A Química no Egito Antigo
Por: Fernando C.
13 de Março de 2021

A Química no Egito Antigo

Uma alternativa para o ensino de Química

Química Ensino Médio Pré-vestibular Ensino Superior Química Geral Química Orgânica

     O ensino de Química, muitas vezes, pode parecer algo impossível para os alunos. Sobretudo os alunos de Ensino Médio, muitas vezes ainda sem ter uma decisão concreta sobre a área a ser seguida no Ensino Superior, passam a ver a Química como algo totalmente abstrato, difícil e sem conexão com qualquer coisa que conheçam. 

     Para os professores, principalmente do Ensino Médio, o grande desafio é manter a atenção do aluno ao conteúdo ministrado e ainda conseguir relacionar com assuntos cotidianos ou de interesse dos alunos. Dessa maneira, é fundamental uma aprofundada pesquisa sobre os mais variados usos e curiosidades relacionados à Química. Além disso, uma abordagem interdisciplinar auxilia a compreensão e ainda ajuda o aluno a entender a conexão entre diferentes disciplinas

     Dessa forma, um assunto que desperta uma curiosidade grande entre alunos é o Egito Antigo. O modo de vida, as pirâmides, as múmias e tudo que está relacionado a este povo pode auxiliar o ensino de Química.

     A abordagem de diversos assuntos pode ser iniciado com a comparação entre nosso mundo atual e o modo de vida no Egito Antigo. Coisa que são comuns ao nosso dia-a-dia retratam situações corriqueiras também para este povo de mais de 2000 anos atrás. Produção de cerveja, jogos de tabuleiro, animais de estimação, medicamentos a base de ácido acetilsalicílico e até mesmo testes de gravidez retratam essa realidade.

     Os cosméticos usados no Egito Antigo podem ser uma boa introdução ao estudo das Funções Inorgânicas, por exemplo. Análises em peças encontradas no Museu do Louvre, em Paris, mostram a formulação das tinturas a base de chumbo: galena (PbS, sulfeto de chumbo) para coloração escura e também na formulação de gloss para os lábios, além de três tinturas brancas à base de cerusita (PbCO3, carbonato de chumbo), fosgenita (Pb2Cl2CO3) e laurionita ([Pb(OH)Cl]. O processo de síntese destes compostos era delicado e baseado em finos ajustes de pH para evitar a formação de compostos indesejados. Os egípcios agitavam energicamente óxido de chumbo, PbO, na presença de sal de cozinha bruto (NaCl), às vezes na presença de carbonatos de sódio (Na2CO3 ou NaHCO3) em água morna:

O ajuste do pH era feito com a retirada do sobrenadante que se formava e adicionando cloreto de sódio e água. Esse processo durava semanas até ser considerado pronto.

    Quando os egípcios utilizavam tais tinturas cosméticas nos olhos, garantiam a proteção de Horus e Ra contra possíveis doenças. Embora atualmente se conheçam todos os perigos do uso do chumbo em cosméticos, nada tira o mérito dos egípcios de prepararem tais substâncias com extremo cuidado e de utilizar as mesmas de forma adequada.

     A criação da cerveja, embora tenha sido atribuída aos mesopotâmicos, tem uma contribuição enorme dos egípcios antigos no que diz respeito aos aromas e variedade de sabores. As grandes cervejarias onde as pessoas iam beber e conversar, a indústria de panificação e a adição de frutas e temperos aos pães são contribuições do Egito Antigo. Assim, uma abordagem sobre fermentações incluindo essa parte da história tem o poder de chamar a atenção do aluno às duas disciplinas: a Química e a História.

     Todos esses assuntos, e outros diversos que podem ser explorados sobre essa temática, apesar de serem interessantes não superam a curiosidade que os jovens despertam quando se fala nos processos de mumificação. Fotos, vídeos e artigos sobre esse tema são amplamente pesquisados em sites de busca. Usar o processo de mumificação para o ensino da Química traz benefícios enormes em sala de aula.

     Para falar de mumificação, antes de abordar a Química, é fundamental contextualizar todo o sentido religioso da prática: a ideia da imortalidade era o eixo central da vida religiosa e social do egípcios antigos. A mumificação era o preparo para o retorno do espírito ao corpo. Para renascer e viver para sempre em uma
terra em que todos permanecessem jovens, ágeis e belos, a força vital e a força espiritual de uma pessoa tinham que reconhecer seu corpo e se unir novamente
a ele. A felicidade no além dependia da habilidade do embalsamador.

     Todo procedimento envolvido era uma verdadeira aula de anatomia, fazendo com que os egípcios se tornassem especialistas neste, além de outros, ramos da medicina. Os Faraós, por exemplo, tinham médicos exclusivos e especialistas para tratar de vermes. Como eram encontrados freqüentemente em múmias, os egípcios acreditavam que estes micróbios seriam legítimos mensageiros da morte. 

     Os acontecimentos post-mortem envolvem uma série de processos físicos, químicos e biológicos, como: autólise (processo de autodigestão das células), putrefação (destruição de tecidos moles por microorganismos), saponificação (formação de sabões pela gordura em pH alcalino), a diagênese (processo natural que muda a proporção de compostos orgânicos (colágeno) e inorgânicos (hidroxiapatita, cálcio, magnésio) do osso quando este é exposto a condições ambientes
favoráveis, principalmente na umidade), entre outros. Desses processos, a saponificação pode ser explorada no ensino de química dentre as reações orgânicas mais comuns. É resultado da hidrólise de gordura com a formação de ácidos graxos. Esta fase é acelerada pela presença de bactérias, especialmente espécies putrefacientes, tais como a Clostridium. Pode demorar várias semanas ou meses para finalizar.

     Finalmente, o processo de mumificação era iniciado com a retirado de cérebros e outros orgãos internos. O coração tinha um tatamento especial pois eles acreditavam que era o centro de todos os aspectos de vida emocional, físico e intelectual. O coração era tratado separadamente e enterrado na tumba, ao
lado do corpo, em um jarro lacrado. Como o ambiente das tumbas era úmido, para promover a dessecação do corpo, era utilizado uma substância chamada natrão, uma mistura de vários sais de sódio, tais como cloreto de sódio (NaCl), carbonato de sódio (Na2CO3), bicarbonato de sódio ( NaHCO3) e sulfato de sódio (Na2SO4). Uma grande quantidade de carbonatos explica a grande conservação dos corpos. O pH alcalino catalisava a transformação de gorduras no corpo em ácidos graxos  (hidrocarbonetos de cadeia longa com uma carboxila terminal) e glicerol. Os ácidos graxos podem formar sais orgânicos de sódio através de reação com o carbonato de sódio 

     As possibilidades de se explorar esse assunto sob a ótica da Química são imensos. Diversos assuntos, reações, propriedades de compostos e características podem e devem ser explorados por professores para engrandecer o ensino. Talvez alguns assuntos possam ser mais viáveis no Ensino Superior, mas a habilidade do professor está justamente em trazer assuntos complexos de maneira a ser amplamente entendida por alunos de diversos níveis da educação. O futuro da educação passa pela interdisciplinaridade dos assuntos.

     Divirtam-se e boas aulas

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Fernando C.
Curitiba / PR
Fernando C.
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Mestrado: Mestrado em Química (Química Analítica) (UNESP - Araraquara)
Professor de Química e disciplinas relacionadas há 16 anos, com experiência em Ensino Superior.
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