Historiografia

Introdução

​A concepção de trabalho como conhecemos atualmente não reflete totalmente o conceito desse termo ao longo da história da humanidade, visto que, ao passo que as comunidades foram se desenvolvendo, a elaboração de novos conceitos, hábitos e formas de se comunicar e desempenhar atividades, sejam elas laborais ou de lazer.

​É certo que o trabalho é tão antigo quanto o homem, sendo em todo o período da pré-história, o homem é conduzido, direta e amargamente, pela necessidade de satisfazer a fome e assegurar sua defesa pessoal, onde o mesmo caça, pesca e luta contra o meio físico, contra os animais e contra os seus semelhantes, tendo como instrumento as suas próprias mãos.

​De modo geral, quando vamos pesquisar obras acerca da historiografia do trabalho, muito se fala acerca dos sistemas de trabalho no decorrer da história humana. Nesse aspecto, tais mudanças no decorrer da história demonstram que o trabalho não modificou a sua estrutura apenas no que se refere a sua compreensão e execução, mas também produziu consequências ligadas a como a sociedade ressignifica(ou) os seus paradigmas sociais.

​Assim, para que se compreenda o significado do termo em conformidade com o período histórico em que ele está inserido, é necessário que se entenda o valor que o ser humano atribuiu para o mesmo em cada momento da história de nossa espécie.

​Assim, o presente texto objetiva destrinchar as formas e modelos de trabalho ao longo da história, traçando uma linha histórica, que percorrerá os conceitos ligados à temática que foram veiculados pelos  povos antigos, bem como durante a idade média e américa espanhola.

Historiografia e Noções de Trabalho

É certo que a ideia de trabalho passou por diversas mudanças ao longo do tempo. Nesse contexto, é importante salientar que o conceito de   trabalho  deriva  do  latim  "tripliquem ou triplos",  uma  ferramenta  de  três  pernas  que imobilizava  cavalos  e  bois  para  serem  ferrados. De forma curiosa, o termo também era usado para denominar um instrumento  de  tortura  usado  contra  escravos  e  presos,  que  originou  o  verbo triplicarem cujo primeiro significado era "torturar".  

E é a partir desse conceito que os  povos  de  gregos e romanos encaram o trabalho como uma resposta direta à existência de uma necessidade humana, sendo as atividades criativas reservadas aos cidadãos da polis e elites, ao passo que o  trabalho braçal ou penoso era destinado para os escravos. Assim, tendo em vista que a sociedade grecoromana tinha sua economia baseada  na exploração de mão de obra escrava para o exercício de atividades de agricultura e comércio, os povos da antiguidade solidificaram essa definição de trabalho e a utilizaram de forma consistente no desenvolvimento de suas comunidades.

Para elucidar melhor o conceito de trabalho para a antiguidade, cita-se a seguinte fala de Aristóteles:

A melhor forma de cidade não deverá admitir os artífices como se  fossem  cidadãos;  mas  se  forem  admitidos,  então  nossa definição  de  virtude  não  se  aplicará  a  todo  cidadão  e  homem livre, mas apenas aos cidadãos isentos das atividades servis.

Já na idade média, o trabalho, influenciado, principalmente pelo cristianismo medieval, era considerado com um sofrimento necessário para alcançar o céu, de modo que, tendo em vista que nesse período histórico a economia do medievo ocidental era baseada a partir do feudalismo, as atividades do camponês, que trabalhava nas atividades de agricultura para sustento familiar e produção para os senhores feudais, e dos artesãos, que se dedicavam a produção de manufaturas.

Dando um salto no tempo para a américa espanhola,  visto que com a chegada dos espanhóis, houve uma remodelação do trabalho já existente a fim de suprir as necessidades criadas pelos europeus, assim, se até aquele momento a economia indigena se baseava na agricultura voltada para o próprio sustento, a partir dali a mesma passou a ser baseada na instituição exploradora. Nesse cenário, os indígenas ainda mantinham sua liberdade, contudo, eram submetidos a um regime severo de trabalho em prol dos europeus.

Sob essa ótica, importante ainda tecer comentários acerca da mentalidade dos indígenas quanto ao trabalho, visto que, os mesmos já estavam acostumados ao trabalho compulsório, isso somado às crenças indígenas, favoreceram o sucesso dos espanhóis na utilização da mão de obra ameríndia na formação de colônias no novo mundo.

Como é perceptível, em todos os tempos históricos apresentados, a concepção de trabalho baseava-se na submissão de um grupo em decorrência de outro, seja em decorrência da superioridade de forças, como por exemplo ocorria na Grécia e Roma antiga, onde os prisioneiros de guerra, geralmente, tornavam-se escravos, seja pela superioridade econômica, como é o caso da idade média ocidental, onde a nobreza e os senhores feudais por serem proprietários de terras, conseguiam fazer com que os vassalos trabalhassem em seu lugar e produzissem para eles.