O que é o fenômeno da crase?

Entenda de uma vez por todas o que é a crase e como usar o acento grave

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Aprender o que é e como funciona a crase não é uma tarefa tão difícil assim! A crase é uma regra gramatical que assusta boa parte dos estudantes, seja da escola, faculdade e até mesmo de concursos públicos. Isso ocorre, principalmente, porque ela é ensinada por meio do famoso “decoreba”, assim como muitos outros conteúdos.

Mas por trás da regra da crase existe uma lógica que facilita o seu entendimento e torna o aprendizado muito mais orgânico. E é essa lógica que eu passarei a vocês.

O que é a crase?

Crase vem do grego Krásis e significa fusão, contração. Na gramática da nossa língua, é a junção de duas letras “a”. O primeiro “a” é uma preposição e o segundo é um artigo feminino. Isso mesmo! A crase não é o acento grave (`) propriamente dito, mas sim a união das letras “a”.

Para facilitar a visualização, vamos convencionar aqui que a preposição ficará entre colchete [ ] e o artigo ficará entre parênteses ( ). Olha só:

[a]+(a) = à

Mas por que isso ocorre? A melhor forma de falar sobre isso sem entrar em outras regras que (provavelmente) vão confundi-lo é através de exemplos. Então vamos lá! Observe a oração abaixo:

Eu fui à igreja.

A letra “a” nessa oração tem, corretamente, a crase marcada pelo acento grave. Olhe como ela fica no raio-x:

Eu fui [a]+(a) igreja.

Como funciona?

O verbo “ir” necessita da preposição “a” para se ligar ao substantivo “igreja” (vocês já aprenderam sobre isso quando estudaram regência verbal e nominal). “Igreja”, por sua vez, é um substantivo feminino que normalmente está acompanhado do artigo feminino “a” (Exemplo: A igreja). É por isso que os professores sempre dizem que a crase só ocorre antes de substantivos femininos, porque não há como ocorrer a fusão entre a preposição “a” e o artigo “o”, por exemplo.

Portanto, quando a preposição do verbo é um “a” igual ao artigo do substantivo, há a crase. É fácil de entender: para não precisar pronunciar as duas letras, escreve-se apenas uma e acrescenta-se o acento grave (`).

Identificando essa situação quando formos escrever, basta grafar um “a” com o acento grave (`), desta forma: “à”. Mas atenção! A pronúncia permanece como se houvesse apenas uma letra “a” na frase, e não duas. A oração finalmente ficaria: "Eu fui à igreja.”

A fim de facilitar o entendimento, dê uma olhada neste exemplo inverso.

Eu fui ao parque.

Na oração acima, a palavra “parque” é masculina. Portanto, o artigo marculino “o” substitui o artigo feminino “a”. Mesmo sendo uma palavra masculina, os termos se juntaram (mas não se fundiram formando a crase), pois nossa língua possui essa tendência. Veja como ficou a frase no raio-x:

Eu fui [a]+(o) parque.

Macetes

Bom, a lógica por trás da regra da crase você já entendeu, agora vou passar alguns truques que vão te ajudar caso você fique com dúvidas.

Substitua a preposição “a” por alguma outra preposição (para, de, em, por). Apenas haverá crase (à) se aparecerem as preposições juntamente com o artigo: para a, da (de+a), na (em+a), pela (por+a). Exemplos:

- Minha família foi a praia.
- Minha família foi para a praia.
Portanto:
- Minha família foi à praia.

- Vou falar a cozinheira.
- Vou falar com a cozinheira.
Portanto:
- Vou falar à cozinheira.

- A vítima compareceu a delegacia.
- A vítima compareceu na delegacia.
Portanto:
- A vítima compareceu à delegacia.

- Manter o amor as mulheres.
- Manter o amor pelas mulheres.
Portanto:
- Manter o amor às mulheres.

- Nós vamos a Brasília.
- Nós vamos para Brasília.
Portanto:
- Nós vamos a Brasília.

Substitua a palavra feminina por uma palavra masculina de significado semelhante, assim, o artigo também será substituído intuitivamente pelo artigo “o”. Se aparecer “ao” então há a crase. Exemplos:

- Vão a praça.
- Vão ao parque.
Logo:
- Vão à praça.

- A sala cheirava a gasolina.
- A sala cheirava a gás.
Logo:
- A sala cheirava a gasolina.

Como já disse antes, os exemplos são muito importantes para aprender a crase, então observe com atenção esses aqui:

Eu fui à praça;

Eu fui [a]+(a) praça;

Eu falei à diretora;

Eu falei [a]+(a) diretora;

Nós fomos à praia;

Nós fomos [a]+(a) praia;

Alguém bateu à porta;

Alguém bateu [a]+(a) porta;

Nós vamos à escola;

Nós vamos [a]+(a) escola.

Substantivo feminino elíptico

Como disse o professor Luft, só ocorre crase se houver artigo feminino e só há artigo feminino se há palavra feminina. Porém, pode acontecer dessa palavra feminina estar elíptica, subentendida na oração. Veja os exemplos:

Esta praça é semelhante à de Florianópolis.
Esta praça é semelhante à praça de Florianópolis.

Eu cheguei à Duque de Caxias e parei.
Eu cheguei à avenida Duque de Caxias e parei.

Enfim, faça muitos exercícios, observe sua fala e sua escrita e tente se corrigir, aplicando a crase da maneira correta. Os exercícios farão com que você nem precise mais pensar para acertar a crase, pois fluirá naturalmente.