- respeita meu infinito !!!

Certa vez ouvi de um docente phD:

- De que interessa o Rⁿ se ninguém consegue desenhá-lo?!?

Poucas semanas depois em uma aula sobre análise dimensional e escalas de grandezas tridimensionais, um aluno de terceiro ano do Ensino Médio me pediu para desenhar algo da quarta dimensão. Expliquei como o conceito de tal ‘ilustração seria possível, ele concordou. Acho que se tal desenho fosse possível, ele me pediria para desenhar uma porta e a atravessaria para fugir de sua realidade, ou então da escola e da minha aula.

Esse garoto filosoficamente ainda se deslumbra pelo desconhecido, pelo inilustrável, pelo indesenhável. Eu achava que a curiosidade dos alunos era morta no fim do ensino fundamental, por volta do 7º ano ao 9º ano. Esse óbito da curiosidade deve ser algo entre as emocionantes aulas de educação sexual, do professor explicando as ilustrações daquele capítulo que reconhecemos, mas com pouca profundidade e solidez científica de detalhes, e enxergar as soluções de equações do segundo grau por método de soma e produto.

Por outro lado, um experiente matemático já não se importava com o que estava para além dos olhos.

           Não entendia o que era Domínio.

- Me ensinaram input.

          Não entendia como conjuntos limitados em diagramas de Veen se expandiam para conjuntos ilimitados bidimensionais.

- Demorou, mas me ensinaram um pouquinho de análise na reta.

          Parece-me que avançar nos estudos em matemática é o inesgotável se desafiar a explicar da forma mais geral as coisas mais simples em essência. Quando uso inesgotável, cabem aqui todos os porquês que conduzem o homem à eternidade e sua infinitude. Muitas ‘coisas simples’ passam pela mente tão rápido em um movimento intuitivo onde a resolução de casos simples é suficiente aos aspectos da vida cotidiana. Se apenas o realizado ao cotidiano humano fosse assunto da matemática teríamos coleções de casos simples, casos não generalizados. Poderiamos ter parado em Euclides.

          Não é o caso. O que ao longo da história da espécie humana nomeamos como Matemática é algo intrínseco à espécie que à nomeou. É um deslumbrante inclinar-se em direção a algo maior do que a vista pode alcançar, é a reta infinita no extremo atômico do fio da lâmina de uma faca para churrasco. Me interessam os Rn’s, seus métodos de cálculo, saber que existe uma generalização maior que engloba o caso particular que vejo. E sou.
        

           Matemática é exercício de humildade, não cabe ser boçal. De resumir a trajetória em títulos, ou aprovações em exames elaborados por mentes previamente treinadas no mesmo sistema de seleção. Quer ser matemático,  se responsabilize com a função de ser ponte real entre o 0 e 1 e assim ajudar outros a mapearem o infinito.