Opa! Beleza, Gabriel!
Primeiramente, acho que você está meio confuso, porque adquiriu muitas informações e não consegue organizá-las. Uma grande confusão é que a queda do feudalismo e surgimento do capitalismo estiveram conectadas. Errado: muito embora ocorressem ao mesmo tempo, não foram correlacionadas. Em outras palavras, não há uma causa direta entre o fim do feudalismo e ascensão do capitalismo. Pura e simplesmente aconteceu que o feudalismo estava declinando, e o capitalismo surgiu e salvou a pátria.
Depois, é preciso salientar que aquilo que chamamos "feudalismo" foi um conjunto de medidas e padrões políticos, sociais e econômicos comuns na Europa durante a Idade Média, mas não pode ser generalizado. Outrossim, muito embora houvessem práticas comuns entre os feudos, cada um tinha suas peculiaridades, cada um adotou políticas diferentes em vários aspectos.
A queda do sistema feudal foi, portanto, um fenômeno generalizado e não pontual, quer dizer: não houve um marco, revolução ou evento que marcou definitivamente o fim do feudalismo. O fato é que, no século XIV, ocorre a ascensão da burguesia nas sociedades medievais; provocando uma movimentação comercial. Além disso, ocorre a crise do campo, revoltas camponesas, a Peste Negra. Esses fatores forçaram os senhores feudais, juntamente com os burgueses, a procurar políticas públicas para desenvolver estruturas econômicas. Por favor também entenda que o significado de "políticas públicas" difere violentamente do significado atual, uma vez que os senhores feudais não tinham, a priori, qualquer compromisso público-social; eles eram nobres e aristocratas, e não estadistas.
Em suma, o motor primário da transformação feudalismo para capitalismo foi a ascensão burguesa e a crise do sistema rural, compelindo os gerentes do sistema a desenvolver práticas econômicas comerciais.
A revolução tecnológica que você citou, encabeçada pela Revolução Industrial inglesa, foi apenas o último prego no caixão do sistema feudal. Isso porque essa revolução foi o principal motivo para o desenvolvimento de indústrias, aumentando o fluxo e a massa operária e valorizando a urbe.
Já quanto as cruzadas: em princípio, a primeira cruzada, que foi sancionada pelo papa Urbano II em 1095, tinha cunho puramente religioso mesmo, retomar a Terra Santa. Então, a princípio, a reabertura do comércio no Mediterrâneo, e subsequente domínio de Veneza e Gênova como centros comerciais, não eram objetivos principais (e nem previstos) das cruzadas. Um dos grandes objetivos era também a reunificação da cristandade europeia - lembre-se que a Igreja dividiu-se em Romana e Ortodoxa pouco antes da divisão do Império Romano -, objetivo que tornou-se impossível quando da invasão de Constantinopla, na quarta cruzada. Depois, as cruzadas tiveram como objetivo a expansão da cristandade para terras distantes. Os objetivos econômicos das cruzadas só estavam claros a partir da quarta ou quinta cruzada (foram seis, certo?). É muito importante notar que cada cruzada foi "evoluindo" seu pensamento, devido ao contato com culturas diferentes, viagem e comércio que as cruzadas trouxeram. Houve desenvolvimento de movimentos culturais, culminando com a literatura romântica e a filosofia medieval. Além disso, a expansão das vendas de indulgências (as cruzadas eram também a oportunidade de muitos cruzados "limparem seus nomes com Deus" e seus pecados) levou ao protestantismo; também os embates militares trouxeram a Santa Inquisição pro jogo.
Resumindo: as cruzadas não tiveram objetivos econômicos a princípio, mas sim religiosos e militares. Constantinopla foi perdida, Jerusalém foi perdida, e as cruzadas foram vistas como grandes derrotas da Igreja. A partir daí elas tomaram um rumo comercial depois que as motivações primárias falharam.
Agora, quanto à sua pergunta: como um sistema inerte como o feudalismo provocou a expansão do comércio e uma revolução tecnológica, além de uma pressão sobre o campesinato? Com o surgimento da burguesia e todos os problemas com o sistema ruralista, subsegue o aumento do comércio e, por fim, a industrialização. Para suprir esse comércio, e depois as fábricas, os camponeses foram pressionados para trabalharem. Ao mesmo tempo, o comércio no mediterrâneo estava aquecido graças aos cruzados e suas aventuras ultramarinas. O êxodo rural ocorre com a expansão das cidades, mas isso é mais para o final da Idade Média.
Quem veio primeiro: a revolução tecnológica ou o pensamento mercantil? O embrião da transformação do medievalismo para a modernidade foi o pensamento mercantil. A revolução tecnológica procedeu esta transformação.