Explique as passagem a seguir: "O discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar." Não por acaso, "Todo sistema de educação é uma maneira política de manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que eles trazem consigo"
Essas passagens abordam a relação entre discurso, poder e educação, e são fortemente influenciadas pelas ideias do filósofo francês Michel Foucault. Vamos analisar as passagens à luz de sua teoria.
Nesta passagem, Foucault está afirmando que o discurso não deve ser entendido apenas como um reflexo ou expressão das relações de poder existentes, ou como uma mera representação das lutas sociais. Ou seja, o discurso não é apenas uma consequência do poder ou uma maneira de descrever a realidade social de dominação.
O discurso, para Foucault, também é um meio pelo qual o poder se exerce e se organiza. Em outras palavras, as formas de falar, as ideias que circulam, os saberes estabelecidos, e a própria linguagem não são apenas resultados de lutas políticas, mas também são os próprios instrumentos e campos de luta. O que as pessoas dizem e como falam tem um papel central na construção e manutenção de estruturas de poder. Isso significa que, ao controlar o discurso, ou seja, ao decidir o que pode ser dito, como, quando e por quem, um grupo pode controlar o poder em uma sociedade.
Portanto, o discurso não só reflete o poder, mas também é uma arena de luta por poder, um campo em que as pessoas ou grupos buscam afirmar suas próprias verdades, legitimar suas visões de mundo e influenciar as regras sociais.
Aqui, Foucault está dizendo que o sistema educacional não é neutro, mas tem uma função política clara: ele ajuda a controlar e a distribuir os discursos, os saberes e, consequentemente, o poder. A educação, ao ensinar determinados conhecimentos e valores, define o que é considerado "verdadeiro" ou legítimo em uma sociedade, e exclui outros saberes. Em muitas sociedades, a educação tem um papel crucial na manutenção do status quo, ou seja, ao ensinar de uma determinada maneira, ela pode contribuir para a preservação de relações de poder desiguais.
Por outro lado, a educação também pode ser um campo de resistência e de transformação, onde diferentes discursos podem ser introduzidos e disputados, novas verdades podem surgir e os saberes dominantes podem ser desafiados. Assim, os sistemas de ensino são instrumentos poderosos na luta por mudanças sociais. O que as escolas ensinam e como ensinam não é algo neutro ou desinteressado, mas está profundamente ligado aos interesses políticos, ideológicos e sociais daqueles que controlam as instituições educacionais.
Essas passagens refletem a ideia central de Foucault de que poder e conhecimento são indissociáveis. O discurso não é apenas um meio de comunicar ideias ou refletir a realidade, mas uma forma de organizar e contestar o poder. Na educação, isso se traduz na ideia de que o controle sobre o saber e os discursos dominantes é uma forma importante de manter ou modificar as relações de poder em uma sociedade. As escolas não apenas transmitem conhecimento, mas também incutem e reproduzem as normas e valores que sustentam o poder existente.
O sistema educacional, portanto, é um campo onde diferentes saberes, visões de mundo e interesses de poder estão em constante disputa. Foucault nos convida a questionar quais discursos estão sendo legitimados e quais estão sendo marginalizados, e como isso influencia a organização social e as relações de poder.