O socialismo é um palavra usada para descrever experiências no qual, segundo uma definição presente em dicionários nós temos: "doutrina política e econômica que prega a coletivização dos meios de produção e de distribuição, mediante a supressão da propriedade privada e das classes sociais.". Sua história é muito rica tendo inúmeros teóricos, grupos políticos defensores e experiencias históricas, especialmente no século XX, embora podemos encontrar muitos precedentes desde a Antiguidade e ideias desses tipo estão presentes nas tradições religiosas cristã, muçulmana, budista e dos profetas hebreus do Antigo Testamento entre outras.
Na história contemporânea (1789 ao presente), o ideal socialista surgirá como a busca por um tipo de sociedade e organização econômica alternativa a ordem capitalista liberal a partir de tradições de crítica filosófico-cultural presentes em parte da tradição iluminista (lembremos, por exemplo, da denuncia contra a propriedade privada de Jean Jacques Rousseau no seu a Origem e o Fundamento Sobre a Desigualdade entre os Homens de 1755), vindo de correntes intelectuais do Renascimento (Thomas Moore-A Utopia- e Tomaso Campanella-A Cidade do Sol) e de certos economistas arbitristas espanhóis (Pedro de Valencia e sua denuncia dos ricos como "antropófagos" e "homicidas" em seu Discurso Sobre a Taxa do Pão) a ações de grupos políticos radicais durante a Revolução Puritana inglesa de 1648 como os Niveladores ou o igualitarismo econômico e social da reforma radical dos anabatistas.
Durante a Revolução Industrial na Inglaterra (e depois em outros países da Europa) se assistiu a uma crescente miséria das camadas populares em meio a uma forte expansão da riqueza acumulada e o grande desenvolvimento da produção material por meio da revolucionária tecnologia mecânica fabril do fim do século XVIII que tinha na maquina a vapor a sua base. Essa miséria era acompanhada da destruição gradual de grupos sociais inteiros como os artesãos tradicionais e o campesinato, ambos reduzidos a condição de trabalhadores assalariados sem propriedades e vitimas de feroz despotismo nos locais de trabalho por parte de seus patrões e na sociedade da época por não terem direitos políticos.
Para explicar esse fenômeno que chocava os observadores inteligentes de duzentos anos atrás surgirão correntes radicais dentro do setor mais avançado da tradição liberal (desde Adam Smith no fim da vida até John Stuart Mill no século XIX) até os críticos radicais que irão apontar que esse mal se deve ao fato de que as fabricas, embora sejam geridas coletiva,ente por sua natureza complexa e de grande porte, pertencem a indivíduos como propriedade privada que as dirigem para obter ganhos pessoais e exploram os seus empregados negando a eles direitos mínimos e tendo o apoio do estado para isso.
Surgirão diversas correntes criticas da sociedade capitalista liberal advogando uma luta intensa para substitui-la por outra o qual a caraterística central é a coletivização dos meios de produção de riqueza social (fábricas, campos, minas, grande comércio, serviços) para eliminar a desigualdade e promover uma distribuição de riqueza justa em uma sociedade planejada e regulada por meio da razão e da ciência.
Esses grupos vão dos chamados socialistas utópicos -ex: Saint Siomn, Charles Fourier, Robert Owen, Louis Blanc, etc- passando por Filippo Buonarroti, Proudhon, anarquista da segunda metade do século XIX e do século XX, a Liga dos Justos da metade do século XIX, August Bebel, Ferdinand Lassalle, os narodnikis russos, Karl Marx e Friedrich Engels e a poderosa tradição intelectual baseada neles (os marxistas) entre muitos outros.
Com o tempo teremos duas tradições maiores se enfrentando: a anarquista que prega o fim imediato do estado. da propriedade privada dos meios de produção, de toda a forma de organização politica com hierarquia e união autogerida e coletiva das sociedades no qual o ideal de liberdade do individuo é central; a tradição que emerge com Marx que defende que para chegar ao socialismo é preciso organizar e conscientizar em partidos, sindicatos e outras organizações a classe trabalhadora e deve a luta, dependendo da conjuntura histórica, buscar reformas democratizadoras politicas e sociais dentro da ordem liberal e burguesa e derruba-la por meio de uma revolução, apos o qual ainda existira por um tempo indefinido o estado e estruturas politicas hierarquizadas para se fazer a transição gradual ao comunismo (no qual o estado, mercado, dinheiro e estruturas hierárquicas desapareceriam) ao mesmo tempo em que defendem as conquistas da classe trabalhadora frente as investidas da burguesia.
Revoluções experiências anarquistas ocorreram na Espanha (1873-1876 e 1936-1939), durante a Revolução Russa de 1917, em Cristiania na Dinamarca e comunidades organizadas na Europa, EUA e América Latina. As marxistas ou inspiradas nessa tradição dominam os processos revolucionários do século XX desde a Rússia em 1917, passando pela China em 1949, Europa Oriental após a Segunda Guerra Mundial, Cuba, Afeganistão, África Portuguesa, Etiópia, Iemên do Sul , Vietnã, Laos e Camboja, etc; fora a tentativa de se passar ao socialismo no Chile de Salvador Allende (1970-1973) por meio de reformas graduais; experiências revolucionárias não-marxistas mas fortemente influenciado por ele: Egito nasserista (anos 1950 mas como mais enfase na década de 1960), Iraque e Síria Baathista, Peru de Juan Velasco Alvarado (1968-1975) e mesmo a Nicarágua sandinista de 1979-1989, etc. Podemos ainda citar revoluções socialista marxistas derrotadas militarmente: Irã de 1918 ao começo dos anos 1920, a Grécia no fim dos anos 1940, as Farcs colombianas, os marxistas guatemaltecos desde 1954, a Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional em El Salvador , O Partido dos Trabalhadores do Curdistão no Curdistão Turco entre 1984-1999, o Sendero Luminoso peruano dos anos 70-90, a Revolução dos Cravos em Portugal entre 1974-1976 (aqui um derrota por meios militares e políticos combinados), a revolução malaia de 1945-1960, etc.
Todas essas lutas se inspiram ou seguem o exemplo da bem sucedida Revolução Russa de 1917 (feita por vários grupos políticos) e do governo do partido Social-Democrata Russo, ramo bolchevique, que derrota outros grupos de esquerda ou os subalterniza, e, por meio de um estado centralizado (e sobre constante ameaça militar e vitima de duas invasões muito destrutivas: a durante a Guerra Civil de 1918-1922 e a nazista da Segunda Guerra Mundial-no caso aqui entre 1941-1945), distribui a riqueza social, eleva o nível de vida e cultura enormemente, desenvolve também de forma enorme a vida material e tecnológica chegando a ter muitas inovações-o programa espacial é o exemplo mais conhecido), emancipa as mulheres e desenvolve a cultura, língua e literatura de povos minoritários, mas com um preço enorme: uma perda das liberdades individuais- maior ou menos dependendo do momento-e que entrava em choque com o potencial criativo nas novas gerações que cresciam sob as profundas reformas sociais após 1917. Isto foi alvo de criticas sérias (estou excluindo aqui criticas desonestas de grupos de poder liberais e e fascistas e propagandas negras de todo tipo) de anarquista, socialistas de correntes secundarias e reformadores sociais, mas que reconheciam, por outro lado, as conquistas soviéticas.
Enfim, essa resposta está longa e eu termino colocando aqui um esquema das características do socialismo tirado do texto do professor Eduardo de Freitas postado no site Brasil Escola:
"Meios de produção socializados: no socialismo toda estrutura produtiva, como empresas comerciais, indústrias, terras agrícolas, dentre outras, são de propriedade da sociedade e gerenciados pelo Estado. Toda riqueza gerada pelos processos produtivos é igualmente dividida entre todos.
• Inexistência de sociedade dividida em classes: como os meios de produção pertencem à sociedade, existe somente uma classe; a dos proletários. Todos trabalham em conjunto e com o mesmo propósito: melhorar a sociedade. Por isso não existem empregados nem patrões.
• Economia planificada e controlada pelo Estado: o Estado realiza o controle de todos os segmentos da economia e é responsável por regular a produção e o estoque, o valor do salário, controle dos preços e etc. Configuração completamente diferente do sistema liberal que vigora no capitalismo, no qual o próprio mercado controla a economia. Dessa forma, não há concorrência e variação dos preços".