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em 09 de Maio de 2025
O gás de folhelho, conhecido internacionalmente como shale gas, tem ganhado destaque como uma importante fonte de energia não convencional, capaz de transformar mercados energéticos. Nos Estados Unidos, sua exploração em larga escala já revolucionou o setor, reduzindo custos e impulsionando a economia. No Brasil, sejam estimadas reservas significativas, o desenvolvimento dessa alternativa ainda enfrenta desafios técnicos, ambientais e regulatórios que precisam ser cuidadosamente avaliados.
Trata-se de um gás natural retido em formações rochosas de baixa permeabilidade, o que exige técnicas avançadas para sua extração, como o fraturamento hidráulico (fracking) e a perfuração horizontal. Esses métodos permitem acessar o gás preso nas rochas, mas também trazem consigo questões complexas que vêm sendo amplamente debatidas em todo o mundo.
No cenário global, os Estados Unidos se consolidaram como o maior produtor, com uma impressionante produção de 827 bilhões de metros cúbicos em 2020. Outros países, como Argentina, China e Canadá, também têm investido fortemente nessa fonte energética, especialmente na reserva de Vaca Muerta, na Argentina, que se destaca como uma das mais promissoras do mundo.
O Brasil ocupa a 10ª posição no ranking de reservas técnicas recuperáveis, com cerca de 6,9 trilhões de metros cúbicos de gás de folhelho, principalmente nas bacias sedimentares do Parnaíba, Paraná, Solimões e Amazonas. No entanto, a exploração comercial ainda é incipiente, enfrentando obstáculos que vão desde a complexidade geológica até a resistência de grupos ambientalistas.
Um dos principais desafios é o impacto ambiental associado ao fracking. A técnica, embora eficiente, demanda grandes volumes de água – entre 15 e 20 milhões de litros por poço – e traz riscos como a possível contaminação de aquíferos e a indução de microsismos. Essas preocupações levaram alguns estados, como o Paraná, a proibir a prática por meio de legislação específica, visando proteger reservas estratégicas como o Aquífero Guarani.
Apesar dos desafios, o gás de folhelho apresenta oportunidades relevantes para o Brasil. Sua exploração poderia reduzir a dependência de importações de gás natural, gerar empregos especializados e impulsionar o desenvolvimento regional. Além disso, como fonte mais limpa que o carvão e o petróleo, poderia contribuir para uma transição energética mais sustentável.
Para que esse potencial seja aproveitado de forma responsável, no entanto, será necessário investir em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, estabelecer um marco regulatório claro e seguro, e promover o diálogo entre governo, indústria e sociedade. O equilíbrio entre crescimento econômico e preservação ambiental será fundamental para definir o futuro dessa fonte energética no país.
Em síntese, o gás de folhelho representa uma alternativa energética promissora para o Brasil, mas seu desenvolvimento deve ser conduzido com cautela, priorizando a sustentabilidade e o bem-estar das gerações presentes e futuras. A construção de um modelo que concilie progresso e responsabilidade ambiental será essencial para que o país possa se beneficiar plenamente desse recurso.
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Fontes
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