Minha primeira escola de inglês foram os CDs da Spice Girls.Tinha dez anos quando ganhei aquela preciosidade de presente: de capa branca e com letras coloridas. O encarte se desfez, tamanha era minha avidez por entender o que minhas ídolas cantavam. Minha irmã mais velha ficava surpresa com minha habilidade em reproduzir as canções sem dificuldade. A curiosidade não deixava com que eu apenas escutasse as músicas e repetisse numa língua inventada. Eu queria saber o que estava cantando e ser capaz de cantar junto com meu amado quinteto de Londres (inclusive a Shakira me ensinou quase tudo que …
Minha primeira escola de inglês foram os CDs da Spice Girls.Tinha dez anos quando ganhei aquela preciosidade de presente: de capa branca e com letras coloridas. O encarte se desfez, tamanha era minha avidez por entender o que minhas ídolas cantavam. Minha irmã mais velha ficava surpresa com minha habilidade em reproduzir as canções sem dificuldade. A curiosidade não deixava com que eu apenas escutasse as músicas e repetisse numa língua inventada. Eu queria saber o que estava cantando e ser capaz de cantar junto com meu amado quinteto de Londres (inclusive a Shakira me ensinou quase tudo que sei de espanhol. Mas isso é outra história).
O tempo foi passando e eu nunca abandonei minha prática. Muitas vezes comprava revistas com as letras das músicas que tocavam no rádio e eu gravava em minhas fitas cassete (alô, galera da década de 80). Com o tempo, a internet veio e me auxiliou nessa busca e eu transcrevia as letras preferidas em meu caderno. Hoje consigo enxergar que essa prática foi tornando o inglês algo mais natural para mim. Por volta dos treze anos, como grande parte das pessoas de minha idade e de classe média no Brasil, escutava que para “crescer na vida” eu precisava fazer um cursinho de inglês. Minha vó tratou de patrocinar o feito e lá fui eu aprender formalmente o que já vinha fazendo por hobby. Nunca tive muita dificuldade, aprender inglês sempre foi algo muito fluido para mim e achei que era assim para todos. Mas, com o tempo, fui percebendo que não necessariamente.
Aos 18 anos, chegou a temida fase de escolher o que fazer em seguida. Meus inúmeros interesses demonstravam a dificuldade: Astronomia, Letras, Serviço Social, Tradução, Psicologia, Administração, Relações Internacionais. O que eu tinha certeza era que eu precisava conhecer mais sobre o mundo fora de minha cidade natal: Campos dos Goytacazes. Decidi fazer um intercâmbio para os Estados Unidos. Me lembro bem do dia em que recebi no meu curso de inglês a propaganda do programa: “Seja uma Au Pair nos Estados Unidos!”. Assim iniciou-se minha primeira aventura internacional (Isso também daria uma outra história).
Ao retornar para o Brasil decidi estudar Relações Internacionais. Durante o curso, o inglês me abriu outros mundos. Pude ter acesso a diversos autores e teorias ainda não publicados no Brasil. Consegui um estágio numa multinacional por conta de, vejam só, ele mesmo. Minha redação em inglês foi eleita a melhor entre todos os candidatos. Ainda durante a faculdade, tive oportunidade de fazer uma viagem de estudos para Israel e Palestina. Nem preciso dizer que essa viagem mudou a minha vida. O mundo ia ficando cada vez maior e menor ao mesmo tempo. Maior, pois eu chegava a lugares antes que nem imaginava possíveis. E menor, justamente pelo mesmo motivo.
Fui galgando meu espaço dentro do meio corporativo e, com isso, consegui realizar o sonho de conhecer diversos lugares.
Hoje, olhando em retrospecto, vejo que o mundo passou a ser uma possibilidade para mim desde muito nova, pois eu não sentia dificuldade em me comunicar na chamada “língua universal”. O inglês pautou, e ainda pauta, grande parte de minhas decisões da vida jovem e adulta. Ainda que ele não fosse o objetivo principal, por ser capaz de me comunicar através dele, eu pude fazer escolhas alinhadas com minha sede de viver o novo. E, após um período de reflexão e planejamento, foi essa sede que me fez decidir pedir demissão em 2015 e explorar meu lado nato de internacionalista. Naquele momento eu ainda reunia pistas do meu quebra cabeça. Passei um mês na Universidade de Maastricht na Holanda estudando Comunicação Intercultural. Fiz amigos da China, Índia, Espanha, México, Estados Unidos e Colômbia. Aquele ambiente tão diverso me fez chegar à conclusões sobre a natureza humana, seus questionamentos e ambições em comum e, ao mesmo tempo, suas mais diversas facetas. Precisava exercer empatia diariamente para evitar pré-julgamentos e me colocar no lugar do outro. Reafirmei minhas ideias de que quando saímos de nosso ambiente natural temos oportunidade de investigar padrões de comportamento e expandir nossa mente. Percebi também que, no final das contas, aprendemos também sobre nossa própria cultura e nós mesmos. E o inglês mais uma vez rompeu diversas fronteiras, dentro e fora da minha mente.
Em 2016 continuei minha trajetória de investigação e retornei a minha cidade natal. Chegando lá, me perguntei o que eu sabia fazer e que poderia compartilhar. Sim, o que eu sabia era inglês. Me coloquei em movimento e fui batendo de porta em porta em todas as escolas de idiomas da cidade. Acabei sendo selecionada pela mesma escola na qual eu havia estudado inglês quando adolescente. Ao mesmo tempo, fui indicada para dar aulas particulares para uma professora de sociologia que se preparava para um doutorado no Canadá. Na escola de idiomas lecionava para turmas de todas as faixas etárias: crianças abaixo de 8 anos, adolescentes e adultos. Essa experiência com públicos e metodologias tão distintos me fez chegar àlgumas conclusões: os métodos da escola eram não apenas ultrapassados como desinteressantes e ineficazes. Me frustrava enormemente não poder conseguir conversar particularmente com os alunos que estavam tendo dificuldades. Não havia tempo, pois os professores frequentemente davam aulas em turmas seguidas. Por outro lado, minha experiência com a aluna particular foi incrível. Preparava aulas focadas nos assuntos do interesse dela, conversávamos muito em inglês e pude acompanhar o avanço dela. Era extremamente gratificante.
Até que após uma sucessiva séries de acontecimentos em 2017 retornei ao Rio e ao mercado corporativo. Havia sido indicada para uma vaga e a saudade da cidade maravilhosa me fez aceitar a oportunidade. Trabalharia em conjunto com um expatriado escocês que não falava uma palavra em português e precisava de alguémcom quem conseguisse se comunicar. Como ele próprio dizia fazendo piada com seu sotaque, ele não fala inglês e sim escocês! Bem, eu não queria perder meu contato com o ensino do inglês e, em paralelo, era voluntária em dois projetos como teacher. Um deles era dentro da empresa na qual eu trabalhava. Uma vez por semana, no horário do almoço, ministrava aulas para colaboradores terceirizados que não tinham possibilidade de arcar com o curso. Como eu me divirtia naquela aula! E quando meus alunos conseguiam produzir textos e lê-los em inglês eu ganhava a semana. Fui percebendo que era o momento mais feliz do meu dia de trabalho. Atuava também numa ONG como volunteacher um sábado por mês.A força de vontade e os sonhos daqueles alunos movia minhas aulas. Muitos acordavam às 4h da manhã num sábado para estar lá, após uma semana exaustiva de trabalho. Com o tempo fui notando que tinha mais vontade de me dedicar aos alunos e às aulas que ao meu próprio trabalho.
Até que no final de 2018 fui transferida para uma outra localidade numa nova posição. Não aguentava mais não ouvir a voz dentro de mim que gritava: sai desse escritório e vá para a sala de aula! A partir daí começou um novo processo até que finalmente pedi demissão e resolvi me dedicar às aulas particulares e em grupo. Dessa vez, com aulas criativas e combinadas com auto-conhecimento, utilizando toda a bagagem que esses anos ricos de aprendizado me trouxeram. Acredito que o inglês pode causar revoluções na vida das pessoas e quero muito ser uma mão nesse processo. Que venham as transformações!