Na verdade, o mestre fitava-nos. Como era mais severo para o filho, buscava-o muitas vezes com os olhos, para traze-los mais aperreado. Mas nós também éramos finos, metendo o nariz no livro, e continuamos a ler. Afinal,cansou e tomou as folhas dos dia, três ou quatro, que ele lia devagar, mastigando as ideias e paixões. Não esqueçam que estávamos então no fim da Regência, e que era grande a agitação pública. Policarpo tinha, decerto, algum partido, mas nunca pude averiguar esse ponto. O pior que ele podia ter, para nós, era a palmatória. E essa lá estava, pendurada no portal da janela, à direita, com seus cinco olhos de diabo. Era só levantar a mão, despendurá-la e brandi-la, com a força do costume, que não era pouca. E daí, pode ser que, alguma vez, as paixões políticas dominassem nele a ponto de poupar nos uma ou outra correção...
Estendi-lhe a mão direita, depois a esquerda, e fui recebendo os bolos uns por cima dos outros, até completar doze, que me deixaram as palmas vermelhas e inchadas. Acabou, pregou-nos outro sermão. Chamou-nos sem vergonhas, desaforados, e jurou que, se repetissemos o negócio, apanharíamos tal castigo que nos havíamos de lembrar para todo o sempre. (contos de escola - Machado de Assis)
Alternativas em azul
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