A afirmação de que Hegel concebeu uma ontologia radicalmente distinta, se não oposta, ao materialismo hobbesiano pode ser compreendida a partir de algumas diferenças fundamentais nas abordagens filosóficas de cada um.
Conceito de Realidade: Hobbes, um filósofo materialista, argumenta que a realidade é composta apenas de matéria e que tudo, incluindo o comportamento humano e a sociedade, pode ser explicado em termos de movimentos e interações materiais. Em contraste, Hegel desenvolve uma ontologia que enfatiza a importância do espírito (ou Geist) e do desenvolvimento histórico e dialético. Para Hegel, a realidade não é apenas uma soma de entidades materiais, mas é uma totalidade dinâmica que se revela através do processo de autodesdobramento do espírito.
Dialética e Desenvolvimento: A abordagem dialética de Hegel implica que a realidade está em constante evolução, em oposição a uma visão estática. O processo dialético é central para a sua compreensão do mundo, em que contradições e conflitos são vistos como motores de desenvolvimento e mudança. Hobbes, por outro lado, tende a ver a realidade social como um combate por interesses materiais, com a razão e o contrato social sendo ferramentas para garantir a segurança e a ordem.
Relação entre Indivíduo e Estado: Hobbes vê o Estado como uma criação artificial, um resultado do contrato social que emerge da necessidade de evitar o caos e a guerra de todos contra todos. Para Hegel, o Estado é a realização do espírito ético e representa uma instância do desenvolvimento da liberdade. A liberdade, para Hegel, não é a mera ausência de restrições, mas a realização plena da individualidade dentro de um contexto ético-social.
Emancipação e Liberdade: Hegel tem uma concepção mais avançada da liberdade, que é alcançada através do reconhecimento intersubjetivo e do desenvolvimento das instituições sociais e políticas. Para ele, a liberdade é realizada na constituição de uma esfera social e política que permite a autodesrealização do indivíduo. Hobbes, por sua vez, foca na liberdade como a ausência de impedimentos, levando o indivíduo a buscar segurança acima de tudo.
Essas diferenças fundamentais na concepção do que é a realidade, a natureza do desenvolvimento histórico, a relação entre indivíduos e sociedade, e a natureza da liberdade ilustram por que se pode afirmar que a ontologia de Hegel é radicalmente distinta do materialismo hobbesiano. Hegel oferece uma visão mais complexa e dinâmica da realidade que envolve aspectos metafísicos e espirituais, enquanto Hobbes se fixa em uma explicação materialista e mecanicista.