Na prova do Ministério Público do RS, em 2021, foi cobrada a questão abaixo.
O texto original assim estava escrito:
"Quase um ano depois da sua abdicação, Napoleão Bonaparte aportou no sul da França com 1500 homens para reconquistar Paris, aonde chegou em 20 de março de 1815, após 20 dias de viagem. A França voltara a ser uma monarquia em que bonapartistas, liberais independentes, monarquistas e as massas descontentes mantinhamse em constante conflito, embora a maioria apenas desejasse uma democracia liberal (original sem grifo)".
A banca considerou correta a assertiva que fez a substituição de "aportou" por "tem aportado" e "voltara" por "tinha voltado".
A minha dúvida é: o tempo verbal composto "tem aportado" é equivalente a "aportou"?
Penso que "tem aportado" dá uma ideia de frequência, ou de que pelo menos tenha aportado mais de uma vez. Já o termo "aportou", entendo que dê ideia de uma única vez. Não sendo correto, ao meu ver, a substituição do tempo verbal simples pelo composto, nesse caso. Estou errado?
Marcelo, você tem razão, quanto à semântica. Não vi o que pede a questão, mas quanto à forma, há paralelo entre pret. perfeito / pret. perf. composto e pret. mais que perfeito / pret. mais que perfeito composto. No primeiro par, os significados e usos diferem, ao passo que no segundo possuem mesmos sentidos, sendo que o pret. mais que perf. é usado em discurso formal, e o o pret. + que perf. composto, em informal.
Leia mais: https://www.infoescola.com/portugues/tempos-verbais-compostos/#preterito-mais-que-perfeito-composto.
Espero tê-lo ajudado. At.te, tutor Miguel Augusto Ribeiro.
Você está correto em sua análise. O tempo verbal composto "tem aportado" não é equivalente ao tempo verbal simples "aportou" no contexto apresentado.
- "Aportou" é o pretérito perfeito do verbo "aportar" e indica uma ação pontual e concluída no passado. Nesse contexto, se refere à chegada única de Napoleão Bonaparte ao sul da França em 20 de março de 1815.
- "Tem aportado" é o presente perfeito composto do mesmo verbo, indicando uma ação que começou no passado e tem relevância no presente. Essa forma verbal sugere uma ideia de repetição ou continuidade, o que não condiz com o evento único da chegada de Napoleão em 1815.
Portanto, a substituição de "aportou" por "tem aportado" não é apropriada neste contexto, pois altera o significado original do texto. A banca deveria ter considerado incorreta essa substituição, pois ela não é gramaticalmente correta e não preserva o sentido pretendido no texto original.
Você tem inteira razão, Marcelo, a nosso ver, em suas ponderações. “Aportou” e “tem aportado” não são a mesma coisa do ponto de vista semântico. Enquanto o pretérito perfeito simples indica uma ação executada e concluída no passado, um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado (Ele estudou as lições ontem à noite), o pretérito perfeito composto do indicativo expressa uma ação repetida que ocorreu no passado e que se prolonga até o presente (Tenho andado distraído).
A banca responsável pela elaboração da prova não nos parece ter sido feliz na escolha do texto em referência, que narra um fato histórico ocorrido no século XIX, para ilustrar os tempos verbais citados, por meio da questão em análise.