Um resumo da minha experiência na Coreia contada da melhor forma que consegui elaborar. Embora não faça jus a grandiosidade do ano que vivi, é uma tentativa de lhes mostrar o porquê de ter escolher ir à Coreia do Sul.
Para ler mais, visite meu blog sobre cultura, língua e culinária coreana: http://thaynacoreia.blogspot.com.br/2015/06/a-surpreendente-coreia-do-sul.html
A surpreendente Coreia do Sul
Ao entrar em uma casa coreana, uma Hanok, você poderia se surpreender ao ver seus moradores dormindo no chão. Ou ainda, poderia se surpreender ao conhecer a culinária baseada em vegetais fermentados e bem apimentados. Porém, as surpresas não pararão por aí. Apesar de antiga e de aspecto rústico, a casa tradicional coreana conta com um piso com sistema de aquecimento que data séculos atrás, e a comida tradicional é salgada e fermentada para preservação e sabor. A tradição une-se à tecnologia.A Coreia é, sim, surpreendente, e sair da zona de conforto e viajar para o outro lado do mundo para estudar e se profissionalizar traz um engrandecimento pessoal e acadêmico que tem o potencial de ser muito superior quando comparado àqueles que preferem optar pelo tradicional. Não é uma viagem apenas ao novo, mas ao surpreendente, ao que engrandece o conhecimento de mundo através de uma vida interdisciplinar: uma aula nas ruas, nos mercados, no dia-a-dia.Quem vê de longe visualiza a Coreia do Sul como um país em que o alarme da guerra pode tocar a qualquer momento. Mas a mãe da Samsung, Hyundai, KIA e LG, na realidade, vive um cotidiano agitado, mas em paz. O segredo por trás desse verdadeiro milagre é realmente interessante. Como um país destruído pelas guerras, com a cultura, língua e economia sempre prejudicadas e negadas por invasões e guerras, pôde se reerguer e ser uma das maiores potências mundiais? Como um país com a área de Pernambuco, com 70% de seu território coberto por montanhas e tendo um vizinho ardiloso como os norte-coreanos, consegue ultrapassar um país continental como o nosso em vários aspectos econômicos e sociais?
A resposta é extensa, mas grosso modo: com estratégias políticas e econômicas inteligentes; devido ao próprio caráter determinado e lutador do coreano, fortemente relacionado aos ensinamentos Confucionistas; e, principalmente, com investimentos pesados em Educação e Pesquisa Científica. A educação não é apenas importante para um coreano: ela é um fator determinante para o seu bem-estar social e de seu país.A viagem, portanto, não é apenas cultural. O aluno brasileiro na Coreia tem acesso a uma infraestrutura anos-luz distante de sua realidade no tocante ao Estudo e à Pesquisa Científica. Bibliotecas com estruturas de Shoppings Centers, salas de aulas bem equipadas e do tamanho certo, laboratórios de pesquisa de dar inveja a qualquer doutorando brasileiro: o estudante de graduação tem acesso a todos eles.
Com tudo isso, qualquer estudante brasileiro pode estudar como um asiático. Aliás, o gosto pelo estudo é muito fácil de encontrar por lá. No passeio de fim de semana, os palácios e a música Arirang despertam a curiosidade, e o turista se vê querendo saber mais sobre História. A agitação dos bairros de compra, como Myeongdong e Dongdaemun, apresenta a febre comercial coreana, a sua música pop e cultura popular. A comida, essa de longe, faz qualquer um se despir de qualquer preconceito e se admirar com as deliciosas misturas gourmet que o povo coreano é expert em criar.Toda a estrutura que a universidade oferece aos alunos, somada às oportunidades de pesquisas e estágios oferecidos (principalmente para aqueles que estudam pelo programa Ciências Sem Fronteiras), torna o momento de estudo uma experiência fantástica. Ao redor da Korea University onde estudei, há cafeterias para estudantes onde se ocupa uma mesa e compra-se o café e a chance de ficar lá por toda a noite, estudando. Salas de estudo 24h também podem ser utilizadas sem que haja qualquer problema com a segurança dos estudantes. É o paraíso do estudo.
A segurança não é o único bem que o país tem a oferecer. Sua organização faz com que a vida do estudante seja muito confortável. As universidades oferecem dormitórios ou indicam acomodações fora do campus, de forma que nenhum estudante estrangeiro fica na mão. O transporte público é o mais conveniente, pois além de rápido, é barato. Opções de ônibus, metrô, táxi, trem estão todas disponíveis em inglês.Falando em inglês, é possível sobreviver, com toda a dignidade, na Coreia sem falar coreano. Quem não quiser se aventurar no fantástico Hangul, vai ter suas aulas em inglês, será atendido no restaurante e poderá se transportar sem quaisquer transtornos. Principalmente a parcela mais jovem da população, apesar de tímida, consegue auxiliar o estrangeiro em inglês. Além disso, as universidades possuem programas de auxílio aos estrangeiros com vários alunos voluntários, ávidos por conhecer outras culturas e aprimorar a língua estrangeira.O grande medo do estudante é: e dá para entender o professor? Quando o grande investimento na Educação coreana teve início, muitos professores fizeram sua especialização fora do país. É claro que alguns tem um sotaque mais acentuado, mas, pessoalmente, nunca tive problemas por não entender o inglês, apenas por não entender o conteúdo da aula. E, se a dúvida surgir, também não há problemas. Os professores coreanos disponibilizam horários para tirar dúvidas e ficam muito felizes de receberem visitas, principalmente dos estrangeiros.
O professor coreano, apesar de sua grande autoridade, o que em teoria o afastaria dos alunos, faz questão de ser próximo a eles. Mais da metade dos meus professores coreanos saiu com um grupo de alunos ou toda a sala para uma refeição, incluindo uma boa conversa, um café e trocas de experiências incríveis. Num país em que o professor recebe a importância que lhe é devida, é maravilhoso ver que ele quer ter um contato mais pessoal com seu estudante.A Coreia do Sul, em geral, ainda segue a filosofia Confucionista. Uma das principais consequências disso é divisão hierárquica. Dependendo da idade e do sexo, o tratamento é diferenciado. Embora isso não seja tão cobrado dos estrangeiros, é interessante saber quando tomar posturas de respeito com o professor, o chefe ou o aluno nos últimos semestres. No entanto, entre os colegas de classe, isso não existe. O coreano é muito tímido, mas é curioso. Apesar de querer muito conversar com você, estrangeiro, ele talvez não crie a coragem de chegar até você. A boa notícia é que a maior parte dos intercambistas ganham uma dose de coragem extra fora de seu país, e a ampliação do círculo de amizades e networking acaba ocorrendo naturalmente.O sistema de ensino coreano é parecido com o americano. Há duas avaliações no semestre: os Midterms e os Finals, ou seja, as provas de meio de semestre e as finais. Apesar de falarmos de Ásia, não é impossível que o aluno estrangeiro tenha um excelente desempenho. Até ousaria dizer que basta o estudante dedicar o mesmo empenho de estudo que normalmente tem, sem deixar que sua outra metade turista o desvirtue da verdadeira missão.
Tirando todo esse assunto sério, a universidade é uma grande festa. Festivais, jogos, clubes: o universitário coreano está na fase de viver sua vida plenamente e aprender não só o que está no escopo de cada disciplina. Os clubes são dos mais diversos, indo de programação e desenho à escalada e artes marciais. É a época da vida de aprender um pouco de tudo e aproveitar o máximo possível.
No estágio a atitude tem que ser a mesma. Estágios são conhecidos no Brasil pelo ócio, trabalhos brandos com poucos rendimentos. Porém, a cultura empresarial coreana é muito diferente. Mesmo que o trabalho requisitado ao estagiário seja brando, as expectativas e críticas são de alto nível. Espera-se sempre o melhor e que se vá além do que é pedido. A inovação e iniciativa são ensinadas no dia-a-dia da empresa. Tive a oportunidade de trabalhar num centro de pesquisa (Korean Institute of Energy Research) e foi necessária muita iniciativa de minha parte para que a experiência fosse ainda melhor, uma vez que os funcionários estavam sempre ocupados tentando aperfeiçoar as tecnologias de ponta que vamos usar amanhã.
No entanto, apesar de serem ocupados, os funcionários precisam ser um pouco importunados aqui e ali para que você vá além. Os coreanos fazem hora extra de graça, para que o resultado seja melhor e mais rápido. Com toda essa sede de excelência, é impossível que você não saia um profissional diferenciado, com o selo de treinamento asiático, baseado em respeito e esforço. Aprendi sobre uma tecnologia que ainda não é bem estabelecida no Brasil: a Energia Solar de Concentração. Tornei-me uma das poucas brasileiras que tiveram a oportunidade de pisar numa planta piloto e pesquisar nesta área.Da Korea University ao Instituto Coreano de Pesquisa em Energia (Korea Institute of Energy Research), nunca a Coreia do Sul falhou em me surpreender. Muitos me falaram antes e ainda me falam: “Nossa, o quanto você é corajosa de ir para Coreia do Sul”. Não é necessária coragem para ir para Coreia do Sul. Talvez um pouco de informação sobre o país e uma pequena paixão por desafios. Coragem mesmo é o que se precisa ter na hora de voltar para o Brasil, apesar da vontade de rever nossa família. As amizades, boas experiências acadêmicas e culturais ficam dentro de nós e acabamos levando a Coreia do Sul, o surpreendente e ainda mais coragem ao retornar.
Por Thayná Viegas.
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Só acrescentaria um detalhe. Escrevi este texto há um tempo atrás e, hoje, completaria: Coragem é desperdiçar sua vida com medo de tentar, se aventurar, vencer barreiras. Desbravar o novo, se desafiar e aproveitar cada segundo de novas experiências... isso que eu chamo de vida!