HORA DA SESTA. Um grande silêncio no casarão.
Faz sol, depois de uma semana de dias sombrios e úmidos.
Clarissa abre um livro para ler. Mas o silêncio é tão grande que, inquieta, ela torna a pôr o volume na prateleira, ergue-se e vai até a janela, para ver um pouco de vida.
Na frente da farmácia está um homem metido num grosso sobretudo cor de chumbo. Um cachorro magro atravessa a rua. A mulher do coletor aparece à janela. Um rapaz de pés descalços entra na Panificadora.
[...]
Clarissa recorda. Foi no verão. Todos no casarão dormiam. As moscas dançavam no ar, zumbindo. Fazia um solão terrível, amarelo e quente. No seu quarto, Clarissa não sabia que fazer. De repente pensou numa travessura. Mamãe guardava no sótão as suas latas de doce, os seus bolinhos e os seus pães que deviam durar toda a semana. Era proibido entrar lá. Quem entrava, dos pequenos, corria o risco de levar palmadas no lugar de costume.
Mas o silêncio da sesta estava cheio de convites traiçoeiros. Clarissa ficou pensando.
Lembrou-se de que a chave da porta da cozinha servia no quartinho do sótão.
Foi buscá-la na ponta dos pés. Encontrou-a no lugar. Subiu as escadas devagarinho. Os degraus rangiam e a cada rangido ela levava um sustinho que a fazia estremecer.
Clarissa subia, com a grande chave na mão. Ninguém... Silêncio...
Diante da porta do sótão, parou, com o coração aos pulos. Experimentou a chave. A princípio não entrava bem na fechadura. Depois entrou. Com muita cautela, abriu a porta e se viu no meio duma escuridão perfumada, duma escuridão fresca que cheirava a doces, bolinhos e pão.
Comeu muito. Desceu cheia de medo. No outro dia D. Clemência descobriu a violação, e Clarissa levou meia dúzia de palmadas.
Agora ela recorda... E de repente se faz uma grande claridade, ela tem a grande ideia. “A chave da cozinha serve na porta do quarto do sótão.” O quarto de Vasco fica no sótão...
Vasco está no escritório... Todos dormem... Oh!
E se ela fosse buscar a chave da cozinha e subisse, entrasse no quarto de Vasco e descobrisse o grande mistério?
Não. Não sou mais criança. Não. Não fica direito uma moça entrar no quarto dum rapaz.
Mas ele não está lá... que mal faz? Mesmo que estivesse, é teu primo. Sim, não sejas medrosa. Vamos. Não. Não vou. Podem ver. Que é que vão pensar? Subo a escada, alguém me vê, pergunta: “Aonde vais, Clarissa?” Ora, vou até o quartinho das malas. Pronto. Ninguém pode desconfiar. Vou. Não, não vou. Vou, sim!
VERISSIMO, Erico. Música ao longe. Porto Alegre: Globo, 1981. p. 132-133
Assinale a alternativa correta quanto à transitividade dos verbos em destaque
Boa tarde Bruna tudo bem? Essa questão leva maior tempo para responder indico vc abrir no campo de tarefas que nesse campo o aplicativo vai direcionar por professor que podem te ajudar nessa questão te auxiliando orientando como resolver essa questão mediante uma taxinha ao professor
Espero ter te ajudado
Att:Professora Luana Kamila