A felicidade como proposta de movimento

A FELICIDADE COMO PROPOSTA DE MOVIMENTO

#Salmo1 

              Feliz o homem que não andou conforme o plano dos perversos, não se colocou de pé no caminho dos pecadores e não se sentou no assento dos zombadores. 

                     Pelo contrário, seu apreço é pela instrução do Senhor; dia e noite sussurra a instrução dele. 

                     Será como uma árvore plantada junto a canais de água, que dá seu fruto a seu tempo e cuja folhagem não murcha. Tudo que faz terá êxito. 

                     Não são assim os perversos; pelo contrário, são como o debulho que o vento dispersa. 

                     Por isso, os perversos não se levantarão no julgamento, nem os pecadores na comunidade dos justos. 

                     Porque o Senhor conhece o caminho dos justos; o caminho dos perversos, porém, perecerá. 

Reflexão 

             Este Salmo inicia-se com uma expressão que é o emblema da busca incansável do ser humano: a felicidade.  Ser feliz, na compreensão dos nossos conceitos, parece estar muito conectado com pontos de chegada, ou seja, os resultados de conquistas que ansiamos na existência. Porém, a medida que alcançamos nossos objetivos, o que de fato experimentamos são nossas insatisfações, ou melhor, infelicidade. 

                   Aqui o autor nos propõe outra dinâmica de interpretação da vida. O termo feliz, descrito nesse texto pelo autor, não é um adjetivo, mas um verbo, que sua raiz no hebraico significa andar (  rva ). No primeiro momento parece não ter nenhuma relação, porém, o exercício aqui é compreender que felicidade não é um lugar onde se chega, não são metas alcançadas; felicidade é um jeito de caminhar. Somos felizes a medida que caminhamos. 

                  Uma das maneiras pelas quais a felicidade faz parte da nossa caminhada, estar diretamente associado a nossa capacidade de dizermos não; é feliz quem aprendeu na trilha da vida a dizer não a certos planos, caminhos e assentos.  Felicidade é saborear escolhas, uma realidade que faz parte de nossa responsabilidade individual; o homem feliz nesse salmo inicia o processo da caminhada sozinho, decide sua vida na solidão de suas responsabilidades, frente a um grupo de perversos, pecadores e zombadores; até que o êxito de sua vida seja estar em comunidade; uma comunidade de justos. 

               Nosso desafio hoje, na empreitada da vida em sermos felizes, estar em não pararmos; minha proposta está em traduzirmos o início deste Salmo como: caminha feliz o homem…é feliz porque entendeu que a vida é feita de movimento. A primeira palavra do Salmo é feliz (andar), a última é perecer (parar), essa realidade antagônica que a vida nos propõe; paralisar ante as propostas destruidoras no caminho ou caminhar. 

                  Michel de Certeau escreveu: “É místico aquele ou aquela que não pode deixar de caminhar”; eu trocaria para ilustrar nossa reflexão, “místico” por “feliz”; “É feliz aquele ou aquela que não pode deixar de caminhar". 

Eliabe Simplicio