Qual atividade econômica foi responsável pelo desenvolvimento do traçado da malha ferroviária apresentada a partir da segunda metade do século XIX no território brasileiro?
A atividade econômica responsável pelo desenvolvimento da malha ferroviária brasileira na segunda metade do século XIX foi a cultura do café, especialmente no eixo Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais). Esse processo está diretamente ligado aos interesses da elite agrária cafeeira e à demanda por transporte eficiente do produto até os portos para exportação.
Necessidade de Escoamento
O café, principal produto de exportação do Brasil no século XIX, exigia transporte rápido e em grande volume das fazendas do interior para os portos (como Santos e Rio de Janeiro).
As estradas de terra eram inadequadas para cargas pesadas e sujeitas a intempéries.
Expansão das Linhas Férreas
São Paulo Railway (1867): Primeira grande ferrovia, ligando Jundiaí ao porto de Santos (SP), financiada por capital inglês.
Estrada de Ferro Central do Brasil (1858): Conectou o Vale do Paraíba (RJ/SP) ao Rio de Janeiro, escoando café das fazendas fluminenses e paulistas.
Ferrovias em Minas Gerais: Como a Estrada de Ferro Mogiana, para escoar café do interior paulista e mineiro.
Interesses dos Barões do Café
A elite cafeeira pressionou o governo imperial para conceder subsídios e garantias de lucro a empresas ferroviárias (muitas estrangeiras).
As ferrovias seguiam rotas que beneficiavam grandes fazendeiros, ignorando regiões não cafeeiras.
Modelo "Exportador" das Ferrovias
O traçado era radial, ligando o interior produtor aos portos, sem integrar outras regiões do país.
Exemplo: Enquanto São Paulo e Rio tinham ferrovias robustas, Nordeste e Norte ficaram com linhas precárias ou inexistentes.
Dependência do café: Quando a crise de 1929 abalou o mercado cafeeiro, muitas ferrovias foram abandonadas.
Falta de integração nacional: O sistema ferroviário não foi planejado para conectar o país, mas apenas para servir à exportação.
Legado atual: Muitas ferrovias do Sudeste ainda seguem traçados do século XIX, enquanto outras regiões ficaram com infraestrutura deficiente.
Ferrovia | Ano | Trajeto | Função Principal |
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São Paulo Railway | 1867 | Santos–Jundiaí | Escoar café do interior paulista |
Central do Brasil | 1858 | Rio–Vale do Paraíba–MG | Transporte de café e passageiros |
Mogiana | 1875 | Campinas–Ribeirão Preto | Expandir fronteira cafeeira |
Açúcar: Já estava em declínio no século XIX e usava transporte fluvial no Nordeste.
Borracha: No Norte, dependia de rios (como o Amazonas), sem necessidade de ferrovias até o boom da borracha (fim do século XIX).
Mineração: Só ganhou relevância ferroviária no século XX (ex.: Estrada de Ferro Vitória-Minas, para minério de ferro).
A cafeicultura foi a força motriz por trás da malha ferroviária brasileira no século XIX, criando uma infraestrutura fragmentada e voltada para a exportação. Esse legado explica, em parte, a dependência histórica do Brasil do transporte rodoviário no século XX, já que as ferrovias não foram pensadas para integração nacional, mas sim para atender a uma elite agroexportadora.