
Acredite em você.

em 07 de Março de 2023
O filme "O Auto da Compadecida" (direção de Guel Arraes) é um daqueles filmes que só de falar o nome a gente já lembra da musiquinha. "Presepada" é o nome da incônica melodia que ao som da gaita de João Grilo (Matheus Nachtergaele) oferecida a Severino (Marco Nanini) ficou na nossa mente.
O Alto da Compadecida é uma obra escrita por Ariano Suassuna e retrata com delicadeza a vida e religiosidade nordestina. Em meio a padres e cangaceiros, valentões e covardes, a obra encanta tanto pela simplicidade quanto pela maestria do enredo.
O nome da música"presepada" vem da palavra presépio que, por sua vez, quer dizer "estábulo". Presépio nem sempre foi a cena estática que enfeitamos no natal. São Francisco de Assis foi um religioso da Igreja Católica que começou a prática de fazer uma encenação teatral do nascimento de Jesus. Essa encenação era feita com esmero e rapidamente ficou muito conhecida.
Presepeiro era quem montava o presépio e provavelmente de encenações de má qualidade improvisadas em cidades do interior do Brasil, o termo ganhou o significado de ser algo ridículo.
Quando a canção Presepada vira trilha sonora do filme, temos a ideia de encenação teatral do interior, mas que ganhou uma nova dimensão: um cenário simples, retratando pergonagens simples, mas com uma riqueza na caracterização das pessoas e que aqui não é algo ridículo: pelo contrário, a beleza e esmero das pessoas encontra-se justamente da humildade do povo que mesmo pecador, encontra sua redenção reconhecendo suas faltas.
Ariano Suassuna acerta em cheio a retratação do povo e o filme acerta em sua adaptação. A música, (mais do que ficar ficar grudada em nossos ouvidos) embeleza ainda mais, eternizando a cena e os personagens. O Alto da Compadecida, me arrisco a dizer, é um filme que está à altura do livro e é um livro que está à altura do bom povo brasileiro.