Boa noite Eduardo, tudo bem?
Para entendermos Simone de Beauvoir e principalmente sua obra feminista "O segundo sexo", é importante saber que esta foi uma obra escrita em 1949 e que ela é um expoente dos movimentos feministas de segunda onda que ocorreram principalmente na década de 60. A autora, nesta obra, diz que "Não se nasce mulher, torna-se". O que significa que o gênero é uma construção social, no caso tratato por ela, o feminino (a autora diferencia aqui o fator biológico do sexo) . Ao dizer que "A humanidade é masculina, e o homem define a mulher não em si, mas relativamente a ele; ela não é considerada um ser autônomo.” A autora postula que a base da falta de automonia feminina se deve a forma cultural como a sociedade é tratada e como as mulheres são colocadas como sujeito/ser humana a partir da perspectiva masculina e não de algo próprio, perdendo autonomia social, política e econômica. A separação societária nesta época detinha caracteristica de funções claras entre os gêneros. Essa separação entre os sexos que o feminismo tanto questionou repousa sobre a fragmentação radical da experiência humana. Por um lado, os homens exerciam a cidadania pública e, por outro, as mulheres governavam no mundo privado o âmbito das necessidades, afetos e desejos. Logo, não havia, para a autora, um corpo feminino autônomo no que se constituiu a esfera pública.
Tem outros fatores, mas acho que isto já responde bem sua pergunta. Bom trabalho!
Fontes e links úteis:
1 - https://medium.com/@4grausdemiopia/simone-de-beauvoir-e-a-segunda-onda-feminista-ab215667a0dd
2 - https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2018/01/5-reflexoes-para-entender-o-pensamento-de-simone-de-beauvoir.html
3 - https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/03/apos-70-anos-simone-de-beauvoir-ainda-mostra-caminho-da-liberdade-feminina.shtml
Simone de Beauvoir apresenta como impedimentos à autonomia da mulher, elementos de representação e exercícios de poder. Podemos entender isso melhor, se pensarmos na tão citada frase síntese do pensamento de Simone de Beauvoir: "Não se nasce mulher, torna-se mulher". Assim, as funções do corpo feminino (uma falácia biológica) e sua representação social, ou seja, objeto de desejo, maternidade, relações com a necessária castidade, etc, são situações relacionadas a uma construção cultural que determina, consequentemente, seu lugar na sociedade. Só isso? Não, as instituições como o noivado, o casamento, assim como os espaços geográficos, no caso da mulher o lar, a serem ocupados por ela, também são elementos de construção cultural. Estas construções ocorrem já na infância, nos processos educacionais e suas definições ocorrem em relação ao outro, que no caso é o homem, cuja construção sociocultural está vinculada aos demais espaços na sociedade.
Tentei ser um pouco mais simples, mas talvez isso se deva ao fato ser um simplório mesmo...rsrs. E este é um tema que se prolonga. Ah... e cuidado com a questão da originalidade de Beauvoir. Há quem tente afirmar que ela foi totalmente original, sem predecessores ou influências. Isso não existe. Ela era, em grande e inegável medida, fruto da mesma construção sociocultural que apontava e sobre a qual refletia. Uma personagem de seu tempo.
Espero ter ajudado em algo. Veja, há outros autores e autoras interessantes a serem consultados em relação a alguns temas abordados por Beauvoir, que podem contribuir muito para o entendimento destes. Se me permite gostaria de indicar sobre a questão do corpo David Le Breton, sobre a questão da maternidade Elizabeth Badinter e sobre as relações de poder no âmbito das representações Pierre Bourdieu.