Thomas Khun, físico e filósofo da ciência, define que todas as realizações científicas universalmente conhecidas e que, durante algum período, fornecem problemas e soluções para determinada comunidade, é considerada paradigma (KUHN, 1962). Um paradigma representa um conjunto de fundamentos, regras e valores sobre os quais a comunidade cientifica desenvolve suas atividades, sem precisar reformular a cada momento os fundamentos de seu campo.
Ainda para Kuhn, ao longo da exploração científica ocorre de algumas concepções do paradigma vigente começarem a falhar levando a um período de crise do conhecimento. Conforme as falhas se multiplicam e começam a atingir pontos vitais das teorias vigentes em um paradigma, chega a hora de substituí-lo, dando espaço para a reconstrução de novas teorias e novos conceitos. Ocorrendo o que Kuhn chamou de Revolução Científica.
Ao falar do modelo de educação atual, construído ao longo de séculos e séculos de desenvolvimento científico e tecnológico, não seria incorreto apontar que vivemos um período de crise. Os modelos de escola são mutáveis, apresentam diferentes finalidades e objetivos ao longo da história, variando segundo a realidade da sociedade de cada época.
No entanto, o modelo de escola atual está fundamentado pelas concepções do paradigma clássico, ou seja, totalmente baseado no determinismo e no racionalismo de René Descartes. Para se chegar ao conhecimento verdadeiro é necessário fragmentá-lo e dividi-lo em partes cada vez menores, compreendendo-as primeiro a fim de facilitar a compreensão do todo.
Construído desta maneira, podemos notar o reflexo das concepções clássicas sobre o sistema de educação atual. O conhecimento está fragmentado e diluído ao longo de todas as etapas da educação, desde a creche até a universidade. A escola atual se estrutura em áreas do conhecimento, as quais se dividem em cursos, disciplinas e até em conteúdos disciplinares específicos de cada área. Os conteúdos são, muitas vezes, lecionados sem nenhuma sequência ou relação entre si. Por exemplo, vejamos o caso da física, em que os conteúdos de mecânica são tratados sem relação com termodinâmica ou eletromagnetismo, como se fossem blocos isolados de conhecimento.
Porém, a sociedade e os seus valores mudam, bem como suas necessidades e os desafios de cada época. Para a Física, a grande mudança começou a ocorrer no início do século XX. Em razão da realização de diversos estudos e experimentos, como a proposta da quantização da energia realizada por Max Planck em 1900, os quais fizeram com que o determinismo característico da Física clássica entrasse em colapso. Esse processo foi alavancado com a introdução dos conceitos de probabilidade e estatística no desenvolvimento de novas teorias físicas, como a relatividade e a física quântica, marcando o início do desenvolvimento da visão contemporânea das Ciências.
A natureza não é tão organizada e perfeitamente compreensível pelo uso exclusivo da razão como se supunha anteriormente.
Toda essa crise causou um enorme alvoroço e levou à um período de revolução científica. Seus impactos não foram sentidos apenas pela academia, mas também à uma transformação na visão paradigmática da sociedade. Essas mudanças refletem sobre o modelo de educação escolar. Agora, é preciso superar a compartimentação do ensino. É necessário promover a integralização entre as disciplinas e as práticas escolares, sem ignorar que o conhecimento é complexo e não podemos reduzi-lo a regras simples e a leis gerais definidas dentro de cada área do conhecimento.
Além disso, é preciso considerar todo o caráter humano do conhecimento. Precisamos mostrar o porquê fazemos ciência e porque ela é importante. Atualmente, vivemos em um mundo dinâmico e globalizado em constante transformação. Ao passo que a academia discute assuntos como a computação quântica, mudanças climáticas e a edição de DNA, parte da sociedade acredita que a vacina pode causar autismo e que o aquecimento global é criação de uma grande conspiração marxista. Não podemos culpá-los, já que é o nosso sistema de ensino que está ultrapassado, o nosso papel é repensar e inovar, por isso escolhemos fazer ciência. Sendo clichê, é preciso lembrar que “A educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo” – Paulo Freire.
*texto publicado na 4ª edição do Jornal ciencializando