Origem da Arte Contemporânea brasileira
em 19 de Julho de 2015
Com a chegada da corte portuguesa no início do século dezenove o Príncipe Regente Dom João transformou o Brasil de colônia em principal país do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, fazendo do Rio de Janeiro a capital e sede de seu governo. Em relação ao período anterior, a chegada da Família Real trouxe grande progresso ao país, com a fundação de universidades, o desenvolvimento da imprensa periódica, a preocupação com os problemas de saneamento, etc. De todas as mudanças estruturais e culturais realizadas neste período, optamos por evidenciar a sistematização do ensino e da prática artística que se deu com a vinda da Missão Artística Francesa em 1816.
Antes deste período já havia no Brasil produções artísticas e até mesmo aulas de desenho e pintura. Porém os sistemas predominantes na colônia eram o da arte autodidata feita em nível de artesanato por pessoas humildes e o da arte elaborada pelos clérigos, baseada nos princípios da fé como na Idade Média. A produção artística colonial, sobretudo o barroco brasileiro, chegou a ser desqualificada pelo seu "amadorismo". A ruptura com a tradição barroca, religiosa e popular se deu pela inserção de uma prática academicista trazido pelos franceses de estilo neoclássico. Porém a realidade daqui era distinta da França revolucionária, os ideais e formalidades neoclássicos se encontravam fora do contexto brasileiro. Simplesmente era postiço e enganoso aplicar o sistema formal do neoclassicismo na representação da realidade brasileira.
O caráter heroico deste estilo simplesmente não combinava nada com o caricato monarca fujão que governava nosso país. Porém por encomenda deste, após Nicolas Taunay se oferecer como pintor para a Família Real e mais uma série de outros acontecimentos, Joachim Lebreton foi indicado para organizar o grupo de artistas que vieram da França com a finalidade de fundar no Rio de Janeiro uma Academia de Belas-Artes. A expedição que ficou conhecida por Missão Artística Francesa, trouxe cerca de quarenta estrangeiros. Os principais entre eles, além de Taunay e Lebreton, eram Jean Baptiste Debret, Grandjean de Montigny, Simon Pradier, Segismund Nuekomm e François Ovide. Somente dez anos depois da chegada destes a "academia" se tornou realidade, pois o ritmo na capital provisória do reino era lento.
O atraso também se deu por conflitos de interesses entre portugueses e franceses, numa rixa que refletia pouca importância dada às questões verdadeiramente artísticas. Ainda assim, aos poucos se concretizava aqui um ambiente de ensino artístico. Debret, que atuou como professor de pintura de história na academia é tido também como o responsável pela realização das primeiras exposições de artes plásticas no país, nos anos de Brasil Imperial. Um aluno seu de destaque neste período foi Araújo Porto-Alegre, o qual contribuiu na realização da exposição pública de dezembro de 1929. Victor Meirelles também se matriculou na academia e posteriormente se tornou ali um admirado professor. De lá pra cá foram muitas as denominações para este espaço de ensino que perdura até hoje sendo chamado de Escola de Belas Artes (incorporada à Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Referências:
Anderson Ricardo Trevisan. DEBRET E A MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA DE 1816: ASPECTOS DA CONSTITUIÇÃO DA ARTE ACADÊMICA NO BRASIL. São Paulo, 2007 (Artigo).
Rodrigo Naves. A FORMA DIFÍCIL: ENSAIOS SOBRE ARTE BRASILEIRA. São Paulo, 2011 (Livro).
Originalmente publicado em:
http://laudanoartes.blogspot.com/2015/05/missao-artistica-francesa.html