A anti-metafísica de Alberto Caeiro
Por: Alessandro S.
16 de Maio de 2016

A anti-metafísica de Alberto Caeiro

Literatura

De fato, o ser humano é um ser que procura em tudo as razões de suas existências. A motivação da movimentação das engrenagens do conhecimento acompanham a repetida pergunta do movimento periódico das máquinas do "como?". Inúmeras vezes a pergunta se repete e a máquina investigadora de conhecimento continua sua jornada incessante. Esse processo da incansável busca da razão de tudo se chama "Metafísica", uma área filosófica ocupada da exploração do motivo de tudo. E do hábito se torna o costume, e do costume se torna o caráter, e do caráter se torna neurose. Cada vez mais se busca a razão de tudo e empirismo do todo. Talvez assim, que um loiro rapaz tuberculoso sem educação tenha se destacado tanto por não ser o que todos também eram. 

 

Levado em conta essa incansável busca sem necessidade, Alberto Caeiro foi pela contramão da Metafísica e inaugurou justamente a Anti-Metafísica, a negação do conhecimento do "como". Para ele, a felicidade se encontra nas sensações e simplicidades da vida e não nas grandes indagações de como tudo funciona, como tudo se orquestra, como tudo aparece e como tudo vem e vai. Basta saber que algo existe e tudo está feito. O poema a seguir ilustra muito bem essa abstenção do conhecimento científico:

 

Não tenho pressa. Pressa de quê? 
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos. 
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas, 
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra. 
Não; não sei ter pressa. 
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega - 
Nem um centímetro mais longe. 
Toco só onde toco, não aonde penso. 
Só me posso sentar aonde estou. 
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras, 
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa, 
E vivemos vadios da nossa realidade. 
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.
 
 
Perceba de início o nome do poema - "não tenho pressa" - o qual será descontruido durante todo o processo poético. O uso de figuras naturais - "o sol e a lua" - justamente dão suporte a sua ideia de que a pressa é um chagas e não deve ser cultivada. Tudo deve ser concreto, possível de ser sentido com os olhos, o nariz, a boca, as mãos e os ouvidos, pois é dessa natureza que teremos a compreensão do que algo é. Para Caeiro, é inconcebível compreender o que não pode ser sentido, ir para a abstração. Afinal, como ele declara, "toco só onde toco, não aonde penso", a verdade está no que lhe é apresentado e não além daquilo. É importante lembrar dessa fixação no que é real, uma vez que algo somente é aquilo que o é pois ele não pode ser o que não é. "Só me posso sentar aonde estou". Como é possível sentar aonde não se está? 
 
Finalizando, esse riso puro de Caeiro para o pensamento de "sempre noutra coisa" é de nunca vivermos o agora, mas algo totalmente intangível que não está ocorrendo. Esse viver "vadios da nossa realidade e estamos sempre fora dela porque estamos aqui" é o absoluto máximo da Anti-Metafísica: não somos donos nem do nosso próprio corpo, pois há uma pressa intrínseca do depois, de se executar inúmeras coisas, pensar no futuro. Que adianta se não somos donos do agora e pensar no futuro? Nem mesmo quando pensamos em algo agora foi pela instantaniedade do agora, foram após inúmeros eventos em que finalmente tomamos uma epifania de que algo ocorreu. 
 
E essa desnecessidade de tomarmos tudo prontamente e de forma desesperada é que o justamente se toma essa ideia de Alberto Caeiro. A verdadeira face da vida é o que é de fato, não aquilo além do que ela mesmo é. A depressão é produto dessa pressa do ser e de não o poder ser. O riso é gerado pela compreensão do agora e do alívio do trágico. Caeiro compreende essa necessidade do povo de assumir o que não são imediatamente e o riso assim se gera pois o trágico se torna compreensível e com isso se corrigem os costumes. 
 
Compreendendo o redor, o agora, podemos nos corrigir. No futuro, rir do que somos agora pelo o que já fomos. Sendo assim: uma coisa de cada vez. Sem botar o carro na frente dos bois.
Beth R. há 9 anos

Well...slowly but surely ! Let´s laugh much more,rsrs
Adorei o poema. Vc é poeta tb ? Chico Buarque já cantou :"não se afobe não que nada é pra já..."
Bons dias !

Alessandro S.
São Carlos / SP
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