A DANÇA E O VENTRE:
Por: Jacquelyne O.
21 de Janeiro de 2020

A DANÇA E O VENTRE:

A DANÇA E O VENTRE: APARÊNCIA CORPORAL NA CONTEMPORANEIDADE resumo

Teoria da Dança Teoria da Dança do ventre

A DANÇA E O VENTRE:

APARÊNCIA CORPORAL NA CONTEMPORANEIDADE



                                                                   Resumo

 

A dança do ventre tem sua origem em rituais religiosos pré-suméricos, e foi utilizada pelos povos da Antiguidade em diversos tipos de celebração. Como dança da fertilidade, era praticada pelas mulheres, em rituais, na época do plantio e colheita e na preparação para a gestação e o parto, entre outros. Sofreu diversas transformações pelo tempo, e atualmente é praticada quase no mundo inteiro. Até os tempos atuais, continua sendo utilizada como preparação para o parto em tribos beduínas e recentemente em aulas especiais para gestantes, no Ocidente. (p. 4)



INTRODUÇÂO

 

A dança do ventre promove diversas alterações físicas e fisiológicas em suas praticantes, aprimorando sua saúde, corrigindo a postura, melhorando funcionamento do intestino, diminuindo cólicas menstruais, fortalecendo a musculatura pélvica, aumentando a circulação sanguínea nos órgãos reprodutores e do aparelho urinário. Esteticamente, modela a cintura, reduzindo suas medidas, e psicologicamente, aumenta a auto-estima. Alguns trabalhos científicos que discorrem sobre tais alterações são citados no capítulo 1 desta pesquisa. (P. 12)

 

Dança do Ventre: um olhar histórico

 

Aspectos da construção histórica de uma arte

 

A dança3 é considerada a mais antiga das artes, pois o ser humano se expressou primeiramente pela linguagem do corpo e depois pela fala e escrita. As civilizações e os povos antigos utilizaram a dança em quase todos os fatos importantes de sua época e cultura, como em oferendas de sacrifícios, rituais religiosos e/ou culturais, festas relacionadas ao nascimento de crianças, à circuncisão, aos funerais, à guerra, às doenças, à semeadura e à colheita, estas duas últimas relacionadas à agricultura, ou seja, ao modo de produção da Antiguidade. (GARAUDY, 1980; MOHAMED, 1995).

A dança era um ofício respeitado por toda casta sacerdotal e honrado pelas tradições culturais e religiosas, e sempre com estreitos vínculos com a música, assim como com o canto. Utilizavam-se instrumentos de percussão para reforçar os movimentos da dança os quais foram indispensáveis desde as origens da dança até a atualidade (MOHAMED, 1995).

No vale do Nilo, na Antiguidade, a dança era uma forma de expressar alegria que estava sempre presente nas festas e comemorações. Por exemplo, quando se realizava a colheita, eram preparados rituais com dança, como ação de graças. (MOHAMED, 1995; WALTARI, 2002).

A dança do ventre é a primeira dança feminina de que se tem registro, conforme imagens verificadas em desenhos encontrados nas cavernas pré- históricas. Outras danças, relacionadas à sobrevivência (caça, chuva), eram realizadas por homens, de acordo outros registros. Nas imagens nas quais aparecem apenas mulheres dançando, os desenhos destacam o ventre, indicando a

 




3 Nos três primeiros parágrafos o termo dança refere-se à dança de uma  forma geral, existente em outras manifestações de movimentação corporal na Antiguidade, e não especificamente a dança do ventre.







existência de uma movimentação específica executada na região do abdômen (ALLI, [199?]).

Segundo Penna (1993), a dança do ventre tem sua origem em um ritual sagrado relacionado à fertilização da terra e das mulheres, realizado antes da civilização dos sumérios, a mais antiga civilização historicamente reconhecida. Naquela época, as criaturas existentes no mundo eram consideradas filhos da Deusa, e as mulheres dançavam em ritos nos quais intencionavam receber a força da Grande Mãe. Estas danças primitivas foram desenvolvidas pelos pré-sumérios, na região da Mesopotâmia, aproximadamente há dez mil anos. Esta região é considerada o berço da civilização por historiadores.

Os sumérios também reverenciavam a Grande Mãe, e a chegada desse povo a essa mesma região data de 3.500 anos a.C.. Seus rituais eram liderados por sacerdotisas, que dançavam com movimentos semelhantes aos da dança do ventre. Achados arqueológicos indicam que os locais considerados sagrados eram pontos de reunião daqueles habitantes, nos quais o nascimento e a morte eram celebrados com dança, além de outras manifestações ritualísticas. Incluíam-se os partos entre os acontecimentos nestes locais. Pela crença das mulheres, a Deusa as protegeria na hora de dar à luz. Freqüentemente o ato de parir custava a vida da mãe, numa época sem tecnologia hospitalar ou medicamentos4, como os antibióticos potentes atuais, produzidos em laboratório. Estes povos utilizavam recursos como defumações e ervas, e as invocações religiosas. Com confiança na Deusa, as mulheres se preparavam psicologicamente, e através da fé poderia resistir melhor tanto à gestação como ao parto. Conseguiam muito desta preparação concreta e física, pela prática da dança em oferenda à Mãe Sagrada, pois através da dança fortaleciam abdômen e pernas, e treinavam a respiração e movimentos ondulatórios da musculatura do baixo ventre. Naquela realidade, dançar, cantar e rezar era uma só atividade. A figura da Deusa era representada por uma mulher de seios fartos e quadris largos, símbolo do corpo da mulher ideal, significando que muitos filhos poderiam vir a nascer dali, sem complicações (PENNA, 1993; PERERA, 1985; GADON, 1989).

Os  movimentos  ondulatórios, de  contração e de vibração  podiam atenuar





4 Muitos dos recursos da medicina antiga eram eficazes, mas em alguns casos não agiam tão rapidamente, comparando-os aos atuais.







dores de cólicas menstruais e preparar músculos específicos para a sustentação da gestação e para o auxílio na condução do parto (WALDROP, 2002).

A vida na antiga Mesopotâmia era marcada pelas cheias e vazantes dos rios Tigre e Eufrates, que ditavam as estações de plantio e de colheita. Nessas duas fases, as mais notáveis do calendário sumério, aconteciam festas populares, sendo que no momento da semeadura, as pessoas acasalavam-se no sulco da terra arada, na espera que o Céu fizesse o mesmo com a Terra, fecundando-a. Homens e mulheres clamavam os favores generosos da deusa, em rituais, nos quais se incluía a dança, denominada dança da fertilidade. A Terra, a “Grande Mãe”, cujos frutos eram a generosidade na colheita, propiciava a reverência à “mulher –boa –paridora” (PENNA, 1993).

Para os antigos egípcios, a nudez tinha um significado religioso, pois para propiciar a colheita, havia um ritual de dança executado por uma bailarina nua e virgem. Algumas vezes as bailarinas dançavam cobertas por umas pequenas capas. Existiam danças para a caça, para as mães, enfim, as coreografias contavam histórias relacionadas aos seus personagens. Nos rituais de matrimônio ou funerais algumas vezes eram executadas coreografias com espadas para demonstrar o domínio de armas, com a intenção de proteger o noivo ou o defunto das más intenções de seus inimigos (WALTARI, 2002; MOHAMED, 1995).

A dança era, no antigo Egito, uma das obrigações para com os deuses, juntamente com a música e o incenso, conforme se menciona nas anotações do médico Ani. (WALTARI, 2002; PENNA, 1993; MOHAMED, 1995).

Mohamed (1995) explica que optou por utilizar a expressão “Dança do Ventre” para tratar esta dança com o intuito de esclarecer que é a “dança árabe para mulheres” e que tal expressão lhe caía melhor que “dança árabe” ou “dança oriental árabe”, pois esta dança possui elementos de diversas outras culturas como a faraônica, a fenícia, a núbia, a turca, ou a bereber. Ele cita isso porque atualmente existe uma polêmica sobre a expressão “dança do ventre” principalmente entre as bailarinas de tradição árabe que não julgam justo ser valorizada apenas uma parte do corpo, o que pode acabar resultando numa visão simplista desta dança que movimenta o corpo inteiro, valorizando mãos e braços, bem como movimentos extremamente voluptuosos de cabeça com o cabelo como elemento principal, por isso  também a razão dos cabelos compridos. Esta vertente costuma adotar a







expressão  “dança árabe”  ou “dança árabe  oriental” ou ainda  “dança do leste”

(SHARKEY, 2002).

La Regina (1998) indica que a nomenclatura mais adequada, e que  é inclusive utilizada nos países árabes, é “dança do oriente”. No entanto, para uma clareza maior sobre qual dança tratamos, visto que o Oriente é composto de outros países com suas danças típicas, na comunidade científica utilizamos a expressão “dança do ventre”, ou “belly dance”, em inglês.

Ao longo da história, a dança do ventre, que varia seu estilo de um país para outro, seguiu um processo evolutivo através dos séculos, que se desenrolou em dois tipos de cenários: o culto e o popular, o palácio e a rua. De qualquer forma a dança do ventre pode ser considerada a dança clássica do mundo árabe.

 

A dança do ventre é uma dança que se situa entre o folclore e a criação pessoal, porque por um lado possui uma estrutura básica constante e por outro, existe também um componente importante de improvisação que oferece à dançarina uma liberdade ampla para realizar seus movimentos num extraordinário equilíbrio entre regra e liberdade, sujeição e criatividade pessoal. É através desta improvisação que se pode exteriorizar todas as suas qualidades expressivas e alcançar a distinção artística a que chegam as grandes dançarinas da atualidade. (MOHAMED, 1995, p.10)



[...]

De acordo com Mohamed (1995), alguns traços de elementos que podem ser considerados antecessores da dança do ventre encontram-se em pinturas e esculturas do Egito faraônico. Desta época, na qual a dança era uma prática sagrada, até os dias de hoje, seu caráter se modificou muito. No Egito faraônico, a dança era uma prática das sacerdotisas, nos interiores dos templos, ou exibida apenas nos eventos oficiais. Após a invasão árabe, passou a ser exibida também na forma de entretenimento para convidados nos palácios. Ao fim do califato em 1258 e com a radicalização do Islamismo, entrou numa época de declínio. Ainda no Egito, por volta do século XVI a dança começou a ser executada em locais de prostituição. Com a sua divulgação e prática mundiais, em todos os países aonde é praticada existe a ocorrência de dança do ventre nestes locais, sendo que para essas apresentações não se fazem necessárias as suas formas técnica e artística. Ou seja, ocorre com freqüência da apresentação de dança ser apenas um anúncio, e lá encontrarmos uma mulher com roupas típicas árabes, que serão retiradas durante a apresentação de uma movimentação corporal, ou não, mas de qualquer forma não há um compromisso nem cultural, nem com a técnica da dança nestes locais de prostituição.

Na atualidade, em sua prática artística e cultural, o estilo egípcio da dança do ventre é o mais conhecido e nele se mesclam movimentos suaves e lentos com enérgicos e rápidos. É largamente executada a sua dança do bastão, sendo esta, inclusive, disciplina em escolas de ensino equivalente ao nosso fundamental, e também danças com movimentos repetitivos como o dos movimentos com a cabeça,







à direita e à esquerda, e para frente e para trás, de tal forma que os cabelos desenham formas no ar, com uma movimentação enérgica e veloz. Por isso, também, a característica de dançarinas manterem seus cabelos compridos, não sendo somente uma questão estética, mas um elemento atuante e realmente necessário nesta dança. No Líbano o ritmo é muito mais alegre e dinâmico, e as dançarinas costumam dançar com sapatos de salto alto. Na Turquia, por influência sufí, possui características mais espirituais, com predominância de movimentos de braços e de ombros.

Sharkey (2002) narra que nas aldeias beduínas, as mulheres têm  por costume dançar com vestidos longos, de seda, bordados com contas, lantejoulas, e pequenas moedas. Levam um grande lenço amarrado no quadril para acentuar seus movimentos, valorizando-os. Todas elas dançam descalças.

[...]

O cenário das danças árabes contempla diversas danças típicas, masculinas e femininas, incluindo a dança do ventre. A prática de danças próprias do universo masculino é incentivada para os homens, sendo que a maioria deles sabe executar pelo menos alguns passos. Na dança do ventre, como é denominada no Ocidente, a atuação deles é limitada, sendo inclusive proibida em alguns países árabes. Existe uma história pictórica que ocorreu na Turquia sobre os dançarinos homens. Houve um tempo, durante o império Otomano, entre os séculos XVII e XVIII, na qual a dança das mulheres foi proibida, sendo permitida somente dentro dos haréns, entre elas mesmas, guardadas pelos eunucos. Nessa época, o sultão permitia somente que homens dançassem em público, e estes utilizavam roupas semelhantes às das dançarinas e algumas vezes cobertos com véus nos rostos. Para isso foram criadas companhias de artistas, músicos e dançarinos denominadas kol.  Os dançarinos eram köçeks. Um köçek era treinado desde a idade de 8 anos, e após 6 anos de estudo em dança e música, iniciava sua carreira. O auge dessas companhias se deu por volta de 1650. Dançavam até 25 ou 30 anos, e eram escolhidos os que fossem







considerados mais bonitos. As apresentações ocorriam em celebrações de casamento e festas variadas, e muitas vezes na presença do  sultão. As danças eram sensuais e provocantes, e em relatos históricos, consta que algumas vezes a platéia perdia o controle gritando e agarrando os dançarinos. Poesias com relatos apaixonados por köçeks foram escritas, inclusive por visitantes estrangeiros masculinos. No início do século XVIII, alguns köçeks tornaram-se muito famosos, e suas apresentações eram caríssimas, seus nomes ficaram registrados.

Esta prática e companhias foram banidas oficialmente em 1856, na era de

Mahmut II, o que forçou os köçek a emigrarem para outros países, como o Egito.

Atualmente, raros homens praticam e realizam apresentações de dança do ventre, sendo que alguns se destacam. Nomes como Amir Thaleb, Tito Seif, Yousry Sharif, Asi Haskal, entre outros, representam a arte masculina dentro dessa dança, ministrando workshops pelo mundo, normalmente para platéias femininas de alunas. A maioria destes utiliza túnicas e pequenos chapéus como traje de apresentação. Ao redor do mundo, alguns dançarinos utilizam roupas semelhantes aos dos antigos köçeks, um tipo de colete, normalmente de tecido brilhante e bordado e calças bufantes, com elásticos nos tornozelos, e um cinto com moedas ou franjas nos quadris, além de muita maquiagem no rosto.

A dança do ventre, atualmente, é praticada em todos os países árabes, com grande predominância de mulheres em sua prática, sendo que em cada país esta possui uma singularidade, presente tanto nos tipos de passos e técnicas da dança, como nos instrumentos, ritmos, indumentárias ou nos tipos de músicas utilizados (LA REGINA, 1998).

Apesar de sua origem remota, e de ser uma dança folclórica, formada na cultura tradicional e transmitida por gerações, a dança do ventre iniciou uma nova trajetória histórica após a imigração de dançarinas para as Américas e Europa. Ela passou a se envolver em espetáculos grandiosos, como as gravações de cinema, entre outros, de tal forma que o trabalho de outros profissionais das artes tais como bailarinas de balé clássico e moderno, coreógrafas, figurinistas, cenógrafos e diretores de artes trouxeram transformações que foram sendo incorporadas à sua forma anterior. A partir desses eventos, sua característica original de prática de improvisação e espontaneidade deu lugar a um elaborado trabalho de produção, com muito planejamento e ensaios exaustivos. Esta tendência foi transferida de volta







aos países de origem, de tal forma que grandiosos festivais são realizados no  Egito,

Líbano e Turquia, desde a segunda metade do século XX.

Vários acessórios podem ser utilizados nas apresentações de dança do ventre, na atualidade. Os mais comuns são:

 

1.  Véu

Representa o mistério, o feminino que se entreabre. Cobre o corpo da dançarina. É muito utilizado na entrada da dança, onde a dançarina entra como se estivesse escondida, e aos poucos vai deixando abrir ou cair o véu. É muito conhecida a dança dos sete véus, que na passagem bíblica Salomé dançou. Pode ser utilizado apenas um na dança, algumas vezes dois ou três. Quanto mais véus, maior a dificuldade da coreografia, pois os véus deverão estar todos de alguma forma encaixados na roupa da dançarina, e esta deverá memorizar e treinar para conseguir resgatar sempre as pontas certas do véu que quer retirar. Normalmente utilizam véus coloridos, de cores diferentes, para realçar a dança. É um dos primeiros acessórios que se aprende a utilizar nas aulas de dança do ventre.

 

  1. Bastão ou Bengala

Dança folclórica egípcia, é dançada também por homens. Representa o homem do deserto, com seu bastão como se fosse uma arma para se defender. Pode-se utilizar um ou dois bastões por dançarina (o) em cada dança. Os passos, no caso das mulheres, são os mesmos da dança do ventre, porém existem manobras a serem executadas como bastão ou bengala, principalmente de giros, nas laterais do corpo e também por cima da cabeça, em forma de oito na frente do corpo. É interessante utilizar o bastão batendo no chão para marcar o tempo da música. Em algumas coreografias as (os) dançarinas (os) trocam de bastão durante a dança, como no caso de alguns elementos da ginástica rítmica. Deve-se escolher uma música com o ritmo Said para dançar com bastão ou bengala. Na versão masculina essa dança é denominada Tahtib, não sendo considerada dança do ventre, pois os dançarinos não executam os mesmos passos das dançarinas. Eles realizam mais flexões e saltos, e também troca de bastões, simulação de embates, movimentos mais agressivos.






  1. Pandeiro

É utilizado pela dançarina em músicas alegres, muito ritmadas. Deve ser montada uma coreografia de forma a fazer soar o pandeiro em alguns tempos mais fortes da música. O pandeiro pode ser percutido com as mãos ou em alguma parte do corpo, como quadris, ombros ou mesmo na cabeça.

 

  1. Velas

Pode-se utilizar uma ou duas velas, dispostas em taças de vidro, de tal forma que a chama fique protegida dentro das taças. As coreografias são montadas com a dançarina segurando cada taça em uma mão, e vai combinando movimentos do corpo com braços e mãos. Esse tipo de apresentação deve ser feita no escuro, para que apareça o efeito das chamas das velas.

 

  1. Punhal

A dançarina deve entrar para dançar como punhal de preferência de alguma forma pendurado no corpo, como em um cinto, e então executar movimentos dentro de sua dança/coreografia de modo a retirá-lo do cinto e combinar movimentos de golpes com passos de dança. Utilizam-se músicas mais rápidas para combinar com a agressividade do acessório.

 

6.  Castiçal

O castiçal é montado sobre uma armação de metal ovalada que é fixada na cabeça da dançarina, como se fosse um capacete. A maior parte desse tipo de castiçal contém três ou quatro andares de velas, dispostas em forma circular, e terminando no último andar com uma vela. Todas as velas deverão ser acesas na hora da apresentação, antes da entrada da dançarina. Deve-se escolher  uma música lenta, para que os movimentos sejam suaves e que as velas mantenham-se acesas. O ambiente para a apresentação deve estar escuro.

 

7.  Espada

Acessório de metal, contendo uma alça, e a parte da faca é em forma de curva. Normalmente é confeccionada em bronze, e sua lâmina não é afiada. Dançada  em músicas lentas ou rápidas. É um número que mistura dança e







equilíbrio. Nas coreografias a espada pode ser equilibrada na cabeça, nas mãos, nos quadris e sobre o peito. Apresentação de grande efeito para o público.

 

  1. Snujs

São dois conjuntos de címbalos de metal, como se fossem pequenos pratos. São colocados nos dedos polegar e médio de cada mão, e devem ser percutidos de forma a acompanhar o ritmo da música tocada. Um dos acessórios mais difíceis para o aprendizado com a dança, pois o corpo deverá estar evidenciando uma parte do ritmo da música e cada mão acompanha uma parte do ritmo base da música escolhida. Pode ser também utilizada por um dos músicos, em alguns casos, fazendo parte da percussão.

 

  1. Jarro

A dança com jarro nasceu com os beduínos do deserto. Representa a água, a vida. O traje para essa dança é um vestido um pouco largo, e um xale amarrado nos quadris, normalmente sem bordados, para representar as mulheres beduínas, em seus afazeres diários, indo buscar água. Nas coreografias, a dançarina executa movimentos com o jarro e vai colocando-o na cabeça, no ombro, ou ainda nos quadris e joelhos, com a ajuda das mãos, em movimentos graciosos. Costuma-se escolher uma música alegre.

 

A dançarina pode optar em dançar com ou sem acessório. Em casos específicos, como em músicas clássicas, muitas dançarinas não utilizam acessórios, para demonstrar sua habilidade em interpretar a música e suas nuances apenas com o próprio corpo.

Em números denominados “solo de derbake”, nos quais a dançarina acompanha o percussionista que toca o instrumento de percussão derbake, também não se utiliza acessório, para que a dançarina fique livre para movimentar-se a cada batida do derbakista. Este número costuma ser o ápice de uma apresentação de dança do ventre, aquela parte mais esperada do show. É um número muito vibrante, de percussão pura, onde ambos, dançarina e percussionista  demonstram criatividade e agilidade de movimentos.







Nas apresentações com música ao vivo nota-se a interação da dançarina com os músicos, principalmente nesse momento de solo de percussão. Também, em conjuntos onde existe um cantor, ocorrem momentos de interação musical e de expressão de sentimentos sobre a canção, entre o cantor e a dançarina.

As dançarinas denominadas “baladi”, são as que dançam de improviso, expressando toda a sua emoção, sem preocupação em executar movimentos com muita técnica, mas ainda assim com arte. As primeiras dançarinas batizadas como “baladi” foram mulheres migrantes do campo para o Cairo, no início do século XX, que em busca de melhores condições de vida, iniciaram-se em apresentações de dança. Dançavam uma dança mais simples, porém com muito sentimento e alegria, da forma como elas haviam aprendido. Inauguraram uma dança folclórica urbanizada, não sendo mais como anteriormente, com dança e músicas extremamente tribais. Agregaram mais instrumentos, como o acordeom e o saxofone, entre outros. Essas dançarinas e suas gerações posteriores mantêm o orgulho de serem “baladi”, de suas raízes, de seu lugar e de seu povo.

Essa dança tem sido incorporada nos palcos, e atualmente, são ministrados cursos sobre dança baladi, que seria também algo como uma dança mais contida, com menor número de passos, porém com alma e descontração. As dançarinas que possuem essa característica na atualidade são muito valorizadas, mesmo que isto tenha sido atingido com estudos, não proveniente de sua origem. O músico egípcio Hossam Ramzy5 admira as dançarinas baladi, diz que o melhor baladi é o que as egípcias dançam para seus maridos na privacidade (RAMZY, 1996).

Algumas dançarinas profissionais atuais são consideradas baladi, como Fifi Abdo, dançarina egípcia consagrada, e até mesmo a brasileira Soraia Zayed, que conseguiu captar o estilo original da dança, através de seus estudos, prática e

 



5 Hossam Ramzy é um dos derbakistas mais conhecidos e ativos no mundo, tendo acompanhado a turnê internacional do CD No Quarter, de Robert Plant e Jimmy Page, músicos da extinta banda de rock Led Zeppelin, na qual fazia o solo de derbake dentro de uma das músicas e liderava os músicos árabes do show. Fez diversas participações especiais com outros músicos internacionais, e também possui seu próprio estúdio de gravação. Durante a turnê do No Quarter, em 1995, veio a São Paulo, e os três músicos citados decidiram procurar um show de dança do ventre, para assistir. Foi-lhes indicada a casa de chá Khan el Khalili, e eles foram até lá. O proprietário da casa de chá, Jorge Sabongi, conta essa história em seu site. Hossam foi convidado a ministrar um workshop nessa casa, onde também haviam cursos de dança do ventre, e conheceu Serena, uma dançarina paulistana profissional que lá trabalhava, e acabou se casando com ela. Ela aparece na capa de um de seus CD’s, o Gamaal Rawhany. Neste CD, Hossam gravou uma composição sua intitulada “From Cairo to São Paulo”. Mais sobre ele ao final desse capítulo.







talento pessoal. Hossam Ramzy, em seu site oficial cita Lucy e Nagwa Fouad  como

as suas dançarinas baladi preferidas.

Outra dança típica é a denominada Melaya-Laf. Teve sua origem nos subúrbios do Cairo e de Alexandria. É dançada com um vestido justo, um chaddor, que é um lenço que cobre o rosto, do nariz para baixo, deixando os olhos descobertos - para esta dança o chaddor é de crochê, de pontos abertos, apenas simulando esconder o rosto. É usado também um lenço preto retangular grande, que pode cobrir o corpo, de tecido grosso, não transparente. Este lenço grande preto é o Melaya, utilizado tradicionalmente quando a mulher saía de casa. Laf significa enrolar ou “ao vento”. Nesta dança, a dançarina faz movimentos com o véu cobrindo e descobrindo partes do corpo, e enrolando o lenço de diversas maneiras. A dançarina tem que ter habilidade para manusear bem este lenço. Na boca levam uma goma de mascar, e mascam displicentemente durante a dança, representando uma moça do povo. A música escolhida é sempre muito alegre, e a dançarina tem que ser muito expressiva, manusear o lenço preto com charme e graça e sorrir lançando olhares marotos para os lados e para o público. Essa dança atualmente faz parte do repertório de cursos de aperfeiçoamento em dança do ventre, e é difícil captar a expressão adequada para a sua apresentação. A dançarina tem que ser muito charmosa e carismática, ser levemente ousada, exagerando  na movimentação, expressando descontração, porém sem cair na vulgaridade.

Originalmente, a dançarina sempre se apresentava descalça. No entanto, desde que surgiram os grandes espetáculos de dança do vente no Egito e Líbano, as dançarinas desses países costumam apresentar-se de sapatos de saltos altos, talvez para demonstrar a ascensão social dessa dança que se originou do povo. Poucas dançarinas nesses países ainda preferem dançar descalças. Dina, uma das mais famosas e reconhecidas dançarinas egípcias atuais, normalmente inicia o show com sapatos e depois os retira, dançando a maior parte no palco descalça.

Os ritmos musicais árabes são bem diferentes um do outro, o mais popular  é o ritmo denominado baladi, que toca na maior parte das músicas mais populares. É um ritmo básico, que tanto as professoras de dança quanto os professores de percussão utilizam para o início da aprendizagem. É muito utilizado nas







apresentações das alunas, e o público muitas vezes tem a impressão de ser uma música repetitiva, pois quase todas as apresentações são realizadas nesse ritmo.

Ritmos musicais são seqüências de intervalo de tempo combinados, que se repetem compasso a compasso da música. Os ritmos árabes mais utilizados para dançar são: Baladi, Whada Wo Noz, Malfuf, Ayubi, Soudi (Khaleege), Said, Tschiffititilli, Rush, Masmudi, Maqsoum, Fallahi, Zaar, Karachi, Elzaffa, Samaai.

A música clássica para dança do ventre normalmente alterna ritmos, como se fosse dividida em movimentos, ora fica mais lenta, ora mais rápida, em ritmos variados; tem a hora do solo de derbake, que seria o ápice, e daí retorna ao tema principal. Também são ensaiados ritmos para entrada e saída da dançarina.

Uma peculiaridade está na capa dos discos e CD´s da maioria das orquestras árabes. As formações de conjuntos e orquestra de música clássica árabe, normalmente se originam para acompanhar uma dançarina, também de formação musical clássica árabe. Na capa do CD (ou disco de vinil, anteriormente) vem estampada a foto da dançarina e seu nome, tal como se fosse um cantor aqui no Ocidente. Algumas vezes aparece o nome da dançarina e do solista de percussão do instrumento derbake, o derbakista. Então vem escrito, por exemplo, “Amany and Bassem Yazbek”, sendo Amany, uma dançarina libanesa, e Bassem Yazbek, o derbakista. A maior parte das vezes está escrito somente o nome da dançarina.

Quando se quer encontrar um CD em uma loja específica de CD´s árabes diz- se “quero o CD da Nadia Gamal”, por exemplo. É o nome dela que está  em destaque na capa, eles batizam o CD com o nome da dançarina, pois aquelas composições foram gravadas para ela dançar. Na realidade, a dançarina participa ativamente na hora da decisão sobre a seqüência de arranjos nas músicas, bem como dá o tom de seu andamento, se deve ser tocada mais lentamente ou mais rapidamente, isto para cada parte da música. Muitas músicas são compostas com ela dançando e indicando os momentos de paradas e de alteração rítmica. Ela também escolhe que ritmos deverão estar presentes no CD, pois tudo que está gravado ela deverá dançar em suas apresentações, e representa seu  estilo. Algumas gravam CD’s com músicas mais lentas, outras mais rápidas; algumas preferem músicas mais clássicas, outras mais modernas; e normalmente sempre tem um solo de derbake.







É um verdadeiro encontro ao redor da dançarina, comparativamente com um cantor aqui; assim como existe uma orquestra que acompanha um cantor, como exemplo. Referimo-nos ao CD como sendo o CD do cantor, e não da orquestra, podendo até ser feita uma referência à orquestra. No entanto, o cantor é quem escolhe as músicas que quer gravar, e ele é o motivo daquela reunião de músicos. E dessa mesma maneira se formam as orquestras que gravam os CD´s árabes, elas se reúnem em torno de uma dançarina, e então ela é o motivo daquela reunião, ela “compõe” o CD e lhe dá a personalidade, escolhendo as músicas que vai dançar.

Na realidade, como nos textos de Hossam Ramzy, com trechos citados a seguir, transcritos de seu site oficial, a dançarina é considerada mais um elemento da orquestra, afinada com seus instrumentos, e solista de destaque. Nessa primeira citação, ele descreve a formação da orquestra que acompanhava as apresentações de Nagwa Fouad, dançarina aclamada pelo público no Egito na década de 50 e  60, e viva até hoje. Na forma de sua escrita pode-se observar que era a dançarina que reunia os músicos:



Em sua banda, Nagwa Fouad tinha Ahmed Hammouda, tocando Tabla, o mestre de todos os percussionistas no estilo dançante e o primeiro homem a tocar um “Solo de Tabla ao Vivo” gravado na história da música para dançar... Nagwa também tinha Mohammed Ayyad no Duff e Mazhar, e mais um enorme grupo de percussionistas. No solo de Violino, às vezes tinha Mahmoud El Gersha (um dos mais sensuais violinistas solo do Egito, que conseguia misturar sons egípcios  com clássicos ocidentais e então voltar ao mais sujo Baladi dançante...). Tinha também Samy El Bably no trompete (presente em alguns de meus CD´s), o único homem que podia tocar um trompete ocidental como se fosse um instrumento egípcio. No Acordeom, Hassan Abu El Saud (do famoso CD “Saher El Accordion”, um dos tocadores favoritos de Ahmed Adaweya)... às vezes, ela tinha Mohammed Amidu no acordeom (que compôs diversas músicas para ela dançar) e às vezes, ainda, tinha Mohammed Asfour (da banda de Ahmed Adaweya). Mas seu performer mais miraculoso era o tocador de “Nay”, Sayed Abu Sheffa... homem com lábios leporino, o que torna impossível tocar QUALQUER instrumento de sopro. Entretanto, ele tocava a Nay e a flauta de bambu egípcia Kawala como ninguém mais tocava, conseguia sons extremamente incendiários e tinha uma habilidade incrível de deixar as pessoas assombradas com uma nota musical. (RAMZY, [200?]).







Hossam Ramzy utiliza o termo tabla ao invés de derbake. E prossegue no mesmo texto, na seqüência:

Uma vez que a verdadeira dançarina egípcia deve ser considerada, por todos aqueles que sabem alguma coisa de dança egípcia, como um outro membro instrumental da orquestra, é a dançarina que faz com que a música ganhe vida, que dá ao som uma existência física, tri-dimensional. Interagir com seus músicos, inspirá- los assim como ela (Nagwa) também ficava inspirada por suas performances virtuosas, pegava o público pelo cangote...Tendo uma banda com tal poder aterrador, Nagwa tornou-se mais e mais musical, rítmica, e adquiriu mais e mais talento em sua dança e suas apresentações musicais, capazes de explorar o impossível e ir suavemente até onde nenhuma dançarina anterior conseguira chegar. (RAMZY, [200?]).



Mais uma citação de Hossam Ramzy, em outro artigo, no qual ele dá conselhos às dançarinas do mundo inteiro sobre como se deve dançar uma música de dança o ventre. O site tem uma versão em português, devido à sua esposa, a dançarina profissional Serena Ramzy, ser brasileira:



Em minha opinião, dançar é como fazer a percussão, como tocar a flauta Nay, ou como tocar piano, ou tocar o Oud, Quanoon ou qualquer outro instrumento. O instrumento de quem dança é o corpo. A dançarina é um membro musical da Orquestra. (RAMZY, [1997?]).



Hossam Ramzy é o percussionista egípcio que mais gravou Cd’s  com músicas que podem ser utilizadas para dança do ventre do planeta, muito respeitado e reconhecido no seu país, e também por músicos e dançarinas que conhecem seu trabalho, no mundo inteiro. Era sobrinho de um grande cineasta egípcio, o que lhe possibilitou a convivência com músicos e dançarinas, desde a infância. Além de músico, é arranjador e compositor. Compôs músicas para trilhas sonoras de filmes e desenhos de cinema, dentre eles: “A última tentação de Cristo” e “O Corcunda de Notre Dame”, recentes.







O crescimento da divulgação da dança do ventre pelo cinema e pelo  mundo, a partir do século XX, deveu-se muito ao Orientalismo, como Said (1990) denominou o movimento de construção do Oriente pela visão do Ocidente. Este autor inicia seu relato com estudos sobre o pensamento europeu do século XIX. Observou nisso uma condição de superioridade aclamada pela comunidade européia em relação aos orientais, e em específico, aos egípcios. Isto partia da idéia de dominação intelectual do colonizador, baseada na sua realidade, com uma visão unilateral.

Na época, estudiosos do assunto entravam em contato com as culturas orientais lançando juízos de valor, compondo o conceito de orientalismo a partir da construção de estereótipos ocidentais sobre o Oriente, incutidos de exotismo, sensualismo e misticismo religioso. Para Said (1990), o pensamento orientalista é baseado numa visão distorcida e com nítidos preconceitos culturais,  tratando sempre os orientais como primitivos e atrasados.

A produção de estudos que resultaram no orientalismo é concentrada no século XIX, mas iniciou-se no século anterior, por encomenda de Napoleão Bonaparte. O Imperador, em suas incursões para o Egito, ficou fascinado com aquela cultura, e pretendia com esses estudos primeiramente conquistar e então dominar e instruir os orientais para que evoluíssem de acordo com a visão da cultura ocidental.

Apesar de Napoleão não conseguir atingir seus objetivos, pesquisadores deram prosseguimento aos seus estudos sobre o Oriente, formando uma figura caricata, de características como louco, perigoso, exótico, misterioso e enigmático. Atualmente ainda se tem muitos resquícios desses preconceitos construídos no orientalismo, impregnados na visão ocidental do Oriente, tendo isso até mesmo influenciado a própria visão do oriental contemporâneo sobre sua cultura.

Quando os orientalistas entraram em contato com a dança árabe feminina – o Baladi – ficaram fascinados. O erotismo delicado e os movimentos sensuais ajudavam a compor o conceito de exotismo. Era realmente diferente de tudo que se conhecia como dança até o momento pelo Ocidente. Em meados do século XIX, muitas dançarinas egípcias emigraram para os Estados Unidos, e suas danças se tornaram uma grande atração exótica. Nessa época inicia-se a ocidentalização que transformou o Baladi na dança do ventre atual.







A dança do ventre passou a ser parte de grandes espetáculos e eventos, e de filmes de cinema. Nesse momento houve um grande intercâmbio cultural, sendo que bailarinas e professoras de balé (clássico e moderno) ocidentais passaram a estudar os movimentos da dança do ventre e as dançarinas orientais iniciaram seus estudos em outras danças. Estas últimas levaram, posteriormente, influências desse aprendizado para suas apresentações nos seus países de origem, transformando a dança do ventre.

Ruth St Dennis, bailarina americana consagradora da Dança Moderna nos Estados Unidos, gostava de incluir em suas coreografias movimentos de outras culturas, e apaixonou-se pela Dança do Ventre. Foi influenciada por esta dança e também influenciou as dançarinas orientais, que a procuraram em busca das técnicas da Dança Moderna para recriarem sua dança.

Outras profissionais ocidentais tiveram influência do orientalismo em seus trabalhos, como Isadora Duncan, Martha Graham e Doris Humprey.

Algumas dançarinas egípcias que fizeram história, dando início à formação da atual dança do ventre, são citadas por Hossam Ramzy em seu site, e também por Mohamed (1995), dentre elas: Badiea Masabny, Naima Akef, Hager Hamdy, Taheyya Carioca, Samya Gamal e Nagwa Fouad. Criaram os primeiros espetáculos nas casas noturnas egípcias, com figurinos e cenários de palco, e a participação de músicos renomados. Reconhecidas pelo público de seu país, elas participaram ativamente das primeiras divulgações da dança do ventre no mundo, através do cinema egípcio, nas décadas de 1940 e 1950, e simultaneamente em Hollywood e Bollywood. Eram reconhecidas por seu talento e criatividade tanto pelo público como pelos entendedores e estudiosos da arte, tais como os músicos árabes. Foram as primeiras dançarinas egípcias a estudarem outras danças, como balé, flamenco e danças de salão, para ampliarem seus conhecimentos e suas possibilidades em participar dos filmes estrangeiros (RAMZY, [1998?]).

Badiea Masabny foi a primeira dançarina egípcia a abrir e manter uma casa noturna de espetáculos no Cairo, os quais incluíam música, dança, canto e comédia, com artistas de alta qualidade, escolhidos por ela, que tinha o dom de descobrir talentos. Através de seu palco, foram trazidas ao público diversas dançarinas lendárias, como Taheyya Carioca e Samya Gamal, dentre várias. Ambas atuaram no cinema egípcio e em Hollywood. Atualmente, sobre o rio Nilo existe uma ponte   que







leva o seu nome, Badiea, em local próximo aonde anteriormente se encontrava sua casa de espetáculos.

Taheyya Carioca iniciou sua vida profissional de dançarina com o nome de Taheyya Mohamed, no clube de Madame Masabny. Quando sua popularidade aumentou, obteve mais números solos dentro do show, e então lançou em um deles uma dança brasileira de Carmem Miranda (a Carioca), o que lhe atraiu vários admiradores regulares, e a fez adotar Carioca como seu sobrenome artístico, no início da década de 1940. Estudou idiomas e possuía uma vasta biblioteca, para consultar e educar-se a fim de ser uma artista culta e eloqüente. Dessa forma, costumava ser a anfitriã em comemorações nacionais oficiais e festas reais particulares. Centenas de dançarinas foram influenciadas direta ou indiretamente, trabalhando com ela ou absorvendo seu estilo artístico.

Samya Gamal estudou primeiramente com Badiea Masabny, e depois com a estrela do momento, Taheyya Carioca. Logo se tornou uma solista respeitada e criou seu próprio estilo. Diz-se que ela foi a primeira dançarina do ventre a dançar de saltos altos, e também que foi a responsável pela popularização do uso do véu nas coreografias. Em 1949, o rei egípcio Farouk lhe deu o título de “A Bailarina Nacional do Egito”.

 

  1. A Dança do Ventre no Brasil

 

 

Não existem dados na literatura sobre o início da dança do ventre no Brasil. Pelos depoimentos de algumas das professoras das escolas mais famosas da cidade de São Paulo, local que mais recebeu imigrantes árabes no país, várias delas relatam terem sido alunas da professora e dançarina Shahrazad  Sharkey. Shahrazad nasceu na Palestina, e foi criada na Síria e Líbano, vindo para o Brasil aproximadamente na segunda metade do século XX, onde fixou residência na capital de São Paulo (SHARKEY, 2002). (P. 34)

Sobre a imigração árabe no Brasil, ou mais precisamente, sírio-libanesa, Knowlton (1960) observa que entre os primeiros imigrantes que desembarcaram aqui, alguns vieram por não terem conseguido visto para os Estados Unidos,  outros







por linhas de navegação que anunciavam viagens para a América, e na realidade o destino era América do Sul. Neste último caso, os imigrantes chegavam ao Rio de Janeiro ou em Santos, acreditando que estavam nos Estados Unidos. Outros casos de imigração se deram por parentes que já estavam no país, e também haviam os que acreditassem que no Brasil poderiam conseguir mais dinheiro do que nos demais países.

A imigração iniciou-se na segunda metade do século XIX. Em 1914, sírios e libaneses já possuíam 47 fábricas em São Paulo e até meados de 1960 firmaram sua posição econômica. O estado de São Paulo foi o que recebeu o maior número de imigrantes sírios e libaneses, que se concentraram principalmente no centro comercial e bancário da capital, na popular Rua 25 de Março e imediações.

Na época da vinda da maior quantidade destes imigrantes, entre 1910 e 1914, o mascate foi a sua principal atividade econômica. A partir disso, abriram as primeiras lojas, normalmente junto às suas residências, no centro da cidade de São Paulo. Ao perceberem que o ramo de tecidos ainda era pouco explorado, passaram a dedicar-se a comercializar tecidos, artigos de armarinhos e roupas (TRUZZI, 1992; KNOWLTON, 1960).

Alguns deles enriqueceram-se com o crescimento de seu comercio, e então fixaram residência nas proximidades da Avenida Paulista e Consolação, região habitada por camada da classe alta da cidade. Ao perceberem que não mais retornariam à sua terra natal, construíram escolas e clubes. Alguns destes clubes são famosos até hoje, como o Homs e o Sírio (KNOWLTON, 1960).

Os traços culturais que se tornaram mais popularmente  difundidos fazem parte de sua arte culinária, não havendo um estado no país que não conheça as famosas esfihas e kibes, entre outros pratos. A música e a dança se popularizaram recentemente, após a exibição da novela “O Clone”, no ano de 2000, por rede nacional de TV, aberta.

Um pouco antes da novela, havia um movimento no sentido de uma maior divulgação da música e dança do ventre, com mais apresentações e cursos oferecidos nas capitais do país, e principalmente em São Paulo, na capital. A família Mouzayek, já havia gravado seus primeiros CD´s de música árabe para ouvir e dançar, e os comercializavam na sua loja localizada nas proximidades da Rua 25 de







Março, tendo como nomes mais conhecidos o do derbakista George Mouzayek e o do cantor Tony Mouzayek.

Hoje, no Brasil, os estilos mais dançados são o egípcio e o libanês. Algumas dançarinas brasileiras se destacam em festivais internacionais; nossa cultura corporal em relação à dança em movimentos como os realizados em samba, forró, lambada, propiciam-nos algumas vantagens na aprendizagem e desenvolvimento da dança do ventre.

Bailarinas famosas como a paulistana Gisele Bomentre, que já foi bailarina do Teatro Municipal de São Paulo, conseguiu entrar no Egito como dançarina profissional a partir de testes rigorosos, onde dançou com várias formações de orquestras e em programas de TV, fazendo ressurgir popularmente entre eles a dança da espada. Ela foi largamente conhecida como a dançarina da espada naquele país, na década de 1990.

A dançarina Soraya Zayed, esta de origem árabe, da casa de chá egípcia Khan el Khalili de São Paulo, também fez muito sucesso por onde passou no Oriente Médio, sendo inclusive convidada a dividir palco com Dina, a dançarina mais famosa daquele momento no Egito. Deu início às suas incursões no Egito em 2000, e continua atuando nos países árabes até hoje, obtendo grande sucesso e reconhecimento do público local.

Hayat el Helwa, proprietária e professora da Luxor, escola de dança do ventre do município de São Paulo, também venceu dois dos festivais anuais promovidos pela International Academy of Middle Eastern Dance, com sede nos Estados Unidos, os de 2000 e 2003, com números solo, e também foi convidada a ministrar um curso no festival internacional do Cairo, em 2005.

Nájua, paulistana que é também bailarina clássica, se tornou popular aqui no Brasil por meio da casa de chá Khan el Khalili. Esta dançarina foi contratada por um hotel cinco estrelas do Egito, e fez aparições em programas populares de redes da TV libanesa, na década de 1990.

Todas estas bailarinas apareceram no plano de fundo da novela “O Clone”, em algumas das festas da trama. Atuaram também Lulu Sabongi, na época proprietária e professora da Casa de Chá Khan el Khalili, dançando, e Tony Mouzayek e seu conjunto, libanês radicado na cidade de São Paulo e cantor    árabe







mais popular no Brasil, líder do conjunto que gravou maior número de CDs deste estilo no país até o presente momento.

No Brasil, a maior parte das dançarinas dança com os pés descalços, preferindo perseguir de alguma forma as origens da dança, e muito provavelmente, por seguirem as orientações das primeiras professoras no Brasil, que vieram  de seus países de origem antes de haver esse novo costume de se utilizar sapatos de saltos altos nas apresentações, em países como Egito e Líbano. As dançarinas brasileiras que atuam no exterior dançam com sapatos de saltos altos, para acompanhar a tendência daqueles países, tal como se fosse uma etiqueta de elegância a ser seguida. E são respeitadas por conseguirem se igualar  às dançarinas locais, e em alguns casos, até mesmo superam-nas em reconhecimento público por sua dança, como foi o caso de Gisele Bomentre, na década de 1990 e agora, o de Soraia Zayed, desde 2000, ambas paulistanas, já citadas anteriormente. Atualmente, algumas dançarinas já adotam o salto alto em algumas apresentações aqui no Brasil.

Em 1993, foi lançado o primeiro vídeo didático sobre Dança do Ventre no Brasil, pela casa de chá Khan el Khalili, tendo Lulu Sabongi como professora e bailarina, em 1993.

O primeiro livro no qual constava no título uma referência sobre Dança do

Ventre foi publicado em 1998, pela dançarina Málika, denominado “Dança do Ventre

– uma arte milenar”, constante nas referências. Segundo a autora, na década de 80 a dança do ventre era pouco conhecida sendo sua arte pouco difundida no Brasil. Não havia material para estudo, como discos, vídeos ou livros. O Brasil ainda não havia produzido obras sobre o assunto, e as poucas literaturas estavam em inglês ou francês (LA REGINA, 1998).

Antes dessa obra, houve a publicação do livro de Lucy Penna, “Dance e Recrie o Mundo – a força criativa do ventre”, que relata aspectos históricos e terapêuticos sobre a dança do ventre, em 1992 (PENNA, 1993).

Com a repercussão obtida após a novela “O Clone”, exibida durante o ano de 2000, houve um crescimento para a dança do ventre no Brasil. Aumentaram a procura por aulas e também por shows e apresentações. Através da  novela, o público pôde ver alguns tipos de roupas utilizadas e alguns elementos da dança, como a dança da espada e com véus, bem como as apresentações em festas, como







as de casamento. Aumentaram a venda de CDs, roupas e acessórios. A produção de DVDs e oferecimento de cursos em Academias de Dança e em outros espaços alternativos também cresceu, bem como o número de eventos envolvendo profissionais internacionais, como workshops e shows.

O desenvolvimento da dança do ventre no Brasil se dá hoje em âmbito nacional, porém, a produção artística ainda é mais concentrada em São Paulo, local onde existe maior quantidade de profissionais da área, como professoras, dançarinas, coreógrafas e músicos. Permanece a concentração de um grande número de imigrantes árabes e seus descendentes, tanto no estado como no município de São Paulo, o que favorece esta proliferação da sua cultura, na qual a manifestação artística está sempre muito presente.

 

  1. Estudos e eventos



Algumas pesquisas recentes sobre dança do ventre foram consultadas, como os trabalhos de Abrão e Pedrão (2005), Kussunoki (2006), Machado (2003), Moraes (1996) e Rondinelli (2002). Apesar de alguns trabalhos não terem como tema central a saúde, todos mencionam vários benefícios que a dança do ventre traz à saúde física e mental, e todos, em suas pesquisas citam ou confirmam, um aumento da auto-estima.

O trabalho de Moraes (1996) é uma revisão de literatura, cujo tema trata dos benefícios da dança do ventre, discorrendo sobre benefícios físicos, psicológicos, energéticos e anatômicos, estes últimos decorrentes da massagem interna que os movimentos realizados na região do quadril e abdômen promovem nos órgãos internos, tanto do aparelho digestivo como do aparelho reprodutor.

A pesquisa de Rondinelli (2002) é uma dissertação de mestrado sobre a dimensão feminina do movimento alternativo. Apesar do tema não se referir à saúde, a autora cita que a dança do ventre é reconhecida pelo Sindicato dos Terapeutas Alternativos como terapia corporal.

Machado (2003) trabalhou com questionários, sobre os temas da consciência corporal e da sexualidade da mulher. Foram observados vários depoimentos sobre diversos benefícios para a saúde, em um destes depoimentos aparece a correção postural, na questão sobre porque a participante da pesquisa iniciou a prática da dança.

Kussunoki (2006) abordou a correção postural e redução de medidas da cintura em sua pesquisa, obtendo resultados significativos e positivos nessas duas direções, após ministrar aulas semanais para mulheres que nunca haviam praticado dança do ventre. Foram feitas testes, medidas e fotografias nas alunas antes e




depois de sete meses de aulas, demonstrando o resultado final. Foi aplicado um questionário para verificar alteração na preferência musical nas participantes do programa, no mesmo período. A correção postural e a redução de medidas da cintura envolvem aspectos relacionados à saúde e à estética.

Estes quatro trabalhos foram realizados na UNESP – Universidade Estadual Paulista, campus de Rio Claro.

O artigo de Abrão e Pedrão (2005), que são da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da USP, aborda o tema saúde, especificamente, através  da obtenção de depoimentos. A conclusão é de que a dança do ventre melhora a saúde e a qualidade de vida das mulheres entrevistadas.

Todos esses estudos mencionam também o modelamento do corpo, fortalecimento dos músculos e aumento de flexibilidade, como efeitos da prática desta dança.

Além destes trabalhos, é possível pinçar uma presença desta modalidade em cursos específicos relacionados à Educação Física e à Ciência da Motricidade Humana. A “Fitness Brasil”, promotora de eventos na área de Educação Física que incluem desde equipamentos para academias de ginástica até cursos específicos sobre diversas áreas de atuação dos profissionais da Motricidade Humana, no ano de 2000 criou uma nova classificação em seus cursos, abrangendo práticas corporais alternativas, incluindo entre elas a dança do ventre (FITNESS BRASIL MAGAZINE, 2000: 16).

  1. Movimentação corporal específica



A Dança do Ventre manifesta-se em movimentos de vibrações, impacto, ondulações, rotações e deslocamento, em uma alternância entre contração e relaxamento, envolvendo todas as partes do corpo, que acompanham ora a melodia, ora a percussão da música. O “shimmy”- termo que corresponde à vibração ou tremido - de quadris é o movimento mais conhecido.

A base do aprendizado da movimentação da dança do ventre é o isolamento na  movimentação das partes do corpo e o controle da musculatura abdominal.







Atingindo esses dois princípios básicos, os demais tipos de movimentos citados no início do parágrafo anterior estendem-se às outras partes do corpo: quadris, torso, ombros, cabeça e pescoço, isolados ou em diversas combinações.

A movimentação ondulante de braços e mãos é uma forte característica. Os movimentos repetem contração, relaxamento, ondulações, rotações, determinando um trabalho de treinamento detalhado para os movimentos dos dedos, de forma a dar um acabamento final na dança.

Uma apresentação de dança do ventre normalmente inclui movimentos para as laterais em linha reta, de pescoço, quadris e torso; ondulações de todas as partes do corpo, de forma isolada ou conjunta; tremidas suaves e rápidas de ombros, seios e quadris; movimentos circulares do torso com caídas e acentuações emendadas com ondulações de peito e abdômen; movimentos circulares de cabeça e  de quadris. Somam-se a esses, movimentos vibratórios de extensão e contração dos músculos abdominais isolados ou combinados com os pélvicos, e também a movimentação de deslocamento no espaço, que serve tanto para acompanhar a música como para permitir a observação da dança, contemplando toda a platéia.

As figuras em "círculo", simbolizando o início da vida, e na forma de "oito", simbolizando a infinidade da vida, são amplamente utilizadas em diversas dimensões, também isoladas ou em combinações.

Muitas vezes, em apresentações de coreografias ou improviso, a dançarina sustenta o “shimmy” (tremido) de quadris e trabalha as outras partes do corpo em uma dinâmica diferente, ou apresenta uma vibração generalizada e bem controlada de todo o corpo enquanto cabeça, mãos e quadris acompanham a dramaticidade e acentuações da música.

Além de conter esses movimentos básicos, a dança costuma ser acrescida de giros, cambrées, espirais e trabalho de chão este último, extremamente típico. A dançarina, no trabalho de chão, senta-se ou deita-se sobre as pernas flexionadas, ou ainda deita-se na lateral do corpo, e mantém movimentos ondulatórios, circulares ou em forma de oito, com partes do corpo.

Quando são utilizados acessórios, estes são combinados com a movimentação específica da dança, em códigos existentes para cada um, sendo que a dança é sempre renovada, a partir da criatividade das dançarinas com novos passos.







Apesar de ser denominada dança do ventre, movimenta todo o corpo, por fora e por dentro, promovendo uma massagem em órgãos internos, devido às contrações fortes na execução de alguns passos específicos. Por esse motivo algumas dançarinas insistem em atribuir-lhe outro nome, um que possa expressar melhor a dança por inteiro, já que a movimentação não é só localizada no ventre. De qualquer forma, a movimentação executada pelo ventre é muito peculiar, e a maior parte das pessoas, incluindo dançarinas e o público leigo e especializado em dança concordam em referir-se a esta dança como dança do ventre.

As pernas e pés, na forma tradicional, são utilizados apenas para a sustentação e o deslocamento da bailarina, sem muita ênfase em seus movimentos, como se a bailarina fosse uma serpente.

Os joelhos mantêm-se quase o tempo todo semi-flexionados,  para a execução dos passos de quadril, para permitir a amplitude de movimentos em ambas articulações (quadril e joelho).

 

    1. A Dança do Ventre e o Parto



Aulas práticas de um curso de Educação para o Parto, ministrado em um dos principais hospitais de Nova York, tenta realizar em poucos meses um treinamento nos músculos pélvicos para preparação para o parto. Este curso tem como objetivo fortalecer músculos pélvicos utilizados tanto para a sustentação da gravidez como para auxiliar na hora do parto, e também pode ser praticado para recuperar a forma e tônus muscular após o nascimento do bebê. Na visão de Gaby Oeftering, isto deveria ter sido iniciado na pré- adolescência para surtir um efeito significativo. Gaby Oeftering é uma dançarina alemã especializada em dança do ventre durante a gravidez. Estudou medicina étnica na Suíça; produziu ma série de vídeos explicativos sobre aulas de dança do ventre direcionadas às mulheres  grávidas e escreveu artigos publicados em diversos sites (WALDROP, 2002).







Estas descrições estão no artigo intitulado “Belly Dance and Childbirth”, (“Dança do Ventre e Parto”) contido no site da referência e também publicado em uma revista por Dinicu (1996). A primeira aula do curso, descrita na apostila do hospital prescreve exercícios de concentração cujo objetivo seria aprender a controlar grupos musculares. A orientação é atentar para uma forte contração de uma parte muscular e relaxamento absoluto das demais.

A segunda aula inicia com o comando para ficar em pé com os joelhos soltos, pés paralelos. Depois, mover a pélvis para frente, contraindo as nádegas e os músculos abdominais inferiores. Feito isso se deve deitar de costas, com os joelhos flexionados, pressionar o chão firmemente com as costas e  simultaneamente contrair a musculatura do abdômen. E em seguida, relaxar.

Estes movimentos de contração e relaxamento dos músculos abdominais, e a movimentação que é executada deitada fazem parte da dança do ventre e da preparação utilizada nas aulas, normalmente. Uma das mães que fez parte do curso, que era descendente de árabes e conhecia a movimentação utilizada nos passos da dança, descreveu um dos exercícios desse curso como sendo similar ao passo do camelo. Esse passo consiste em uma movimentação para frente e para trás da pélvis, ao mesmo tempo são executadas contrações e relaxamento da musculatura abdominal de forma a desenhar um círculo, ou uma onda com a parte abdominal do corpo (DINICU, 1996).

A musculatura envolvida no parto que a dança do ventre fortalece é descrita por Waldrop (2002): glúteos, quadríceps, musculatura do assoalho pélvico, reto abdominal, transverso e oblíquo abdominais, e até mesmo a musculatura vaginal e períneo, no momento da execução dos redondos menores, que são pequenos círculos desenhados com o quadril.

Uma descrição mais detalhada da musculatura acionada durante os passos variados envolvendo o abdômen e quadril, executados na dança do ventre:

  1. Abdômen, região anterolateral: reto do abdômen, piramidal do abdômen, oblíquo externo do abdômen, oblíquo interno do abdômen, transverso do abdômen, diafragma.

  2. Abdômen, região posterior: quadrado lombar, iliopsoas, psoas menor

  3. Abdômen, região inferior: isquiococcígeo, vagina, músculo esfíncter da uretra







  1. Região do quadril: glúteo máximo, glúteo médio, glúteo mínimo, piriforme, gêmeo superior, obturatório interno, gêmeo inferior, obturatório externo, quadrado femoral.

5. Pernas: quadríceps, músculo grácil, sartório, gastrocnêmio medial, gastrocnêmio lateral, poplíteo.

 

Durante palestra proferida pela ginecologista e obstetra Eveline Novacki, no SESC Pompéia, em 1998, a médica afirmou que a dança do ventre promove uma auto-massagem nos órgãos internos, tanto no aparelho reprodutor da  mulher, quanto no aparelho urinário, propiciando uma irrigação sanguínea maior em toda a região pélvica interna, pelo fato da dançarina executar e treinar sempre uma movimentação muscular abdominal intensa. Por esse motivo, a prática desta dança estimula o funcionamento dos órgãos envolvidos nesses aparelhos. Dessa forma, pode favorecer a ovulação, fazendo jus ao seu nome de dança da fertilidade, e para quem a pratica como rotina previne possíveis doenças e decorrências do envelhecimento, como a incontinência urinária e a flacidez perineal (NOVACKI, 1998). (p.50)

 

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