Antropologia.

Definição de Cultura para Edward Tylor

Edward Tylor, um dos pioneiros da antropologia, definiu cultura em sua obra seminal "Primitive Culture" (1871) como “aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade”. Essa definição reflete algumas características fundamentais do conceito de cultura segundo Tylor:

1. Totalidade: Para Tylor, a cultura é um sistema que abrange vários aspectos da vida humana, incluindo tanto práticas materiais (como artefatos e tecnologia) quanto aspectos imateriais (como crenças e valores).

2. Aquisição: A cultura é vista como um fenômeno adquirido, o que significa que não é inata, mas sim transmitida de geração em geração através da socialização.

3. Complexidade: Tylor reconheceu que as culturas são complexas e multifacetadas, variando amplamente entre diferentes sociedades.

4. Evolução: Ancorado em concepções iluministas e evolucionistas, Tylor acreditava que as culturas se desenvolvem ao longo do tempo, passando por estágios de evolução que podem ser comparados entre sociedades diferentes.

Cultura para Franz Boas

Franz Boas, frequentemente considerado o "pai da antropologia americana", adotou uma abordagem diferente em relação à cultura. Ele é amplamente associado ao relativismo cultural, uma corrente que enfatiza a importância de entender as culturas em seus próprios contextos, sem hierarquizá-las.

1. Relativismo Cultural: Boas argumentava que todas as culturas são válidas e devem ser compreendidas a partir de seus próprios valores e lógicas internas. Essa abordagem contrasta com a perspectiva evolucionista de Tylor, que tendia a classificar culturas em uma hierarquia de desenvolvimento.

2. Estudo Contextual: Ao estudar os inuítes, Boas destacou como a cultura deles era crucial para a adaptação ao ambiente ártico, enfatizando a criatividade e a complexidade das soluções culturais que surgem em resposta a desafios específicos.

3. Critica ao Evolucionismo: Boas desafiou as ideias evolucionistas que pressupunham que culturas mais "primitivas" eram inferiores. Ele sustentava que a diversidade cultural é um produto de processos históricos e ambientais únicos.

Análise Crítica

Prós da Abordagem de Tylor:

• Amplitude: A definição abrangente de Tylor permite uma compreensão holística da cultura, considerando vários aspectos da vida social.
• Base para Comparações: Sua visão evolucionista fornece uma base para comparar diferentes culturas e suas trajetórias históricas.

Contras da Abordagem de Tylor:

• Hierarquização: O enfoque evolucionista pode levar à hierarquização das culturas, sugerindo que algumas são superiores a outras.
• Determinismo Cultural: A ideia de que culturas seguem um caminho evolutivo fixo pode ser excessivamente simplista e não considerar a dinâmica e a complexidade das interações culturais.

Prós da Abordagem de Boas:

• Valorização da Diversidade: A ênfase no relativismo cultural ajuda a valorizar e respeitar a diversidade cultural, evitando estigmas associados a culturas diferentes.
• Enfoque Contextual: A abordagem de Boas permite uma análise mais profunda das condições históricas e sociais que moldam cada cultura.

Contras da Abordagem de Boas:

• Desafios de Comparação: O relativismo pode dificultar a comparação entre culturas, pois cada uma é vista em seus próprios termos, o que pode limitar análises mais amplas sobre interações culturais e influências globais.
• Risco de Isolamento Cultural: A ênfase no entendimento contextual pode, em alguns casos, levar a uma visão excessivamente isolada de culturas, ignorando as conexões e interações entre elas.

Conclusão

A definição de cultura por Tylor e a abordagem de Boas representam duas correntes significativas na antropologia. Enquanto Tylor fornece um conceito amplo e comparativo, Boas promove uma valorização da diversidade cultural e uma crítica às noções de hierarquia cultural. Ambas as abordagens oferecem insights valiosos, mas também apresentam limitações que devem ser consideradas na análise antropológica contemporânea.