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4 duvidas de literatura

Literatura

01)

Tu não verás, Marília, cem cativos

tirarem o cascalho e a rica terra,

ou dos cercos dos rios caudalosos,

ou da minada Serra.

 

Não verás separar ao hábil negro

do pesado esmeril a grossa areia,

e já brilharem os granetes de ouro

no fundo da bateia.

 

Não verás derrubar os virgens matos,

queimar as capoeiras inda novas,

servir de adubo à terra a fértil cinza,

lançar os grãos nas covas.

 

Não verás enrolar negros pacotes

das secas folhas do cheiroso fumo;

nem espremer entre as dentadas rodas

da doce cana o sumo.

 

Verás em cima da espaçosa mesa

altos volumes de enredados feitos;

ver-me-ás folhear os grandes livros

e decidir os pleitos.

 

Enquanto revolver os meus Consultos,

tu me farás gostosa companhia,

lendo os fastos da sábia, mestra História,

e os cantos da Poesia.

 

Lerás em alta voz, a imagem bela;

Eu, vendo que lhe dás o justo apreço,

Gostoso tornarei a ler de novo

O cansado processo.

 

Se encontrares louvada uma beleza,

Marília, não lhe invejes a ventura,

Que tens quem leve à mais remota idade

A tua formosura.

 

Tomás Antônio Gonzaga - Lira III

Disponível em: 100 poemas essenciais da Língua Portuguesa (org. Carlos Figueiredo)

Vocabulário de apoio:

Granete: pequeno grão; pequena quantidade de metal

Bateia: gamela afunilada de madeira onde se lavam minérios

Fasto: magnificência; pompa.

É característica do Arcadismo, observada no poema, a:

a) opção pela linguagem rebuscada como expressão.

b) apresentação da mulher amada como vocativo.

c) escolha pela arcádia como cenário.

d) indecisão do pastor como eu lírico.

e) conflito entre bem e mal.

02) Se, na Europa, este movimento é um protesto cultural, se o “mal do século”, a saudade do paraíso perdido são as consequências da industrialização e da ascensão da burguesia; no Brasil, onde a sociedade do Império compreende apenas grandes proprietários escravocratas e uma burguesia nascente, o movimento, produto de importação, corresponde a uma afirmação nacionalista.

O movimento a que o texto se refere é o:

a) simbolismo

b) modernismo

c) arcadismo

d) realismo

e) romantismo

TEXTO PARA A QUESTÃO 3:

Leia o soneto “LXXII”, de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), para responder à(s) questão(ões).

 

Já rompe, Nise, a matutina Aurora

O negro manto, com que a noite escura,

Sufocando do Sol a face pura,

Tinha escondido a chama brilhadora.

 

Que alegre, que suave, que sonora

Aquela fontezinha aqui murmura!

E nestes campos cheios de verdura

Que avultado o prazer tanto melhora!

 

Só minha alma em fatal melancolia,

Por te não poder ver, Nise adorada,

Não sabe inda que coisa é alegria;

 

E a suavidade do prazer trocada

Tanto mais aborrece a luz do dia,

Quanto a sombra da noite mais lhe agrada.

 

(Cláudio Manuel da Costa. Obras, 2002.)

Uma característica típica do Arcadismo encontrada nesse soneto é:

a) o subjetivismo exacerbado.

b) a obsessão pela noite e pela morte.

c) a evocação da cultura greco-latina.

d) o ideal da impessoalidade.

e) a preocupação com o social.

TEXTO PARA A QUESTÃO 4:

A(s) questão(ões) a seguir referem-se ao texto abaixo.

Que diversas que são, Marília, as horas,

que passo na masmorra imunda e feia,

dessas horas felizes, já passadas

na tua pátria aldeia!

 

Então eu me ajuntava com Glauceste;

e à sombra de alto cedro na campina

eu versos te compunha, e ele os compunha

à sua cara Eulina.

 

Cada qual o seu canto aos astros leva;

de exceder um ao outro qualquer trata;

o eco agora diz: Marília terna;

e logo: Eulina ingrata.

 

Deixam os mesmos sátiros as grutas:

um para nós ligeiro move os passos,

ouve-nos de mais perto, e faz a flauta

cos pés em mil pedaços.

 

— Dirceu — clama um pastor — ah! bem merece

da cândida Marília a formosura.

E aonde — clama o outro — quer Eulina

achar maior ventura?

 

Nenhum pastor cuidava do rebanho,

enquanto em nós durava esta porfia;

e ela, ó minha amada, só findava

depois de acabar-se o dia.

 

À noite te escrevia na cabana

os versos, que de tarde havia feito;

mal tos dava e os lia, os guardavas

no casto e branco peito.

 

Beijando os dedos dessa mão formosa,

banhados com as lágrimas do gosto,

jurava não cantar mais outras graças

que as graças do teu rosto.

 

Ainda não quebrei o juramento;

eu agora, Marília, não as canto;

mas inda vale mais que os doces versos

a voz do triste pranto.

GONZAGA, Tomás Antônio. Tomás Antônio Gonzaga [Org. Lúcia Helena]. Rio de Janeiro: Agir, 1985. p. 114. [Coleção Nossos Clássicos, v.114].

O poema, exemplar do Arcadismo brasileiro, caracteriza-se pela:

a) adoção da convenção pastoral.

b) interlocução direta com o leitor.

c) estruturação em forma de soneto.

d) retomada da temática do carpe diem

e) utilização de cultismo e conceptismo.

Foto de Maju O.
Maju perguntou há 3 anos