01) O poema abaixo é de José Paulo Paes
Bucólica
O camponês sem terra
Detém a charrua
E pensa em colheitas
Que nunca serão suas.
(Em: Um por todos – poesia reunida. São Paulo: Brasiliense, 1986.)
O texto apresenta:
a) uma oposição campo/cidade, de filiação árcade-romântica.
b) um contraste entre o arcadismo do título e o realismo social dos versos.
c) um bucolismo típico da tradição árcade, indicado pelo título.
d) uma representação tipicamente romântica do homem do campo.
e) uma total ruptura com a representação realista do homem do campo.
02) Sobre a produção do Arcadismo no Brasil, analise as afirmativas a seguir e coloque V nas verdadeiras e F nas falsas.
( ) Tomás Antônio Gonzaga é considerado, ao lado de Cláudio Manuel da Costa, ícone da Literatura Árcade. Contudo, os dois iniciaram suas produções poéticas de modo diverso: o primeiro como poeta árcade e o segundo ainda dentro dos preceitos do Barroco.
( ) Tomás Antônio Gonzaga tem a obra poética pertencente a duas fases: a primeira é árcade, e a segunda tem traços românticos. Além disso, foi poeta satírico em As Cartas Chilenas, e lírico, em Marília de Dirceu.
( ) Como poeta árcade, o autor de As Cartas Chilenas utiliza o pseudônimo de Dirceu, que nutre amor pela musa Marília. Envolvido com o movimento dos inconfidentes, é degredado para a África, apenas regressando ao Brasil no final da vida.
( ) O autor de Liras de Dirceu revela sentimentalismo e emotividade em seus poemas, apontando, assim, para o pré-romantismo, que antecede o Arcadismo.
( ) Tendo Tomás Antônio Gonzaga sido preso como inconfidente, continuou a escrever poemas mais emotivos e pessimistas, passando a falar de si mesmo e lastimando sua condição de prisioneiro. A poesia que produz nesse período é a que mais contém características do Romantismo.
a) F - F - V - V - V
b) F - V - F - V - F
c) V - V - F - F - V
d) V - F - V - V - F
e) V - F - V - F - V
03) Leia o texto abaixo para responder à questão a seguir.
[4]
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
que viva de guardar alheio gado,
de tosco trato, de expressões grosseiro,
dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio 1casal e nele 2assisto;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite,
e mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
graças à minha estrela!
(...)
[5]
Tu não verás, Marília, cem cativos
tirarem o cascalho e a rica terra,
ou dos cercos dos rios caudalosos,
ou da minada serra.
Não verás separar ao hábil negro
do pesado esmeril a grossa areia,
e já brilharem os granetes de oiro
no fundo da 3bateia.
(...)
Não verás enrolar negros pacotes
das secas folhas do cheiroso fumo;
nem espremer entre as dentadas rodas
da doce cana o sumo.
Verás em cima da espaçosa mesa
4altos volumes de enredados feitos;
ver-me-ás folhear os grandes livros,
e decidir os pleitos.
Enquanto revolver os meus consultos,
tu me farás gostosa companhia,
lendo os fastos da sábia, mestra História,
e os cantos da poesia.
Tomás A. Gonzaga, Marília de Dirceu.
Glossário:
1casal: pequena propriedade rural.
2assisto: resido, moro.
3bateia: utensílio empregado no garimpo; espécie de gamela.
4altos volumes: referência a processos judiciais, pois o poeta era magistrado.
O excerto contém versos que atestam, de modo enfático, que, no Brasil, o Arcadismo, também chamado de Neoclassicismo:
a) desenvolveu-se em meio rural, ao contrário do caráter citadino que tinha no velho mundo.
b) procurou situar na realidade local os temas e formas de sua matriz europeia.
c) tornou-se nacionalista, abandonando o internacionalismo que é inerente a sua filiação classicista.
d) repudiou, em nome do maravilhoso cristão, as referências à mitologia pagã, greco-latina.
e) imiscuiu-se na política, o que lhe prejudicou a integridade estética.
04)
Acontecência
Acorda ligeira e vem olhar que lindo
sobre o morro sol se debruçar
leite novo espuma dessa madrugada
passarada vem te despertar
tantos pés descalços
posso ver meninos a correr na direção do dia
banho de açude alegre e lava o corpo
fruta fresca é pra te alimentar
acorda ligeira e vem ver que bonito
pelo pasto solta a vacaria
na barra da serra gavião campeiro
vem primeiro vento costurar
tantos pés descalços posso ver libertos
a correr na direção do dia
chuva desce pra regar a terra
engravidar sementes em frutas se tornar
NUCCI, Cláudio. Disponível em: < http://www.claudionucci.com.br/musica>. Acesso em: 07 set. 2014.
A letra da canção “Acontecência” aproxima-se do ideário estético do Arcadismo por:
a) adotar a convenção pastoral.
b) valorização espiritual.
c) valorizar o campo em detrimento da cidade.
d) propor uma vida equilibrada e sem excessos.
e) representar a natureza de modo bucólico.
1) Geralmente "bucólico" se refere a uma visão exaltada do campo, espectativa esta que é quebrada pelos versos. Logo, vemos um contraste entre o arcadismo do título e o realismo social dos versos.
2) A primeira e a segunda afirmações são verdadeiras porém a terceira é falsa pois Dirceu é um eu-lírico e não um pseudônimo além de ele não ter regressado mais ao Brasil depois do desterro.
3) No Brasil, o Arcadismo procurou situar na realidade local os temas e formas de sua matriz europeia, tendo em vista que continuou a ter caráter citadino (região do ciclo do ouro em Minas Gerais), não se vê um nacionalismo, nem repúdia às referências à mitologia pagã, como muito menos o envolvimento na política.
4) A canção "Acontecência" aproxima-se do ideário estético do Arcadismo por representar a natureza de modo bucólico, sendo um refúgio para a vida opressora nas cidades, sobretudo após a Revolução Industrial.