Sempre que posto meu desenho em algum lugar ou quando mostro meu trabalho para alguém, eu escuto o quanto a pessoa gostaria de desenhar ou de ter o “dom” do desenho.
Primeiro de tudo quero deixar claro aqui que não existe isso de DOM. Você pode até ter facilidade para desenhar, gostar ou até ter uma inclinação para o desenho, mas você precisa praticar, desenhar de vez em quando ou com frequência. Desenhar/ilustrar é uma prática!
Mas então, é isso? Você precisa praticar e ponto?
Mais ou menos! Existem outras coisas que podem facilitar e te fazerem efetivamente a começar a desenhar.
Primeiro de tudo, além de esquecer essa coisa de “dom” é também esquecer essa coisa de comparação.
1 - Não se compare.
Desenhar, como já disse, é um processo. Quem começou hoje, já terá um dia de vantagem de quem começar amanhã, e por isso não podemos nunca querer comparar o nosso processo com outra pessoa. Temos que comparar apenas com o nosso!
A internet é um grande abismo e as pessoas mostram ali o que elas querem. Processos fáceis, rápidos e mágicos existem apenas na internet. Na realidade, tem trabalho duro, erros, acertos, desafios e uma longa caminhada.
Não se compare com quem está a anos na estrada ou com quem começou ontem, se você está começando hoje. Se compare apenas com você!
Faça algo hoje e faça de novo amanhã, e de novo e de novo e de novo.
2 - Rotina
Fazer de novo, de novo e de novo, nada mais é do que transformar o ato de desenhar em rotina. Ter um horário para sentar e desenhar. Se você não consegue desenhar todos os dias, consuma desenho. Como assim?
Veja referências, veja filmes, livros, embalagens, cartões, anúncios. Tudo o que tem desenho! Consuma a ilustração/desenho no seu dia a dia, mesmo que não seja desenhando. Você precisa se familiarizar com algumas coisas, alguns traços, coisas que gosta coisas que não gosta. Precisa fazer do desenho sua rotina. Ter sempre um pouquinho.
3 - Referência.
No livro “Roube como um artista de Austin Klein” ele diz que ninguém cria nada novo, apenas fazemos o que já foi feito de formas diferentes, e que para podermos fazer precisamos roubar coisas que gostamos de outros artistas. (De novo) Como assim?
Você ama a ilustração de um artista X, porque você gosta de como ele pinta o fundo ou como faz as expressões ou até como utiliza a luz nas suas composições. Roube isso para o seu trabalho, use aquele tipo de pintura em uma obra sua, faça expressões que tenham aqueles traços que você gosta, reproduza aquela luz. Não é copiar! Não é fazer exatamente igual e vender a ideia como sua, é acrescentar ao seu repertório aquela coisa que você gosta tanto.
Ninguém cria nada do nada, é preciso repertório, é preciso ter em sua rotina o ato de ver, observar e absorver aquilo que você gosta e o que não gosta. É utilizar como ferramenta de estudo artistas que admira e tentar dar a sua identidade aquilo.
Ninguém vai fazer nada como você faz, a não ser que seja um falsificador profissional! Porque nossa assinatura está no nosso traço, na nossa ideia, na nossa forma de segurar o lápis.
Não sei se você já ouviu falar sobre isso, mas assim como a letra, o traço tem sua identidade. Era possível saber se uma obra de arte era verdadeira ou falsa, observando o traço ou as pinceladas do artista, mesmo em artistas abstratos como Pollock.
Para estudo, você pode replicar o que quiser, para entender o conceito. Mas lembre-se, nunca divulgue uma arte que não é sua como sua. É errado e pode gerar um processo!
Quer divulgar nas redes sociais? Marque a pessoa, deixe claro que foi caso de estudo, envie para a pessoa para que ela seja avisada. Pinterest não é referência, é preciso clicar na imagem e tentar encontrar quem é a pessoa responsável. Tenha respeito pela a arte do outro, assim como você espera que respeitem a sua arte.
4 - Traços leves.
Muito se fala sobre o não uso da borracha. Eu particularmente não sou a melhor pessoa para falar sobre isso porque sou uma “apagadora” compulsiva. Mas, é importante você entender e ter ciência sobre os seus erros e sobre suas etapas, então minha dica é, trabalhe com traços leves.
Se você está trabalhando no papel, isso evita que você marque e destrua a folha e vá criando camadas sem precisar taaaanto do uso da borracha e se você está no digital use as camadas com opacidade para fazer esse trabalho.
Vá construindo o seu desenho, evitando apagar! Por camadas vá fazendo o caminho e sobrepondo etapas. No papel, você pode usar diferentes cores para facilitar o olhar, com traços leves que quase não são vistos ao final.
E no digital, mantenha as camadas ali, com a opacidade bem baixa, para que você possa ver o caminho que te levou até ali e possa entender como chegar naquele ponto final. E depois de concluir você pode ocultar as camadas, mas nunca apague. Saber de onde veio é sempre tão importante quanto saber para onde vai.
E por último, mas nem de longe a menos importante:
5 - Gatilhos.
Assim como fazer exercício físico, ler todos os dias e escovar os dentes, desenhar precisa se tornar um hábito. E uma das técnicas para criar novos hábitos é desenvolver gatilhos. O que você faz que te dá vontade de desenhar? Ou o que você faz que te transporta a um momento gostoso que te faz querer desenhar? Essas coisas são importantes.
Tanto para o exercício físico, quanto ler todos os dias e desenhar, não existe motivação, existi disciplina. E essa disciplina se desenvolve ao criar uma rotina e criar um gatilho.
Por que não existe motivação? Porque é IMPOSSIVEL estar motivado todos os dias. Tem dias que você acordou mal e não quer fazer nada, tem dia que você tá com preguiça, tem dia que você simplesmente só não quer fazer nada, e tá tudo bem. Mas tem dias que você vai precisar fazer e para isso é preciso da disciplina e gatilhos, para manter em ordem o seu plano e sua rotina.
O gatilho pode ser qualquer coisa. Pode ser um horário, uma roupa, um lugar, uma música.
Eu, por exemplo, tenho a música como meu maior gatilho. Sempre que to com preguiça, mas sei que tenho que desenhar, coloco uma playlist específica para me ajudar a entrar no clima e pronto, já estou mais próxima de querer desenhar do que estava antes.
Entenda o que te faz querer desenhar ou que te faz pelo menos suportar a ideia de ir desenhar e use isso a seu favor. Fazendo um desenho a cada 3 meses vai te levar aonde você quer com muiiiiiiiiiiiito mais lerdeza do que se você desenhasse todos os dias.
E como uma dica bônus, deixo aqui um ponto: Não existe material ideal para começar a desenhar, existe apenas desculpas.
Se você quer hoje, pegue qualquer folha de papel e um lápis e comece. Não deixe que as desculpas te atrasem!
E outra coisa, não queira começar com um super desenho realista. Comece desenhando objetos simples a partir de observação e formas básicas. Ninguém aprendeu a anda logo que saiu da barriga da mãe, então também não queira ser um Picasso no dia para a noite, por isso… (baby steps) vá aos pouquinhos!
Espero que tenham gostado e caso queiram aprender sobre ilustração digital, ilustração e arte digital, só me chamar que minha primeira aula é gratuita.
Abraços e até!