Na frase "O aluno está buscando uma nota boa sendo que não estudara para o exame no último domingo", como a oração subordinada em negrito pode ser classificada?
Edcarlos,
Há duas classificações possíveis para a oração sendo que não estudara: subordinada adverbial concessiva (sendo que = embora) ou coordenada adversativa (sendo que = mas, porém), conforme demonstrado abaixo:
"O aluno está buscando uma nota boa, embora não tenha estudado (mesmo não tendo estudado, apesar de não ter estudo) para o exame no último domingo".
"O aluno está buscando uma nota boa; ocorre, porém, que não estudara para o exame no último domingo". Ou:
"O aluno está buscando uma nota boa, mas não estudara para o exame no último domingo".
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Veja, a seguir, cinco outros casos em que “sendo que”, numa espécie de coringa, assume diferentes significados, fazendo as vezes de várias conjunções ou locuções conjuntivas:
1. Com valor aditivo (= e).
Exemplo: Dois professores estiveram presentes no lançamento do livro, sendo que [= e] um deles foi o apresentador.
2. Com valor relativo (dos quais, das quais, entre os quais, entre as quais, do qual, da qual, de que).
Exemplo: Foram analisados vinte documentos antigos, sendo que [= dos quais] dois estavam severamente danificados.
3. Com valor causal (uma vez que, visto que, dado que, já que, como, devido a, graças a, por causa de, porque, porquanto, em função de, em razão de, em virtude de, na medida em que, desde que).
Exemplo: Sendo que [= visto que] você ficará aqui no fim de semana, poderemos começar a mudança amanhã de manhã.
4. Com valor conclusivo (de modo que, de forma que, de maneira que, de tal modo que, de tal maneira que, de tal forma que, de sorte que, de jeito que).
Exemplo: Foi rápido a abafar o assunto, sendo que [= de forma que] poucos entenderam o que estava acontecendo.
5. Com valor adversativo (mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto, apesar disso).
Exemplo: Foram selecionados dez candidatos, sendo que [= mas] dois não aceitaram a oferta de trabalho.
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Alguns gramáticos, a exemplo de Evanildo Bechara, Domingos Paschoal Cegalla, Geraldo Amaral Arruda e Maria Helena de Moura Neves, desaconselham o emprego da expressão “sendo que” para unir orações. Afirmam que muitas vezes convém dispensá-la por ser inútil. Entendem que a frase ficará melhor com a simples supressão do sendo que e sua substituição por ponto-e-vírgula. Outras vezes ficará melhor com o emprego da conjunção aditiva e ou de uma adversativa (mas, porém) ou de um pronome relativo. Outras vezes o sendo que pode ser substituído pelo gerúndio do verbo principal da oração introduzida por essa locução. E citam exemplos de casos a evitar, seguidos das respectivas formas recomendáveis:
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Uma das características de nossa sociedade global é que ela produz tendências de tempos em tempos. Assim é, por exemplo, no mundo da tecnologia. Assim também é no setor de vestuário, que lança no mercado o que imagina que pode virar moda, e muita gente adere, às vezes gostando ou não, mas o importante é estar na moda. O mesmo modismo acontece com a língua portuguesa, em que determinadas expressões são usadas à exaustão, por pura tendência linguística, sem que se questione sua legitimidade. Uma desses modismos é o coringa linguístico “sendo que”, empregado a torto e a direito, o que denota pobreza vocabular. Como mencionado, é chamado de “coringa” porque, tal como no baralho, em que substitui qualquer carta, na língua, “sendo que” tem sido usado frequentemente em múltiplas situações, com diferentes valores semânticos, como maneira fácil e indevida de "esticar" a frase.
pode ser classificada como uma oração subordinada adverbial concessiva. Isso porque ela expressa uma concessão em relação à primeira oração, indicando uma informação que contrasta com a expectativa natural do contexto
Olá, Edcarlos!
Perdão pela demora em te responder. Vi aqui outras respostas dizendo se tratar de uma oração coordenada adversativa, mas afirmo que isso não procede.
A oração subordinada "sendo que não estudara para o exame no último domingo" é uma oração subordinada adverbial causal.
Para atestar, experimente trocar o conector "sendo que" por "já que", "considerando que", "pois", ou mesmo "porque". Todos são conectivos de causa, assim como "sendo que".