Os cercamentos (enclousure em inglês) são uma prática que começaram nos séculos finais da Idade Média, mas o seu impulso mais forte se dá do século XVII em diante. Elas eram promovidas pela nobreza inicialmente para usar as antigas terras de uso comum para a criação de gado visando produzir lã para a exportação (especialmente para as cidades produtoras de tecidos de Flandres na atual Bélgica) e para abastecer a produção local de tecido com esse produto. Séculos depois a gentry (uma nobreza aburguesada de origem mais recente e status social menor) e os yeomens (camponeses enriquecidos) continuam e aprofundam essas práticas prejudicando a massa empobrecida do campesinato nesse processo que acaba expulso ou sendo obrigado a se retirar das aldeias em que viviam e se transformam em proletários rurais e urbanos. Boa parte do primeiro operariado fabril nas Grã-Bretanha eram esses camponeses expulsos ou os seus descendentes.
Depois do século XVII os cercamentos são parte do processo de introdução do capitalismo e da propriedade privada burguesa nas zonas rurais inglesas. Elas foram uma política do estado inglês e contaram com diversas leis (as Leis dos Cercamentos ou Enclousure Acts em inglês) que as promoveram e sustentaram. esses códigos aplicavam também multas e prisões aos camponeses que não os seguissem.
Assim foi se criando e/ou desenvolvendo (dependendo da região) um mercado da terra que privava os camponeses pobres da possibilidade de adquirir lotes e como, devido a influencia no regime inglês pós revolução de 1689 do pensamento do filósofo John Locke, a propriedade era a base da liberdade e a condição para reivindicar direitos políticos, milhões de pessoas na Inglaterra e Escócia sofreram um pesado processo de exclusão social e marginalização política. Como muitos camponeses não conseguiam trabalho acabavam virando camelôs, mendigos ou ficavam longos tempos desempregados. Assim, muitas cidades britânicas desenvolviam um miséria que chocava os contemporâneos e incomodavam as elites da Grã-Bretanha cujos políticos responderam desenvolvendo leis brutais que promoveram encarceramento em massa, açoitamentos públicos e enforcamentos (aqui se desenvolveu uma legislação arbitrária para aplicar essa pena sob a menor infração).
Os cercamentos envolviam muita violência com práticas corriqueiras de incêndios de aldeias , assassinatos, roubos de gado e colheitas dos camponeses e uso arbitrário da lei e do aparato estatal local por parte das elites econômicas. eles foram um gigante ato de expropriação do campesinato inglês e escocês pelas classes aburguesadas ou burguesas britânicas por meio do estado e, ou feita individualmente, ou através da força militar como se deu com os highlanders, os habitantes celtas e católicos das Terras Altas da Escócia.
Essas terras também tinham reservas de carvão mineral, minério de ferro em determinados casos e até sal mineral cuja exploração em moldes capitalistas era muito lucrativa. A mão-de-obra usada nessas exploração vinha, em grande parte, dos camponeses expulsos pelos cercamentos.
Dessa maneira, por volta de 1810-1820 o meio rural britânico ia assumindo o seguinte aspecto: predominância do latifúndio capitalista (administrado para gerar lucro privado) produzindo alimentos e material primas de origem agropecuárias para os centros urbanos e fabris; agrupamentos de aldeias localizadas de proletários rurais com serviços de abastecimentos para eles; esvaziamento populacional em grandes extensões do interior. haviam regiões de média e pequena propriedade, mas elas cada vez eram mais secundárias no ambiente social rural britânico.
Olá, Marcelo! O cercamento está ligado ao estímulo dado para a indústria têxtil na Inglaterra. As terras que antes eram usadas por camponeses agora eram destinadas ao pasto o que levou ao êxodo rural.