Primeira geração
Cita-se como marco introdutório do Romantismo, a obra “Suspiros poéticos e saudades”, de Gonçalves de Magalhães, publicada em 1836. Contudo, foi Gonçalves Dias o consolidador da fase em questão. Fase esta conhecida como geração nacionalista ou indianista, visto que além de priorizar a figura do índio, concebido como representante da nacionalidade brasileira, procurou exaltar também a natureza, o sentimentalismo e a religiosidade. Assim, sua obra compreende a lírica sentimental e a lírica de inspiração nacionalista. Podemos citar “Primeiros cantos”, representando a lírica indianista, na qual o índio vive em perfeita comunhão com a natureza que, de acordo com as ideias de Rousseau, é elemento fundamental para a construção de sua personalidade. Outros poemas, também de sua autoria, ressoam traços do gênero épico, como é o caso de “I – Juca Pirama” e “Os Timbiras”. No que se refere à linguagem, dizemos que esta revela a habilidade do artista em lidar com vários ritmos, versos e formas de composição distintas. Elementos estes tão bem representados (apenas em alguns fragmentos) no poema a seguir:
Canção do Tamoio
(Natalícia)
I
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.
II
Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.
III
O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!
[...]
Quanto à lírica sentimental, comumente Gonçalves Dias retrata temas relacionados ao amor, saudade, natureza, religiosidade, revelados sob uma aguçada sensibilidade – característica determinante do artista.
Se se morre de amor!
Se se morre de amor! — Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entre os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n'alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve, e no que vê prazer alcança!
Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d'amor arrebatar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delírio,
Devaneio, ilusão, que se esvaece
Ao som final da orquestra, ao derradeiro
[...]
Segunda geração
Sucedendo o período de afirmação do Romantismo brasileiro (compreendido entre os anos de 1830 – 1840), a poesia passa a tomar novos rumos com o surgimento de uma nova tendência – denominada de ultrarromântica. Esta, por sua vez, foi demarcada por um intenso subjetivismo, o qual se transformou em egocentrismo, tendo como consequência um sentimento demarcado por um extremo pessimismo e melancolia. Tal aspecto resultava tão somente num desejo de fuga da realidade, obtendo muitas vezes a morte como forma de revelar este escapismo.
Tamanha morbidez é resultante de Satã (caracterizado como o demônio) – símbolo revelador dos valores cultivados pelos ultrarromânticos – manifestados pela loucura, pelo desejo de se entregar à bebida, às drogas, ao tédio e, sobretudo à doença – revelada pela tísica, na época conhecida como tuberculose, chegando a matar muitas pessoas. Por esta razão, a fase em voga é também conhecida como o mal do século.
Familiarizados com tais características, atemo-nos aos dizeres daquele que foi um dos principais representantes – Álvares de Azevedo:
Pálida Inocência
Por que, pálida inocência,
Os olhos teus em dormência
A medo lanças em mim?
No aperto de minha mão
Que sonho do coração
Tremeu-te os seios assim?
E tuas falas divinas
Em que amor lânguida afinas
Em que lânguido sonhar?
E dormindo sem receio
Por que geme no teu seio
Ansioso suspirar?
Inocência! quem dissera
De tua azul primavera
As tuas brisas de amor!
Oh! quem teus lábios sentira
E que trêmulo te abrira
Dos sonhos a tua flor!
Quem te dera a esperança
De tua alma de criança,
Que perfuma teu dormir!
Quem dos sonhos te acordasse,
Que num beijo t'embalasse
Desmaiada no sentir!
[...]
Ao analisá-los, percebemos que a figura da mulher (traço marcante da era em questão), é concebida como algo inatingível: por mais que o poeta a deseje, jamais terá condições de concretizar este intento, haja vista que, para ele, ela representa uma figura divinal.
Terceira geração
As manifestações artísticas que integraram esta fase são de cunho social e político, funcionando como uma espécie de denúncia das mazelas da própria sociedade então vigente. À luz dos acontecimentos, Castro Alves foi quem mais se destacou, uma vez influenciado pelas ideias do escritor Victor Hugo. Os autores não procuravam mais fugir da realidade, mas sim enfrentá-la e modificá-la. A poesia dessa época é também conhecida como condoreira, fazendo alusão ao condor, uma ave com capacidade de alcançar grandes voos – expressando a liberdade, entendida sob todos os aspectos. Vejamos, pois, o que tem a nos dizer Castro Alves em uma de suas criações:
Navio Negreiro
[...]
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...
[...]
Ao nos atermos aos versos: A vontade por poder... Hoje... cúm'lo de maldade, Nem são livres p'ra morrer. . Prende-os a mesma corrente, percebemos que o poeta expressa de forma singular sua indignação mediante a realidade social, sobretudo, ao se referir à escravidão negra no Brasil.