ambas estão "corretas", são adequadas: O conhecimento se caracteriza / caracteriza-se. A gramática diz que, quando há palavras atrativas, deve ocorrer a próclise. Veja o que diz o professor Dílson Catarino, na Folha online: " Colocação do pronome antes do verbo (Próclise): Na língua portuguesa culta só ocorrerá a próclise quando houver uma palavra atrativa antes do verbo. Veja quais são elas.
Certamente você está pensando "Caramba! Vou ter que memorizar tudo isso?" Na verdade, não, pois, no Brasil, a gramática moderna traz o seguinte: Usa-se próclise em qualquer circunstância, menos quando o pronome estiver no início do período. O uso da próclise, portanto, é permitido com ou sem palavra atrativa, a não ser no início do período. Por exemplo, uma frase sem elemento atrativo: "Ela dedicou-se aos filhos" ou "Ela se dedicou aos filhos".
Em 2, tem-se o mesmo caso, uma vez que o pronome "se" não está imediatamente colocado após o pronome relativo "que", então são possíveis: "é que a oração se encontra / encontra-se. Mas: "é que se encontra na voz passiva, a oração."
Veja estas conclusões, de um trabalho de pesquisa da profa. Maria da Conceição Silva: "Com estes resultados, pude constatar que a colocação dos clíticos em relação ao verbo no texto escrito, na região de Juazeiro, Bahia, encontra-se em variação, na maioria dos contextos analisados, além de ser raro o emprego dos clíticos na posição intraverbal (mesóclise), sinalizando a tendência ao desaparecimento desta colocação dos clíticos nos textos escritos regionais. Esse fato indica mudança em curso e um conseqüente distanciamento do quadro de pronomes oblíquos apresentados pela GT.
Esses fatos prenunciam alterações na sintaxe dos clíticos pronominais, considerando a tendência generalizada à colocação pré-verbal e a diminuição da colocação pós-verbal ou ênclise, como conseqüência do não atendimento, em alguns casos, às regras da GT, aproximando-se do que ocorre na fala.
A constatação desses resultados sugere que já não é tão discriminado o uso dos pronomes oblíquos no texto escrito em posições não prescritas pela GT. É provável que um texto escrito que utilize a colocação intraverbal dos clíticos (mesóclise) cause estranheza, por apresentar um uso incomum da colocação pronominal." http://www.leffa.pro.br/tela4/Textos/Textos/Anais/ECLAE_II/a%20varia%C3%A7%C3%A3o%20na%20posi%C3%A7%C3%A3o/principal.htm
A variação existente na colocação dos clíticos no texto escrito, possivelmente seja resultante da interferência do ensino da língua na escola, que ainda encontrar-se voltado para o padrão do português europeu. É necessário que as escolas reflitam sobre o ensino da língua, principalmente sobre a colocação dos clíticos no texto escrito, na perspectiva de um ensino mais próximo da realidade linguística atual, o que não se configuraria erro, mas uma sintonia com o que é o padrão lingüístico do português brasileiro hoje.
Espero ter ajudado. At.te, prof. Miguel Augusto Ribeiro.
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