A servidão branca na América do Norte Inglesa é o fenômeno dos Indentured Servants (servos por dívida), pouco conhecida no Brasil, pois raramente aparece nos manuais escolares e são pouquíssimos os filmes de Holywood que a abordam. Ela existiu até a independência das Treze Colonias e foi um elemento importantíssimo no inicio do processo colonial inglês nas América tendo existido mesmo quando a escravidão negra se tornou a foma dominante de uso de mão-de-obra. O que ela era? Eram pessoas pobres nas Ilhas Britânicas que vendiam a sua liberdade para capitalistas individuais ou empresas que vendiam mão-de-obra nas colônias por um determinado tempo (em média sete anos) para depois serem libertadas (ao pagar a sua dívida que inclui todos os custos de transporte, manutenção, alimentação, etc) e terem um pecúlio ou um contrato assalariado de trabalho ou serem livres para ir aonde quisessem. Nesse período de servidão essas pessoas eram tratados como cativos, o que incluía trabalhos excessivos em lugares e condições insalubres, maus tratos, abusos físicos e sexuais, castigos cruéis, possibilidade de sofrer assassinato, ferimentos graves, amputações e morte precoce. Normalmente eram poucos os servos de dívidas que chegavam minimamente saudáveis ou mesmo vivos ao final do contrato. A grande diferença para os escravos africanos e indígenas era o fato de que a condição brutal do cativeiro ser legalmente temporária e eles pertencerem a casta racial branca, o que lhes colocava numa condição social distinta.
Indentured Servants podiam ser tanto homens como mulheres, adultos, adolescentes e crianças. Essas pessoas eram embarcadas em navios em condições semelhantes aos dos africanos escravizados, recebendo tratamento similar nos "navios branqueiros" e, quando desembarcadas, podiam, dependendo da situação serem expostas para o aluguel de maneira semelhante aos africanos escravizados recém-desembarcados.
Mas nem todos os indentureds servants vinham por "sua vontade própria". Haviam muitos homens, mulheres e crianças que eram sequestrados e embarcados a forças nos navios dos servos de dívida, mas como eram britânicos cristãos, e nas Américas brancos, legalmente viravam servos de dívida, mas na prática eram escravos brancos. Presos eram embarcados a força para a América ou "optavam" pela servidão da dívida para não serem executados por algum delito pequeno ou grave que houvessem cometido.
Havia um terceiro, e talvez maior grupo, em certos períodos, de indentureds servants, mas que por serem prisioneiros de guerra de religião e língua diferentes das dos britânicos reduzidos a servidão acabavam virando escravos disfarçados de servos de dívidas: os irlandeses, um povo católico de língua e cultural celta que foi maciçamente reduzido ao cativeiro nas guerras de conquista contra o seu país feita pelos ingleses e nas muitas rebeliões que os irlandeses travaram para se libertar do jugo de Londres.
Antes que os colonos tivessem capital suficiente para comprar os caros escravos africanos, os indentureds servants foram importantes como mão-de-obra nas colonias inglesas da América (Caribe incluído) e sua exploração permitiu um grande acumulo de capital que capacitou a transição para o uso em larga escala de africanos escravizados e enriqueceu tanto empresários rurais, como urbanos, comerciantes, traficantes de mão-de-obra ultramarinos e continentais além de fornecer, por meio de impostos, muitos recursos aos várias escalões do estado britânico.