
Efeito da musica no cerebro

em 11 de Abril de 2025
Sim, música também é para pessoas surdas — para toda pessoa surda que quiser.
Mas como isso é possível, se ela não escuta?
A questão está na forma como entendemos o que é música e o que é som.
De acordo com José Miguel Wisnik (1999, p. 17), o som é “uma propagação ondulatória que gera vibração nos corpos ao seu redor”. Ou seja, o som não é apenas algo que ouvimos, mas também algo que sentimos. Ele pode ser percebido de maneira tátil, por meio das vibrações no corpo, no chão, nos objetos — é uma experiência física e sensorial, não apenas auditiva.
É por isso que Ana Carolina Martins e Ana Roseli Santos (2022, p. 36) afirmam que “é necessário repensar os processos didáticos fundamentados apenas nos aspectos auditivos da música, porque é possível sentir a música com o corpo todo”.
A partir dessa compreensão, educadoras como Juliana Bischoff (2017) destacam que a relação do indivíduo surdo com a música não é inexistente, mas diferente:
Não há dúvidas quanto à capacidade e a sensibilidade que o surdo possa ter em relação à prática musical, porém há que se possa claro que a relação do surdo com a música é diferente (Bischoff, 2017, p. 3).
Essa diferença exige de nós, professores de música, criatividade, escuta ativa e sensibilidade pedagógica. É possível e necessário adaptar as práticas musicais para ampliar essa experiência sensorial — usando instrumentos de percussão, amplificadores de vibração, luzes, movimento corporal, sinalização visual, entre outras estratégias.
Além disso, é fundamental compreender a surdez não apenas como ausência de audição, mas como uma forma específica de estar no mundo, com identidade e cultura própria. Como afirma Gesser (2009), a pessoa surda desenvolve outras formas de se relacionar com o ambiente e com os outros, e isso precisa ser respeitado e valorizado.
A Lei nº 14.768/2023 reconhece oficialmente a surdez como uma limitação auditiva de 41 dB ou mais, mas essa definição não dá conta de tudo o que significa ser surdo (Brasil, 2023). Cultura, experiência e vivência são parte dessa identidade.
Como professora de música, acredito e vivencio que a música pode e deve ser para todas as pessoas, inclusive aquelas que não escutam com os ouvidos, mas com o corpo, a alma e a presença.
Referências:
BISCHOFF, Juliana. Prática de conjunto com Surdos: um relato de experiência. In: CONGRESSO NACIONAL DA ABEM, 2017.
BRASIL. Lei nº 14.768, de 22 de dezembro de 2023. Dispõe sobre a garantia dos direitos da pessoa com deficiência auditiva no acesso à música. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/lei/L14768.htm. Acesso em: 22 jul. 2025.
GESSER, Audrei. LIBRAS? Que língua é essa?: crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009.
MARTINS, Ana Carolina dos Santos; SANTOS, Ana Roseli Paes dos. Eu ouço música com o meu corpo todo e você? In: ENCONTRO SOBRE MÚSICA E INCLUSÃO, 2022, Natal. Anais [...]. Natal: UFRN, 2022.
WISNIK, José Miguel Soares. O som e o sentido: uma outra história das músicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.