D. João de Castro viveu entre 1538 e 1542, na Índia, e, no Roteiro de Goa a Diu tratou dos templos de Elefante, onde estava o templo dedicado ao culto de Shiva - construído no século VII ou VIII. Castro narrou:
"O monte desta Ilha [de Elefanta] [...] que é maciço de um rochedo e de uma penha¹ viva foi cortado e feito por debaixo do monte, cavando a penha viva, um grandíssimo templo, o qual é lavrado, de tão maravilhosa obra, que parece impossível ser feita por mãos de humanos [...] está neste templo uma capela quadrada, e em cada uma destas portas guardam dois ferocíssimos gigantes que têm de comprido 21 palmos [...] Todo este templo é rodeado com 12 capelas, e em cada uma estão esculpidas multas e diversas estórias de singular obra romana [...] Em uma destas capelas está um homem que se mostra da cinta para cima com três grandes rostos e quatro braços [...]."
A explição para a suntuosidade² dos templos indianos de Salcete só poderia ser entendida como um ardil maligno: os pagodes não teriam sido feitos por homens; mas por espíritos, sendo uma "arte diabólica e, que, quanto a mim, não há dúvida", afirmava Castro.
¹Penha: grande massa de rocha saliente e isolada, na encosta ou no dorso de uma serra.
²Suntuoso: em que há grande luxo; pomposo
De acordo com o texto, o estranhamento dos viajantes europeis ao encontrar a arte hindu, relatado pelo cartógrafo português João de Castro, se deve ao fato de ela
(A) apresentar estética e materialidade semelhantes á arte europeia em suas manifestações artísticas, porém com representações religiosas distintas
(B) realçar o sagrado como figura central das produções artísticas e representar o poder divino e santo nas manifestações estéticas e nas construções dos templos
(C) utilizar formas simbólicas até então nunca vistas e representar deuses politeístas, porém, por meio de técnicas escultóricas e arquitetônicas já conhecidas
(D) representar uma religião com outras tradições e símbolos esculpidos nos grandes templos, com uma arquitetura singular e ornamentação grandiosa
(E) resgatar uma iconografia da Antiguidade Clássica, com esculturas, pinturas e arquitetura inspiradas pela estética greco-romana e seus seres fantásticos.
