Como devo escrever uma placa de anúncio para engraxate!
1. Engraxa-se Sapatos
2. Engraxamos Sapatos
3. Engraxate de Sapatos
Tem outra forma correta?
Angélica, geralmente no comércio, usa-se a 3a. pessoa do singular + se, indicando indeterminado: Aluga-se casa. Alugam-se apartamentos.
Isso é o que a gramática tradicional diz, que a partícula “se” é apassivadora, o verbo é transitivo direto e a oração está na voz passiva sintética e, portanto, o sujeito aparece após “se”: engraxam-se sapatos / sapatos são engraxados.
Porém há estudos mais atuais, respaldados no uso consagrado de nosso português, que provam que se trata de objeto direto, não importando se está no singular ou plural: Aluga-se casa(s).
Veja: "Said Ali sustenta, ainda, que a forma reflexiva não se identifica com a voz passiva. Confrontando as sentenças “aluga-se esta casa” e “esta casa é alugada”, o autor explica que essas duas formas expressam sentidos diferentes e incompatíveis. A primeira atrairia pessoas interessadas em alugar a casa, a segunda admitiria que a casa já se encontra ocupada por inquilinos. Isso prova que “substituir não é analisar” (p. 103). Além disso, a substituição gera sentidos implausíveis se o verbo não for transitivo direto: “foge-se” seria “.... é fugido”, deixando uma lacuna para ser completada com um sujeito, que nem a lingüística, a psicologia, a gramática e o senso comum são capazes de responder.
Diante dessa realidade lingüística brasileira, o gramático Celso Pedro Luft (1976), adotando o ponto de vista de Said Ali, afirma que a concordância em casos como “vendem-se casas” decorre de “mera servidão gramatical”. (p. 133)
Em “O colocador de pronomes”, cuja escrita iniciou-se em 1917, mas publicado em 1924, Monteiro Lobato faz uma crítica bem-humorada ao purismo da linguagem predominante no começo do século passado. Esse “conto gramatical” narra a história de Aldrovando Cantagalo, o mártir da gramática. Certo dia, Aldrovando exige que o ferreiro da esquina reforme, “em nome do asseio gramatical”, sua tabuleta, que diz: Ferra-se cavalos. Leia-se a seguinte passagem do texto:
- Reformar a tabuleta? Uma tabuleta nova, com a licença paga? Está acaso rachada?
- Fisicamente, não. A racha é na sintaxe. Fogem, ali, os dizeres à sã gramaticalidade. (...)
- Digo que está a forma verbal com eiva grave. O “ferra-se” tem que cair no plural, pois que a forma é passiva e o sujeito é “cavalos”. (...)
- O sujeito sendo “cavalos”, continuou o mestre, a forma verbal é “ferram-se” - “ferram-se cavalos!” (...)
- Vossa Senhoria me perdoe, mas o sujeito que ferra os cavalos sou eu, e eu não sou plural. (...)
Aldrovando ergueu os olhos para o céu e suspirou.
- Ferras cavalos e bem merecias que te fizessem eles o mesmo!...
Sendo assim, o ferreiro coloca-se como o sujeito da sentença “ferra-se cavalos”, como o havia descrito Said Ali." (http://www.filologia.org.br/ixcnlf/17/01.htm)
Espero ter ajudado.
At.te, prof. Miguel Augusto Ribeiro.