Crie a carreira que você sempre quis
em 22 de Abril de 2020
Por essa frase, Carlos Alberto Parreira, ex-técnico da seleção brasileira de futebol campeã do mundo em 1.994, ficou conhecido como ‘retranqueiro’, ‘excessivamente defensivo’.
A intenção do treinador era afirmar que o importante é o desempenho. Se os fatores que levam a este fossem bem trabalhados, o resultado, a vitória, seriam muito mais facilmente alcançados. A frase de Parreira foi mal compreendida, como se ele houvesse afirmado que fazer gols não é importante.
Não controlamos o resultado final de nada. Poderia um técnico dizer “hoje nós vamos ganhar o jogo com absoluta certeza?”, ou um gerente afirmar que “nesse mês atingiremos 100% da nossa meta”? Claro que não.
O que está ao nosso alcance para nos aproximarmos ao máximo do resultado desejado é buscar compreender o que leva a ele com o menor gasto de recursos possível para, só então, determinar que ações devem ser executadas.
Conta a lenda que na Copa do Mundo de futebol de 1.958, o técnico brasileiro Vicente Feola reuniu os jogadores e combinou a estratégia para o jogo contra a União Soviética. Dizem que a estratégia envolvia uma jogada em que Nilton Santos, Zito e Didi trocariam passes curtos no meio do campo para atrair a atenção dos russos. Vavá puxaria a marcação da defesa deles, caindo para o lado esquerdo do campo. Depois de um tempo, Nílton Santos deveria fazer um lançamento para a direita, alcançando Garrincha pelas costas do marcador. Garrincha driblaria e cruzaria para Mazzola, que faria o gol.
Depois de ouvir com atenção, Garrincha, com a cabeça de gênio da bola e com a maior simplicidade possível, perguntou: “Tá legal, Seu Feola… mas o senhor já combinou tudo isso com os russos?”
Tite, atual técnico da seleção brasileira, conhece muito bem esse conceito. Ele sabe quais fatores são importantes para um bom desempenho: cada jogador deve estar preparado técnica, tática e mentalmente para executar plenamente suas funções durante todo o jogo. Vejamos. A parte técnica é aquela que cabe a cada jogador dependendo de sua função no time: o goleiro defende as bolas que são chutadas ao gol pelos adversários, mas também dá início às jogadas de ataque quando defende as bolas e enquanto a tem em suas mãos.
Assim, para que o goleiro obtenha o desempenho esperado, ele deve ser capaz de defender o máximo de bolas que chegam ao seu gol, e deve ser capaz de passar a bola, com os pés ou com as mãos, para o jogador melhor colocado do seu time para dar início eficientemente à uma jogada de ataque.
A tática é definida por ele, o líder: como os jogadores devem jogar juntos para buscarem produzir o resultado esperado? E a parte mental refere-se à capacidade de cada jogador conseguir ter a serenidade necessária para tomar boas decisões durante o jogo, já que não é permitido interromper a partida para repetir o que foi treinado até que a bola entre no gol. Se o centroavante estiver nervoso quando a bola chegar, ele não vai conseguir perceber sua exata posição para decidir se deve cabeceá-la ou chutá-la e, por causa disso, pode finalizá-la para fora do gol.
No mundo corporativo, acontece o mesmo. O líder de uma equipe elabora a estratégia (tática de jogo) que diz como cada pessoa deve trabalhar para produzir o resultado esperado (a vitória). Ele também cuida da preparação técnica e mental para que todos estejam prontos para fazer sua parte bem feita.
Se conheço os fatores que são críticos para o desempenho de minha equipe e os trabalho adequadamente, fica mais fácil ter melhor desempenho e, por consequência, resultados.
Não adianta pressionar sua equipe continuamente para atingir os resultados. Se ela não identificar e trabalhar os fatores críticos que levam a um bom desempenho, pode ser até que atinjam suas metas, mas a um custo muito alto – horas extras, stress, baixa produtividade.
Em outras palavras: sua equipe não vai atingir resultados consistentemente se for pressionada, mas o fará se for bem preparada.
Mas se o treinador percebe que um de seus jogadores não está suficientemente preparado para executar em jogo o que ele tem em mente, o que ele faz? Reforça o treinamento. A maestria de seus jogadores para produzirem o desempenho desejado individual e em conjunto vem de treino, treino e mais treino dos fatores críticos.
Simplificando: o treinador sabe o que cada jogador deve entregar (fatores críticos), e realiza uma avaliação constante da capacidade de entrega de cada um (avaliação constante do momento presente). Se percebe uma lacuna, conduz treinamentos até que essas discrepâncias sejam minimizadas.
Mas os fatores críticos devem estar diretamente ligados ao objetivo da equipe. Às vezes, dependendo das condições do jogo, um treinador considera o empate um bom resultado. O objetivo dele é ganhar o campeonato, mesmo que ele não ganhe todas as partidas.
Assim, tanto ele como toda a equipe devem possuir claro seu objetivo.
No entanto, pode ser que o fraco desempenho não seja fruto de uma equipe suficientemente preparada, mas de uma estratégia mal formulada. Nesse caso, o líder deve fazer as correções na estratégia, treinar a equipe para conseguir executar a estratégia, e continuar avaliando constantemente.
Assim, ele consegue melhorar o desempenho da equipe como um todo, aproximando-a dos resultados desejados.