
Química é indispensável

em 30 de Maio de 2020
Fabricação de microcanais com alta condutividade elétrica abre caminho para o uso em dispositivos eletrônicos e eletroquímicos
Uma pesquisa conduzida por três doutores em Química descobriu que a complexa estrutura vegetal do bambu pode ser um ótimo condutor elétrico. Por meio dela, é possível instalar microcircuitos integrados capazes de acender luzes, atuar como sensores e até aquecer água.
Os cientistas observaram que o bambu apresenta uma grande quantidade de microcanais da espessura de um fio de cabelo, perfeitamente alinhados. O uso de sofisticados equipamentos de microscopia eletrônica permitiu mapear com precisão toda a estrutura e abriu possibilidades de usá-las para construir circuitos elétricos e dispositivos eletroquímicos integrados.
O trabalho está em andamento sob responsabilidade dos pesquisadores Mathias Strauss e Murilo Santhiago, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em parceria com Omar Ginoble Pandoli, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
O professor Mathias explica que a ideia é aplicar a nova funcionalidade do bambu em casas inteligentes e sustentáveis. “Podemos ter o bambu fazendo parte de circuitos elétricos: iluminação, aquecimento de água e ambiente. Na mesma estrutura, conseguimos verificar se a água está segura ou se o ar tem algum contaminante”.
A enorme dificuldade e o custo de se usar meios convencionais da indústria para fabricar microestruturas com este arranjo e dessa dimensão micrométrica estão entre as principais vantagens de se aproveitar do bambu para construir esses circuitos elétricos.
Além disso, Murilo ressalta que o bambu já é conhecido pelo apelo sustentável e traz muitas vantagens para quem decide utilizá-lo. “Há espécies que crescem muito rápido e isso torna o material abundante na natureza e de fácil cultivo”, aponta.
A pesquisa agora vai explorar formas de usar a estrutura de microcanais para armazenar energia dentro da estrutura do bambu. Outra possibilidade que será explorada é a transmissão de dados, como se fossem fibras óticas. “Teremos a casa completa funcionando à base de bambu: a casa feita do vegetal, com circuitos elétricos, que consegue armazenar energia solar e ainda transmite dados. Tudo por meio do bambu”.
As expectativas em torno do projeto são promissoras e os pesquisadores já patentearam o processo. O potencial tecnológico do trabalho rendeu a publicação de artigo no Journal of Materials Chemistry A, da Royal Society of Chemistry (RSC) no mês passado.