Por que no argumento weberiano a posse de terras não converte automaticamente as proprietárias e os proprietários em uma aristocracia?
Oi Gabriel, como nenhum professor te respondeu em tanto tempo, indico que submeta essa pergunta à seção tarefas desta plataforma
Olá Gabriel.
Bom espero que possa contribuir um pouco com sua questão. Primeiro as questões no pensamento de Max Weber para posse de terra, propriedade privada, direito a herança eram mais questões para serem observadas a luz de uma constituição agrária do que de leis específicas ou imposições pessoais. Para ele essas questões eram vistas apenas como parte de história social e ele observava o aspécto mais jurídico, então defendia que essas questões deveriam ser abrangidas por um sistema de constituição agrária. Na aristocracia, essas questões estão ligadas à nobresa e talvez ele entenda a necessidade de se formular uma constituição com cuidados a esses temas.
Também tem a questão da introdução do sistema capitalista, ainda de forma discreta e suscinta contribuindo para mudanças naquelas formas de assentamentos adotadas num sistema aristocrático, ou seja, terras que eram divididas para cultivo e por consequência se estipulavam impostos que deveriam ser pagos pelos camponeses. Na verdade a propriedade nesse caso nunca existe e somente a posse mesmo da terra. Sugiro que leia o artigo: "Questão Agrária e Modernização na Periferia do Capitalismo: uma Incursão pelos Estudos Agrários de Lênin e de Max Weber", do autor Felipe Maia Guimarães da Silva, publicado na Revista de Ciências Sociais da PUC-Rio, nº 8, jan/jul, 2011, pp. 119-145. Vai te dar melhor entendimento e embasamento sobre o tema em questão. Espero ter ajudado de alguma forma. Obrigado!
Olá,
No contexto da teoria weberiana, a posse de terras não converte automaticamente os proprietários em uma aristocracia porque Max Weber propôs uma visão complexa e multidimensional das estratificações sociais, enfatizando que o status social não se reduz unicamente à propriedade ou ao controle de recursos materiais, como a terra. Segundo Weber, a estratificação social é influenciada por múltiplos fatores, e a simples posse de terra não implica em um acesso garantido ao poder ou ao prestígio social necessário para formar uma aristocracia.
Weber define a sociedade em três dimensões principais de estratificação:
Classe social: Refere-se à posição econômica de um indivíduo ou grupo dentro da sociedade, determinada principalmente pelo acesso a bens materiais, como propriedade, renda e educação. A classe é mais uma questão de possibilidade de mercado e das condições econômicas que um indivíduo ou grupo pode explorar.
Status social: Está relacionado ao prestígio, à honra ou ao reconhecimento que um indivíduo ou grupo tem dentro de uma determinada comunidade ou sociedade. O status é definido por características como a reputação social e a prestigiosa associação a determinadas práticas ou valores, sendo uma forma de reconhecimento que pode ou não ser relacionada diretamente à posse de bens materiais.
Partido: Refere-se à possibilidade de um grupo exercer poder político ou influenciar decisões coletivas. Um partido é uma organização voltada para o controle do poder político, com um conjunto de interesses comuns, independentemente da classe social ou do status.
Embora a posse de grandes extensões de terra tenha sido, historicamente, um dos pilares da estratificação social em várias sociedades, Weber destaca que a transformação de um proprietário de terras em aristocrata depende de mais fatores do que simplesmente a posse. A aristocracia, no sentido weberiano, não é definida apenas pela propriedade de terras, mas pela capacidade de exercer poder e influenciar as decisões políticas, o que se relaciona a um status social elevado e a privilégios exclusivos que transcendem a mera posse de bens materiais.
Por exemplo, em várias sociedades, a terra pode ser um indicativo de riqueza ou renda, mas se o proprietário não estiver inserido em redes de prestígio ou não tiver acesso político (seja por meio de cargos ou alianças estratégicas), ele não será considerado parte da aristocracia. A aristocracia exige que os membros não apenas possuam terras, mas também que estas sejam associadas a poderes políticos e sociais, como diplomacia, reconhecimento social e exclusividade nas relações de poder.
Weber fala em termos de potência social para descrever aqueles que, devido à combinação de propriedade, poder político e prestígio, podem exercer uma influência dominante sobre os outros. Isso implica que, para ser parte de uma aristocracia, não basta ser proprietário de terras; é necessário também que a pessoa possua rede de poder, como a capacidade de controlar recursos públicos, influenciar decisões e garantir o cumprimento de interesses sociais ou econômicos em larga escala.
Na sociedade moderna, a propriedade de terras ainda pode ter um papel importante na estratificação social, mas Weber observa que em sociedades mais complexas, o poder tende a se dispersar. Ou seja, mesmo proprietários de grandes terras podem estar afastados de posições políticas de relevância se não tiverem capital político, como no caso de indivíduos de classe média alta ou empresários que podem ter acesso ao poder através de redes econômicas e políticas mais amplas, como indústrias ou movimentos sociais, sem que isso dependa da posse de terras.
Portanto, para Weber, a transformação de um proprietário de terras em aristocrata não ocorre de forma automática porque a aristocracia é composta por indivíduos que detêm não apenas riqueza material, mas também poder político e status social. A posse de terras pode ser um fator importante, mas não é suficiente para garantir um lugar no círculo aristocrático. Aristocratas são definidos, em última instância, pela capacidade de exercer influência, pelo prestígio social que desfrutam e pela posição dominante que ocupam na sociedade, o que envolve muito mais do que a simples propriedade de bens materiais.