Para um paciente de 60 anos com histórico de COVID-19, uso de anticoagulante (Xarelto), hipertensão (Benicar) e dislipidemia (rosuvastatina), além de espinha bífida corrigida cirurgicamente com sequelas neuromusculares (atrofia e perda de movimento na perna direita), é essencial adotar uma abordagem cuidadosa. Abaixo, vou sugerir algumas orientações gerais para avaliação e elaboração do plano de reabilitação.
1. Variáveis fisiológicas a serem mensuradas pré e pós-esforço
Para garantir a segurança deste paciente, as seguintes variáveis fisiológicas devem ser monitoradas antes, durante e após o esforço físico:
- Frequência Cardíaca (FC): para monitorar resposta cardiovascular. Idealmente, calcular a frequência cardíaca de treinamento e observar respostas anormais ou exageradas ao esforço.
- Pressão Arterial (PA): uma resposta hipertensiva ou hipotensiva pode indicar necessidade de ajuste na carga do exercício.
- Saturação de oxigênio (SpO2): dado o histórico de COVID-19, o paciente pode ter uma capacidade pulmonar reduzida. Monitorar a saturação (especialmente em atividades aeróbicas) é essencial para evitar hipoxemia.
- Escala de Percepção de Esforço (Borg): avalia a percepção subjetiva do paciente ao esforço, complementando as medidas objetivas.
2. Capacidades físicas a serem avaliadas para retorno ao trabalho
Para possibilitar o retorno ao trabalho, as seguintes capacidades físicas devem ser avaliadas:
- Força Muscular: especialmente dos membros inferiores e tronco, focando no lado afetado (perna direita). Avaliações isocinéticas ou de força manual podem ser úteis.
- Resistência Muscular Localizada (RML): para garantir que o paciente consiga realizar atividades repetitivas sem fadiga excessiva.
- Capacidade Aeróbica: com testes como o teste de caminhada de 6 minutos (TC6M), para avaliar o condicionamento e a tolerância ao esforço.
- Equilíbrio e Propriocepção: com testes como o Time Up and Go (TUG) e o teste de apoio unipodal, já que o trabalho como mecânico envolve posturas estáticas e dinâmicas, necessitando de controle postural.
- Movimentos Funcionais e Mobilidade Geral: avaliar capacidade de agachar, flexão de joelho e tornozelo, e amplitude de movimento em membros inferiores.
3. Microciclo de treinamento de dois meses (8 semanas)
Abaixo está um esboço de um microciclo de treinamento com foco no condicionamento físico geral, fortalecimento muscular e controle postural. O microciclo propõe duas fases principais (4 semanas cada).
Fase 1 (Semanas 1 a 4): Adaptação e Condicionamento Básico
Objetivo: Adaptar o paciente ao treino e desenvolver força e mobilidade básica.
- Frequência: 3x por semana
- Duração das Sessões: 45-60 minutos
Exercícios:
- Treino Aeróbico Leve (10-15 min): Caminhada em esteira com baixa intensidade, mantendo FC em torno de 50-60% da FC de reserva.
- Exercícios de Força Muscular:
- Extensores e flexores de joelho (carga leve a moderada, 2-3 séries de 12-15 repetições)
- Exercícios unilaterais para a perna afetada (como extensão de quadril e abdução com faixa elástica)
- Fortalecimento de tronco e abdômen (pranchas modificadas, elevação pélvica)
- Equilíbrio e Propriocepção:
- Apoio unipodal com e sem auxílio (2-3 séries de 20-30 segundos)
- Exercícios de propriocepção em superfície instável (como discos de equilíbrio ou Bosu)
Variáveis a controlar:
- Frequência cardíaca
- Percepção de esforço (6-8 na escala de Borg)
- Sinais de desconforto ou dor
Fase 2 (Semanas 5 a 8): Fortalecimento e Especificidade Funcional
Objetivo: Aumentar a resistência muscular, aprimorar o equilíbrio e preparar para movimentos funcionais.
- Frequência: 3x por semana
- Duração das Sessões: 50-65 minutos
Exercícios:
- Treino Aeróbico Moderado (15-20 min): Caminhada com leve inclinação ou bicicleta ergométrica, mantendo FC em torno de 60-70% da FC de reserva.
- Exercícios de Força Muscular (Progressão de Carga):
- Extensores e flexores de joelho (carga moderada a alta, 3 séries de 10-12 repetições)
- Fortalecimento unilateral da perna afetada com pesos leves para aumentar a resistência
- Movimentos compostos para fortalecimento do core (como pranchas laterais e abdominais)
- Exercícios Funcionais:
- Simulações de atividades do trabalho (agachamento parcial com peso leve, movimentos de torção)
- Transferências de peso e movimentos de agachar e levantar para aumentar a resistência postural