Bom dia
Se frase está assim: O motorista, ele não estava atento.
Poderia estar assim: O motorista não estava atento.
A pergunta é: por que todo mundo usa a vírgula e o "ele"?
Olá, Marly!
A sua observação é muito pertinente e demonstra bom senso crítico em relação à linguagem. Prestar atenção em como as pessoas falam e escrevem, questionar e buscar alternativas mais eficientes são atitudes muito importantes e necessárias para o aprimoramento da linguagem e a independência linguística.
Sabemos que a linguagem é dinâmica e está em constante evolução. Não queremos ignorar isso. Mas é preciso ter em mente que até para infringir as regras gramaticais é preciso conhecê-las. Caso contrário, é pura ignorância.
Respondendo à sua pergunta, tem-se verificado a banalização do uso dessa estrutura (recurso que deve ser usado como exceção, e não como regra). Isso ocorre porque as pessoas se deixam levar ou influenciar facilmente pela onda do modismo, e passam a copiar ou repetir, feito papagaio, o que os outros estão inventando, fazendo ou dizendo, sem uma mínima análise crítica (o chamado ‘maria vai com as outras’).
Por comodismo ou desconhecimento, deixam-se levar ao sabor do vento, tendem a seguir a maioria, sem examinar ou procurar se inteirar se a forma utilizada é a mais adequada. Em razão disso, algumas construções se tornam populares e acabam sendo usadas por muitas pessoas, mesmo que não sejam as mais eficientes ou corretas do ponto de vista gramatical.
Assim foi com o famigerado “a nível de”, utilizado até em situações em que não existia hierarquia (a nível de atacado, a nível de coleta); assim é com o gerundismo (uso vicioso do gerúndio, junto do verbo estar, como estarei comunicando, estaremos publicando, por: comunicaremos, publicaremos); assim tem sido com o ondismo (fenômeno de associar o pronome "onde" a situações que não indicam valor circunstancial de lugar: “Sou grata a meus pais, onde [em lugar do “que”] sempre me ajudaram). E por aí vai.
Obviamente que a chave está em encontrar um equilíbrio entre aceitar influências externas e manter a própria identidade e capacidade de julgamento.
Estrutura como “O motorista, ele não estava atento” é utilizada para enfatizar o sujeito da frase. Ao repetir o sujeito, a intenção pode ser dar mais destaque à informação. Mas não pode ser empregada a torto e a direito, sempre em todo e qualquer caso. (Veja, no final, situações em que o uso da estrutura é aceitável, adequada ou necessária.)
Na fala cotidiana, tem se tornado comum usar construções redundantes para garantir que a mensagem seja compreendida claramente. A repetição pode ajudar a evitar ambiguidades, especialmente em conversas rápidas ou informais.
Essa forma é frequente em diálogos coloquiais e em algumas regiões ou dialetos do português.
Algumas construções redundantes podem ser influenciadas por traduções literais de outras línguas, como o inglês, nas quais as estruturas similares são comuns.
Em determinados contextos, a repetição do sujeito pode servir para reforçar a identidade do agente da ação, especialmente quando há várias pessoas envolvidas ou quando se quer evitar qualquer confusão, o que não é o caso no exemplo apresentado.
Gramaticalmente, a forma mais concisa e correta é evitar a redundância. A vírgula e o pronome "ele" na frase "O motorista, ele não estava atento" são, de fato, redundantes e podem ser retirados sem prejuízo para o sentido da frase.
Enquanto a construção redundante não é incorreta no contexto coloquial e pode ter um propósito comunicativo, em textos formais e escritos, a concisão e a clareza são preferidas. Portanto, é recomendável evitar essa redundância em contextos em que a precisão gramatical é importante.
Embora a forma "O motorista, ele não estava atento" não esteja incorreta, ela é menos eficiente do que "O motorista não estava atento". Na escrita formal, a segunda versão é preferida por ser mais direta e elegante. É sempre importante adaptar o estilo de escrita ao contexto e ao público-alvo para garantir que a mensagem seja transmitida de forma clara e eficaz.
Resumindo: A frase "O motorista não estava atento" é mais clara, objetiva e concisa, transmitindo a mesma informação de forma mais eficiente. A repetição do sujeito ("O motorista") e o uso da vírgula são desnecessários e podem até tornar a frase mais pesada.
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APÊNDICE
QUANDO A REPETIÇÃO REDUNDANTE DO SUJEITO PODE SER ADEQUADA OU NECESSÁRIA
A repetição redundante do sujeito pode ser adequada ou necessária em determinados contextos, principalmente na comunicação oral e em estilos literários específicos. A seguir, estão alguns exemplos de situações em que essa repetição é justificada:
1. Ênfase
Repetir o sujeito pode ser uma maneira de dar ênfase à mensagem, destacando o papel do sujeito na ação.
Exemplo:
2. Clareza e Desambiguação
Quando há várias pessoas ou objetos mencionados anteriormente, repetir o sujeito ajuda a evitar ambiguidades, tornando claro quem ou o que está sendo referido.
Exemplo:
3. Estilo Literário e Diálogo
Em textos literários, especialmente em diálogos, a repetição do sujeito pode capturar a naturalidade e o ritmo da fala cotidiana, além de caracterizar melhor os personagens.
Exemplo:
4. Reforço Didático
Em contextos educacionais, a repetição pode ajudar a reforçar a informação, garantindo que o ouvinte ou leitor compreenda e retenha o conteúdo.
Exemplo:
5. Discurso Retórico
Em discursos e textos retóricos, a repetição do sujeito pode ser usada para criar um efeito de insistência e persuasão, enfatizando pontos chave.
Exemplo:
Marly, é uma forma de enfatizar o sujeito, substituindo-o por pronome pessoal - neste caso -, ou oblíquo, que faz referência a um termo anterior. Chama-se “anãfora” ou "termo anafõrico", que dá coesão ao período / texto.
O motorista, ele não estava atento. - ele: termo anafórico; refere-s a "motorista".
Muito usado na língua oral, em contexto informal, assim como o objeto direto pleonástico / enfático / redundante:
O livro, leu ele (sic) / leu-o em um fim de semana. - o: pronome oblíquo anafórico; faz referência a “livro”.
Espero tê-la ajudado. At.te, tutor Miguel Augusto Ribeiro.
A frase "O motorista, ele não estava atento" contém um uso redundante do pronome "ele" e uma vírgula desnecessária. A frase pode ser simplificada para "O motorista não estava atento" sem perder o sentido.
Aqui estão algumas razões pelas quais as pessoas frequentemente usam essa construção:
Enfase e Claridade: Às vezes, as pessoas usam o pronome "ele" para dar ênfase ou clareza, especialmente em conversas informais.
Influência da Fala: Na linguagem falada, é comum usar construções redundantes para dar mais fluidez ao discurso. Esse hábito pode se transferir para a escrita.
Costume: Muitas pessoas aprendem e repetem construções linguísticas que ouvem frequentemente, mesmo que não sejam gramaticalmente necessárias.
Falta de Conhecimento Gramatical: Nem todos têm um conhecimento aprofundado das regras gramaticais, o que leva ao uso de estruturas desnecessárias.
Na escrita formal, é preferível evitar essas redundâncias para tornar o texto mais conciso e claro.