Toda vez que você diz isso, um linguista se revira em sua cama e espirra.
Ou pelo menos metade deles.
Vamos começar do princípio.
Seres humanos aprendem o tempos todo, desde quando estávamos na barriga de mamãe até chegarmos à senilidade (aí eu já não garanto que você vá aprender muita coisa mesmo). Aprendemos a andar, a segurar objetos, a subir em árvores, andar de bicicleta, dirigir, fazer contas... Estamos o tempo todo aprendendo coisas e formando novas conexões naquelas coisinhas que se chamam neurônios.
Agora, o que se é sabido também é que, apesar de fazermos isso a vida inteira, as conexões são formada mais facilmente quando somos mais jovens. É como se você pensasse num pc. Seu cérebro é o hd. Chega uma hora que o hd fica tão cheio, com o passar do tempo, que ele demora mais tempo para executar as ações, e aí instalar e rodar um programa é o ó. Mas isso não significa que é impossível.
TÁ BOM TIA, mas o que isso tem a ver com aprender um novo idioma?
Bem, aí a resposta só muda um pouquinho dependendo de que lado da linguística você prefere.
O fato é que ninguém sabe como aprendemos a falar. Ou porque. Ou ainda, como desenvolvemos a fala inicialmente - como a primeira pessoa desenvolveu a primeira frase ou coisa que o seja. Existem várias teorias em relação a isso, e nenhuma certeza. Faz parte da ciência, sorry.
O que sabemos é que toda criança que seja colocada em um ambiente em que receba input de um idioma, vai aprender aquele idioma. Tá valendo mais de um idioma? Tá sim. Crianças que crescem bilíngues fluentes são um fato. Se os pais de uma criança conversarem com ela em inglês, mas o resto da família em russo, a criança, desde que tendo contato constante com o russo, vai aprender ele. Não só isso, mas estudos mostram que essas crianças também não misturram os idiomas: elas sabem exatamente que língua falar e com quem falar e quando falar. (leia o romance autobiográfico de Hugo Hamilton, The Speckled People)
Certo, você não é uma criança. Mas estudos desenvolvidos com imigrantes mostram que o mesmo acontece com eles. Ao se inserirem em uma comunidade falante de um idioma diferente dos seus, imigrantes passam pelo mesmo processo de aprendizagem que uma criança ao aprender sua primeira língua (talvez com um pouco mais de mímica?).
Alguns linguistas não consideram esses imigrantes falantes da língua, no entanto. Até mesmo por eles manterem certo sotaque, ou não aprenderem o idioma totalmente de modo a serem fluentes nele. Mas nisso, involvemos também um aspecto cultural. Brasileiros, por exemplo, tendem a querer a eliminação total do sotaque quando falam um idioma estrangeiro. Outras culturas não, já que sua língua é muito relacionada com sua identidade nacional - vide como exemplo a comunidade japonesa em São Paulo.
CERTO, eu consigo aprender um idioma se eu estiver em um país estrangeiro, mas eu não tenho dinheiro/tempo/outros, e aí como faz?
Ninguém nunca disse que era impossível se tornar fluente em terras brasílicas. Eu mesma nunca vivi nem estudei no exterior, e olha eu aqui com meus certificados.
É por isso mesmo que a maior parte dos cursos de idiomas atualmente dá aulas totalmente na língua a ser aprendida. É como uma mini-imersão dentro do país. Assim, os livros todos em inglês, o professor falando em inglês e o aluno... Tenta imitar. Por isso que @ tchitcher briga com você quando você fala português na aula.
Não preciso nem comentar que se você só deitar em cima do livro de inglês e dormir pra informação passar por osmose não vai funcionar né? Então mãos a obra que o tempo é escasso e estamos idosos a cada minuto.