Texto 1:
“Isto é, a língua, por um lado, é provida de uma dimensão imanente, aquela própria do sistema em si mesmo, do sistema autônomo, em potencialidade, conjunto de recursos disponíveis; algo pronto para ser ativado pelos sujeitos, quando necessário. Por outro lado, a língua comporta a dimensão de sistema em uso, do sistema preso à realidade histórico-social do povo, brecha por onde entra a heterogeneidade das pessoas e dos grupos sociais, com suas individualidades, concepções, histórias, interesses e pretensões. Uma língua que, mesmo na condição de sistema, continua fazendo-se, construindo-se.”
(ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola Editorial, 2009,p. 21)
Texto 2:
Retrato do artista quando coisa
A menina apareceu grávida de um gavião.
Veio falou para a mãe: o gavião me desmoçou.
A mãe disse: você vai parir uma árvore para
A gente comer goiaba nela.
E comeram goiaba.
Naquele tempo de dantes não havia limites para ser.
Se a gente encostava em ser ave ganhava o poder de alçar.
Se a gente falasse a partir de um córrego a gente pegava murmúrios.
Não havia comportamento de estar.
Urubus conversavam sobre auroras.
Pessoas viravam árvore.
Pedras viravam rouxinóis.
Depois veio a ordem das coisas e as pedras
Têm que rolar seu destino de pedra para o resto
dos tempos.
Só as palavras não foram castigadas com a ordem natural das coisas.
As palavras continuam com seus deslimites.
Nas suas conchas puras?
(BARROS, M. Retrato do Artista Quando Coisa. Rio de Janeiro: Record, 1999, p. 77)
Para cumprir a tarefa:
Leia os textos anteriores;
Relacione ambos os textos e explique o que você entendeu das características da língua