SINONÍMIA E PARÁFRASE
Por: Naharan P.
30 de Junho de 2019

SINONÍMIA E PARÁFRASE

Semântica

Português Pré-Vestibular Concursos Ensino Superior

SINONÍMIA E PARÁFRASE

Sinonímia

A sinonímia lexical, situada em uma perspectiva referencial, “ocorre entre pares de palavras e expressões, entretanto, definir exatamente essa relação é uma questão complexa, que vem perseguindo estudiosos da linguagem há séculos”. (CANÇADO, p.48)

Podemos denominar sinonímia como a relação de semelhança entre as palavras. Esta relação incorre em questões ligadas ao sentido, as caracterizações e as propriedades no mundo, tanto de palavras e expressões.  Dessa forma, “dois termos são chamados sinônimos, quando apresentam a possibilidade de se substituir um ao outro em determinado contexto.”. (PIETROFORTE; LOPES, 2011, p.137)

Alguns manuais e livros escolares convencionaram tratar a relação de semelhança das palavras como se elas pudessem apresentar o mesmo sentido, mas é importante que se fique atento. Conforme nos ensinam Geraldi e Ilari (2006), não existem sinônimos perfeitos, porque para que expressões e palavras pudessem ser consideradas exatamente iguais, haveria, necessariamente, de se observar uma mesma caracterização de objetos e propriedade. Em muitas ocasiões é notável que em termos de substância, as palavras são relativamente iguais, mas com distinções de propriedade, isto é, de sentido.

Para ficar mais claro, vamos imaginar que um jornalista esteja escrevendo um texto sobre uma expropriação. Assim, ele começa informando que uma família terá de sair de um determinado lugar. A primeira palavra escolhida é casa. Vejamos a oração a seguir:

Eles terão de sair de sua casa.

Mas ele nota que pode dar um outro tom à matéria jornalística e resolve trocar casa por lar. Embora ele tenha feito uma escolha satisfatória e coerente, não podemos dizer que foi feito o uso de uma palavra de mesmo sentido, porque as duas palavras não partilham a mesma propriedade no mundo. Lar nos leva a pensar em aconchego, também podemos imaginar a relação de convivência de uma família, enquanto casa não tem o mesmo teor afetivo. 

O jornalista ainda teria outras opções: apartamento, moradia, residência, etc.  Apartamento talvez não fosse uma boa escolha, porque em relação a casa, são estruturalmente diferentes, há uma diferença clara em termos de objeto. Ele talvez pudesse escolher moradia, se quisesse dar um tom mais social a sua matéria. Residência mostraria um tom menos afetivo, além de se tratar de uma palavra mais usada para fazer distinção entre lugares comerciais e não comerciais. Nesse sentido, as palavras a disposição do jornalista, com exceção de apartamento, são sinônimas, porque “para que duas palavras sejam sinônimas é preciso que façam, em todos os seus empregos, a mesma contribuição”. (ILARI; GERALDI, 2006, p. 44)

Para assegurar que uma palavra seja sinônima, há também um teste de orientação geral, cujo princípio elementar é a substituição. O teste consiste em substituir duas palavras, no contexto de qualquer frase ou oração, sem que assim se altere o seu sentido ou sem que a frase se torne falsa ou verdadeira dependendo da situação. Vejamos as proposições a seguir:

Mariana é bela

Mariana é bonita

Bela e bonita são palavras que passam no teste de sinônimos, porque ao usar uma em detrimento da outra, não se exclui sua propriedade. Não há uma mudança profunda dentro de um contexto específico. No entanto, há outros contextos menos simples em que se elevam as concepções estéticas fundamentais para tais palavras não serem consideradas sinônimas.  

Em relação ao contexto, é importante ressaltar sua relevância para se tomar uma palavra como sinônima de outra. Isto é, “a sinonímia é um fenômeno gradual, e os diferentes contextos são mais ou menos exigentes quanto ao princípio.”. (ILARI; GERALDI, 2006, p. 46)

Um dos exemplos que podemos emprestar de Ilari e Geraldi (2006) é justamente os pares seco/enxuto. Isto porque as palavras podem ser tomadas em sentido literal e em sentido metafórico, mas de acordo com o contexto, tais palavras terão sentidos totalmente opostos. Vejamos em:

Mariana respondeu de uma forma seca.

Dissemelhante de:

Mariana respondeu de forma enxuta.

Notamos, nas duas orações, clara oposição de sentido. Na primeira, podemos imaginar que além de ser suscinta, a moça pode ter sido rude ou desinteressada. Na última, podemos apenas imaginar que a moça respondeu de forma econômica, objetiva.  

A reflexão sobre as premissas contextuais também nos leva a concluir que a sinonímia está intrinsecamente relacionada aos preceitos de escolha e adequação. Embora muitas palavras sejam sinônimas, por vezes elas podem ser totalmente inadequadas em situações particulares.

Vamos imaginar que um soldado morra em combate, e que a função de um oficial seja comunicar, pessoalmente, à sua família. Há algumas possibilidades para fazer tal comunicado, mas nem todas elas são adequadas. O oficial não pode demonstrar total insensibilidade dizendo à família:

o soldado x morreu.

Seria, certamente, mais adequado dizer:

o soldado x faleceu.

No entanto, seria totalmente inapropriado outras construções metafóricas como: ele bateu as botas, ele nos deixou, ele não está mais entre nós, ele descansou, ele fechou os olhos, etc.

Muitas dessas mesmas escolhas, usadas em poemas, textos jocosos, piadas ou textos publicitários, por outro lado, poderiam não apenas ser adequadas, como também dar algum estilo ao autor ou chamar maior atenção a um texto. Um exemplo é a construção metafórica do poeta Manuel Bandeira, mais, especificamente, no poema “O homem e a morte”:

Esqueleto armado de foice

Que a mãe lhe um dia levou. (BANDEIRA,1987, p. 170)

 

Ser levado pela mãe, no poema de Manuel Bandeira, é o mesmo que morrer. É uma forma sútil e poética de se falar sobre a morte.

 

 

Paráfrase

À semelhança dos sinônimos, a paráfrase dispõe de, “parafraseando” Garcez (2001), uma organização textual com sentido que é capaz de substituir uma outra. Dessa forma, agora saímos da seara das palavras e expressões e adentramos no campo das sentenças.  

“Na paráfrase, podemos simplificar frases e períodos ou transformá-los estilisticamente; palavras complexas podem ser substituídas por expressões mais simples e familiares, também pode ocorrer o contrário, dependendo do objetivo do produtor. (GARCEZ, 2001, p. 58 apud KÖCHE; BOFF 2015, p.91) 

Para Koch (2012), “paráfrase é uma atividade de reformulação, cuja principal função é a de reforçar a argumentação, elevando o intercâmbio discursivo ao expoente de uma ação interativa, que vai além das características de transposição de domínios sintáticos e lexicais.”

Observa-se, nesse sentido, que a paráfrase é um fenômeno muito útil na elaboração de textos, seja para progressão textual, evitando repetições nas retomadas de assuntos e temas, seja ao buscar coesão e coerência em nossas produções. Desse ponto de vista, é sempre valido ressaltar que a paráfrase não se trata de pura repetição, e que, portanto, há a necessidade de um entendimento assertivo do texto analisado, para que assim seja possível modificá-lo.

Dentro da operação semântica, segundo Ilari, há algumas possibilidades de paráfrase. Vejamos alguns exemplos recorrendo a conversão de predicados, com substantivos, adjetivos, verbos, preposições e expressões:

 

Mariana é mais alta do que ela / Ela é mais baixa do que Mariana.

Marcos é filho de Mariana / Mariana é mãe de Marcos

Mariana comentou sobre o assunto / O assunto foi comentado por Mariana. 

Ela chegou antes de Mariana / Mariana chegou depois dela.

Mariana não tem paciência / Mariana é impaciente.

A discussão com Mariana foi tediosa / A discussão com Mariana foi chata.

Por causa do ônibus, Mariana se atrasou / O ônibus provocou o atraso de Mariana.

Dentro da operação sintática, segundo Ilari, há algumas possibilidades de paráfrase. Vejamos alguns exemplos por meio da voz passiva verbal:

 

Mariana beijou o namorado / O namorado foi beijado por Mariana.

Ela lavou toda a roupa / Toda a roupa foi lavada por ela.

Escrevemos a carta / A carta foi escrita por nós.

 

Outra possibilidade é a substituição de verbos por advérbios ou o contrário:

 

Mariana geralmente fala de forma mais profunda / Mariana costuma falar de forma mais profunda. 

Ela parece mais tranquila hoje / Aparentemente ela está mais tranquila hoje.

 

 

 

 

Referências  

 

BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1987.

CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica: noções básicas e exercícios. São Paulo: Contexto, 2012.

ILARI, Rodolfo. Introdução à semântica – brincando com a gramática. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2011.

ILARI, Rodolfo; GERALDI, João Wanderley. Semântica. 11. ed. São Paulo: Ática, 2006.

KOCH, I.G.V. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2012.

KÖCHE, Vania Salton; BOFF, Odete Maria Benetti; PAVANI, Cinara Ferreira. Prática textual: atividades de leitura e escrita. 11.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015. 

PIETROFORTE, Antonio Vicente Seraphim; LOPES, Ivan Carlos. A semântica formal. 137 -139 In: FIORIN, José Luiz. Introdução à Linguística II: princípios de análise. 5.ed. São Paulo: Contexto, 2011.

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Especialização: PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA EM LÍNGUA INGLESA (Unialphaville)
Professora de Português com Graduação em Pedagogia e Mestrado em Linguística
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