Devido o aumento populacional ter dobrado desde a metade do século passado, o planeta tem sido superexplorado. Florestas estão sendo consumidas de forma assustadora. “Estamos cortando árvores mais rápido do que elas podem rebrotar, convertendo pastagens nativas em desertos por excesso de carga animal, sobrexplorando os aquíferos e secando os rios. Nas áreas cultivadas a erosão empobrece a fertilidade natural dos solos. Estamos pescando mais rápido do que a capacidade de reprodução das espécies. Emitimos CO2 para atmosfera em ritmos mais acelerados do que a capacidade de a natureza absorvê-lo, acentuando o efeito estufa e as mudanças climáticas globais. A degradação dos habitats e as mudanças climáticas promovem a extinção de espécies vivas mais rápido do que suas capacidades de se adaptarem, o que significa que estamos provocando a primeira extinção em massa no planeta desde a que erradicou os dinossauros há 65 milhões de anos.” (WEID, 2009, p.47).
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E O PROCESSO AGRÍCOLA
O atual processo de aquecimento global tem sido acelerado por basicamente duas atividades humanas: a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento. Do total das emissões de gases de efeito estufa (GEE), 18% correspondem aos desmatamentos para fins agrícolas sendo intensificado ainda mais quando considerado os GEE durante o processo de produção do sistema convencional de agricultura. Infelizmente esse impacto tende a crescer nos próximos anos, pois o metano e o óxido nitroso emitido na atmosfera aumentou cerca de 17% de 1990 a 2005. Com o aumento no uso de fertilizantes químicos até 2030 a emissão desses gases aumentará de 35% a 60%.
Um dos setores que mais sofre com o aquecimento global é o modelo de produção agrícola. Temperaturas acima dos 37OC a fotossíntese é reduzida chegando a cair até zero em diversas culturas assim como a absorção de nutrientes também é afetada. Segundo o Instituto Internacional do Arroz, nas Filipinas, durante o desenvolvimento das plantas, 10% da produtividade é reduzida a cada grau a mais na temperatura.
Conforme o Painel Intergovernamental de mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), nas regiões tropicais as produtividades médias cairão em 2020 cerca de 5% a 11%, sendo mais pessimista para o ano de 2050 com quedas de produtividades que chegarão aos 46%.
DEGRADAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS
Desde o final da Segunda Guerra Mundial , aproximadamente 2 bilhões de hectares de solos agricultáveis do mundo foram degradados, ou seja 22,5% do total de 8,7 bilhões de hectares apropriados para as práticas agrícolas. A contaminação nos solos devido o uso de pesticidas e fertilizantes químicos correspondem a 40% da degradação total das terras cultivadas.
Sistemas mecanizados aceleram o processo erosivo dos solos, maquinários pesados intensificam a compactação dos solos e adubos químicos promovem a perturbação da biota dos solos empobrecendo-os.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, sigla em inglês), o uso incorreto de irrigação promove a salinização e encharcamento dos solos, que são responsáveis pela degradação de 13% do total das áreas irrigadas e 33% de áreas parcialmente degradadas no mundo. Nos Estados Unidos a salinização afeta 28% das áreas irrigadas e na China 23%.
Os recursos hídricos também são afetados pela agricultura convencional. Áreas irrigadas consomem aproximadamente 70% de toda água que é utilizada no mundo, ou seja, diminuindo o estoque de águas nos lençóis freáticos comprometendo as nascentes e dependendo da dimensão da perturbação, toda a bacia hidrográfica.
Existem casos conforme algumas regiões do mundo, em que a agricultura necessita dos chamados aquíferos fósseis, com reservatórios abastecidos pela última Era Glacial, porém esses aquíferos não são renováveis, portanto a agricultura nesses locais não são sustentáveis. Exemplos como ocorre no Meio do Oeste americano, o aquífero Ogallala que estende-se por oito estados está com o seu nível em queda de um metro por ano, sendo que em 10 anos esse recurso se esgotará.
Na China o exemplo é o rio Amarelo que devido a superexploração a foz deixou de desembocar águas durante 226 dias no ano de 1997. A degradação do rio Colorado também foi intensa, pois ao ser degradado nos Estados Unidos, ele chega ao México em um filete d´água. A pecuária é grande responsável pelo consumo de água, calculando o uso de 100 vezes mais no consumo de água para a produção de 1Kg de proteína animal comparando com a quantidade 100 vezes menos de água utilizada na produção de 1Kg de proteína vegetal extraída do milho.
A biodiversidade agrícola também é afetada com os métodos convencionais de agricultura.
Essa baixa biodiversidade abala todo sistema agrícola favorecendo o surgimento e desenvolvimento de pragas e com isso a dependência de agrotóxicos. Exemplos da perda de agrobiodiversidade ocorreu na Índia com a cultura de arroz. A modernização promoveu a extinção de cerca de 1.500 variedades de arroz, substituída por apenas dezenas de variedades cultivadas por empresas. Generalizando os fatos calcula-se que 75% da agrobiodiversidade mundial foi extinta durante o século passado.
Segundo a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, ao fim da década de 60, cerca de 70% das plantações de feijão dos estados norte americanos são constituídas basicamente por duas espécies, 72% da cultura de batata empregava 4 variedades e 53% do plantio de algodão utilizava somente três. Analisando os dados em escala global, a atividade agrícola emprega apenas 12 espécies de grãos, 23 de tubérculos e hortaliças e 35 espécies de frutas e nozes. O quadro se agrava quando observamos que somente quatro culturas (milho, soja, trigo e arroz) produzem três quartos da produção de calorias alimentares de todo mundo.
Os transgênicos são uma outra grande ameaça para a agrobiodiversidade, causando efeitos de erosão genética. O investimento de empresas no ramo de transgênicos está comprometendo a agricultura. Estamos refém dessas empresas que ditam o que e como devemos produzir e nos comportar enquanto agricultores e consumidores.
ADUBOS QUÍMICOS
Os adubos químicos foram empregados com a finalidade de provocar um aumento de produtividade em sistemas de baixa agrobiodiversidade. Esses produtos químicos são produzidos com elevado custo em energia fóssil, fósforo e potássio que estão sendo explorados de forma voraz, esgotando muito rápido esses recursos naturais não renováveis. As jazidas de fosfato estão ameaçadas, e seu uso é vital para o sistema convencional de agricultura não podendo ser substituída por outro elemento.
ECONOMIA NA AGRICULTURA CONVENCIONAL
Para muitos, o modelo convencional de agricultura gera riqueza, embora não sobreviveria sem os subsídios concedidos pelo governo, ou seja, pelos contribuintes de impostos. Outro fator não mencionado pela mídia é a externalização de custos, que nada mais é do que associar custos dos impactos na saúde dos trabalhadores expostos aos insumos agroquímicos, custos de assoreamento nos corpos hídricos, custos de descontaminação das águas e tantos outros que também poderiam ser citados.
Com o crescente aumento de pressão sobre os custos citados anteriormente é notável que os subsídios serão mais onerosos até o ponto em que não serão mais viáveis e os preços dos alimentos aumentarão em escala global resultando fome e violência no mundo.
IMPACTOS NA SOCIEDADE PELO MODELO CONVENCIONAL
No Brasil, o modelo de agricultura convencional incentivada pelo regime militar nas décadas de 60 e 70 promoveu o chamado êxodo rural. Trabalhadores rurais perderam seus trabalhos para o sistema de monocultura que, ao invés de empregar pessoas, utilizam máquinas.
O agravante aumento populacional nos centros urbanos devido ao deslocamento desses trabalhadores, intensificou diversos impactos ambientais, sociais e econômicos. Outro fator importante que é perdido nesse processo de urbanização são as culturas tradicionais, que são proprietários de ricos conhecimentos populares sobre as características regionais e biológicas de diversas culturas empregadas principalmente no uso medicinal.
Na Europa o deslocamento dos trabalhadores rurais foi amenizado devido a leis de incentivo da agricultura familiar.
NOVOS MODELOS DE SISTEMA DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Os novos modelos de agricultura deverão recuperar e conservar os recursos naturais renováveis. Reduzir o consumo de água, emitir menos ou até mesmo eliminar a emissão de gases de efeito estufa (GEE). Desenvolver agriculturas alternativas sem aumentar o desmatamento e sem poluir os recursos hídricos.
Produzir alimentos saudáveis e mais diversos e quantidades necessárias para acompanhar o crescimento populacional. Planejamento logístico adequado para diminuir o consumo de energia nos transportes desses alimentos. O consumo de carne bovina terá que ser reduzido, uma vez que a ocupação do solo poderá ser melhor aproveitada produzindo mais proteínas e calorias vegetais.
AGROECOSSISTEMAS
Agroecossistemas são ecossistemas agrícolas que tem como objetivo básico a manipulação dos recursos naturais com vistas a otimizar a captura da energia solar e transferi-la para pessoas na forma de alimentos ou fibras. Além disso, nos agroecossistemas, o homem é um componente ativo, que organiza e gestiona os recursos do sistema (Hecht, 1991 apud in Kozioski & Ciocca 2000).
Constitui um ecossistema diversas formas de vida e fontes de energia que são intimamente conectadas.
AGROECOLOGIA
A agroecologia é uma ciência sugerida na década de 1970, como forma de estabelecer uma base teórica para esses diferentes movimentos de agricultura não- convencional. É uma ciência que busca o entendimento do funcionamento de agroecossistemas complexos, bem como das diferentes interações presentes nestes, tendo como princípio a conservação e a ampliação da biodiversidade dos sistemas agrícolas como base para produzir autorregulação e, consequentemente, sustentabilidade (Assis 2006).
Segundo Altieri (1998), no sistema agroecológico a sustentabilidade na produção provém da diversidade e equilíbrio de plantas, solo, nutrientes, luz solar, umidade e outros organismos.
Desenhos de sistemas produtivos, estudos e analises tem um enfoque científico que permite trabalhar e planejar sistemas agrícolas complexos.
Um dos objetivos básicos da agroecologia é a produção sem agredir o meio ambiente, resgatando conhecimentos tradicinais imensuráveis e se integram com princípios ecológicos, promovendo o biomimetismo.
O sistema de produção agroecológica é um importante instrumento na implementação de estratégias para o cultivo de diversas culturas consorciadas, com baixa dependência de insumos externos, ou seja, a agroecologia atua de forma sustentável.
Os sistemas agroecológicos de produção são, portanto, conservadores dos recursos naturais renováveis e econômico no uso de recursos naturais não renováveis como o petróleo, potássio, fósforo, e outros elementos. Esses fatores contribui para que o balanço energético seja positivo, ao contrário do que ocorre na agricultura convencional.
Estudos afirmam que os métodos agroecológicos substituindo os métodos convencionais, não provocaria queda de produção além de favorecer o sistema agrário para propriedades de pequeno e médio portes. Pesquisas da FAO em 2006, apontou que na hipótese de toda agricultura ser convertida para sistemas agroecológicos a quantidade diária de calorias disponíveis por pessoa seria de 2.786 a 4.381, o suficiente para suprir a necessidade humanas.
Um ótimo exemplo em produtividade em sistema agroecológico no mundo é usado pela sigla em inglês SRI, systems of rice intensification, ou sistemas de intensificação do arroz. Em Madagascar essa experiência chegou a atingir 22 toneladas de arroz por hectare, uma média de 10t/ha. Nem mesmo a produção convencional chegou a essa dimensão.
No que se refere a mão de obra, uma colheitadeira de grande porte substitui o trabalho de 100 homens. Quanto mais avançado é o sistema agroecológico mais limita a mecanização para o manejo, portanto, mais espaços de trabalhos humanos é garantido.
PLANEJAMENTO AGROECOLÓGICO
O primeiro passo para o planejamento agroecológico é analisar as condições do local de plantio. Características ecológicas como os fatores abióticos e bióticos tem que ser considerados. O funcionamento do agroecossistema e o nicho ecológico de cada espécie mantém a estrutura desse sistema, no entanto é fundamental estudar esses comportamentos.
Após essa etapa vem a otimização das condições ambientais como a poda, sombreamento, cobertura do solo, aumento da diversidade, controle de espécies exóticas invasoras, compostagem, entre tantos outras condições.
A minimização de gastos energéticos como sistemas de fácil manejo, proximidade entre os sistemas, produção de adubo no próprio local, construção de cisternas, utilização de materiais locais, etc.
Alguns aspectos a serem considerados no planejamento são as características ecológicas das espécies do local adequado para o plantio, locais de manejo periódico como as hortas e espirais de ervas devem ser próximos e observar ciclos de vida e tempo de colheita das espécies.
A composição do solo é visto como cenário de vida e energia, e não como nas agriculturas convencionais onde o solo é apenas um substrato para a fixação das plantas. O sistema agroecológico enriquece o solo devido ao manejo orgânico, ou seja, o solo é trabalhado de forma natural com métodos de nucelação como os puleiros artificiais, compostagem orgânica, mulch (cobertura do solo), waru-waru que são valas de drenagem e armazenamento de água.
As hortas mandalas aproveitam o espaço para cultivo. Essas hortas são sistemas alternativos de agricultura orgânica com formato circular que facilita a irrigação além de ter mais resistência aos impactos dos ventos e luminosidade excessiva, protegendo às plantas da camada mais interna da horta mandala. Outros formatos de hortas também são expressivas no sistema agroecológico como por exemplo os espirais de ervas e canteiros.
SISTEMAS AGROFLORESTAIS
Os Sistemas Agroflorestais (SAF’s) são formas de uso e manejo dos recursos naturais nas quais espécies lenhosas (árvores, arbustos, palmeiras) são utilizadas em associação deliberada com cultivos agrícolas ou animais no mesmo terreno, de maneira simultânea ou em sequência temporal. (CATIE e OTS - Organizacíon de Estudios Tropicales, 2986 apud in Peneireiro et. al. 2003).
Os SAF´s são definidos pela combinação de árvores com cultivos agrícolas ou pastos otimizando a produção de forma sustentada. Os benefícios gerados por esses sistemas são a biodiversidade e o equilíbrio ecológico, a geração de produtos diferentes em distintos períodos ao longo das estações do ano. A fertilidade do solo também garante a variabilidade genética e a produção de alimentos orgânicos.
O sistema de plantio em rodízio também é uma característica importante em sistemas agroecológicos e agroflorestais, promovendo a diversidade de compostos orgânicos.
biodiversidade e o equilíbrio ecológico, a geração de produtos diferentes em distintos períodos ao longo das estações do ano. A fertilidade do solo também garante a variabilidade genética e a produção de alimentos orgânicos.
O sistema de plantio em rodízio também é uma característica importante em sistemas agroecológicos e agroflorestais, promovendo a diversidade de compostos orgânicos.
O planejamento das SAF´s deve respeitar a sucessão ecológica, ou seja, desde espécies pioneiras até o estágio climax das SAF´s.
CONCLUSÃO
Pesquisas comprovaram que o emprego do sistema convencional de agricultura está agravando diversos impactos ambientais tais como assoreamento de rios e nascentes, contaminação e erosão dos solos, emissão de GEE, além de promover impactos sociais e econômicos.
A proposta apresentada como o sistema agroecológico aponta diversas soluções e melhoramentos das condições sociais, econômicos e ambientais. O manejo utilizado nesse sistema promove a recuperação dos solos, nascentes e até mesmo recuperação de conhecimentos étnicos de suma importância para o desenvolvimento agrícola.
O sistema agroecológico superam os fatores de insustentabilidade produzida pelo sistema convencional de agricultura. Para isso, é preciso uma nova visão, ou seja, a mudança de paradigmas deve ser o primeiro passo para o desenvolvimento de novas e alternativas técnicas de agricultura