Teoria Bakhtiniana de Linguagem
em 03 de Julho de 2018
Nesse artigo você encontrará o contexto histórico a partir do qual Eça de Queirós escreve "A Cidade e as Serras", bem como um resumo comentado do livro e personagens. As qustões são elaboradas a partir de trechos do livro contextualizando o aluno sobre temas concernentes à obra. Por fim, a partir de toda a discussão da aula, há uma proposta de redação. Essa aula pode ser dada por qualquer professor de português que conheça o livro.
Eça de Queiros - Cidade e as Serras
O livro "A cidade e as Serras" é publicado em 1901, um ano após a morte do autor. Até sua morte havia 65% do livro escrito e depois foi finalizado pelo amigo de Eça de Queiros Ramalho Urtigão. Sua obra enquadra-se no realismo-naturalismo, mas há na crítica literária quem diga que este romance é pós-realista, pois faz parte da terceira fase das obras do autor. Dados reais da vida do autor em Paris e em Portugal são transpostos neste livro. O realismo em Portugal não surge a partir de publicação de obras, mas sim de uma polêmica que denominou-se Questão Coimbrã.
O livro trabalha a dicotomia campo x cidade, sendo a cidade contemplada até a metade do oitavo capítulo e os demais, até o dezesseis, trabalha-se o campo. Além disso, o livro possui a influência daquele que é considerado o pai do naturalismo Gustave Flaubert, escritor francês, renomado por sua célebre obra "Madame Bovary". Nesse sentido e seguindo a mesma lógica do autor francês, critica os valores burgueses, o moralismo, as tradições. Observa a realidade cotidiana.
A linguagem de Eça de Queiros também é considerada inovadora, pois possui frases mais curtas, ordem direta, registro coloquial e registro da linguagem culta. Contudo, é possível perceber, nesta obra, um otimismo cauteloso por parte do autor o que distoa do que é o realismo clássico. O livro consiste em uma crítica à Revolução Industrial que se deu na Inglaterra, e que depois se espalhou por toda a Europa, segundo o renomado historiador Eric Hobsbawm, em meados de de 1780.
Contudo, Hobsbawm diz que não foi um processo estático, mas que se deu gradativamente até meados de 1830. A Revolução Industrial carrega a novidade que foi para épcoca a transição de métodos de produção artesanais para a produção por máquinas, além da produção de ferro em larga escala, uso da energia da água, energia à vapor e o carvão como principal biocombustível. Em 1840 a meados de 1870 ocorre a segunda Revolução Industrial, a qual também trouxe grandes novidades como barcos a vapor, navios, ferrovias, fabricação em larga escala de máquinas e o aumento do uso de fábricas que utiizavam energia à vapor.
Além da crítica ao progresso, o livro também é uma crítica ao pensamento filosófico que estava em voga na época: o positivismo; e, para que um livro seja considerado realista é necessário que esteja em contato com estas ideias. O positivismo tem como um de seus principais nomes Auguste Comte. O positivismo desse autor surgiu como desenvolvimento sociológico do iluminismo. Caracteriza-se por negar crenças, superstição ou qualquer outra questão que não possa ser comprovada cientificamente, para os positivistas qualquer teoria tem que ser comprovada por meio de métodos científicos.
Dessa maneira, o positivismo afasta a teologia e a metafísica e propõe a existência de valores puramente humanos. Outra consideração sobre o positivismo é a de que este era otimista e pensava que a revolução tecnológica levaria a uma melhora de vida fazendo com que cada geração superasse a sua anterior.
PERSONAGENS - Jacinto: francês rico que reencontra a felicidade em Portugal, terra de seus antepassados.
- Zé Fernandes: narrador e testemunha das mudanças que se operam no amigo Jacinto.
- Amigos de Jacinto em Paris: formam um grupo caracterizado pela hipocrisia; entre eles, destaca-se Madame d’Oriol, amante de Jacinto.
- Madame Colombe: prostituta de luxo com quem Zé Fernandes mantém um tórrido caso amoroso.
- Amigos da serra: comportam-se com sinceridade, rejeitando Jacinto por associá-lo ao absolutismo miguelista.
- Joaninha: prima de Zé Fernandes, torna-se esposa de Jacinto.
- Grilo: empregado de Jacinto por toda a vida, mostra grande perspicácia em suas opiniões a respeito do amo.
Resumo do livro[i]
O narrador Zé Fernandes pretende demonstrar ao leitor a tese segundo a qual a vida no campo é superior à vida urbana. Para comprová-la, relata a trajetória de seu amigo, Jacinto. Herdeiro de grande fortuna obtida através da exploração de propriedades agrícolas de Portugal, Jacinto nasceu em Paris e adorava a cidade. Segundo ele, a capital francesa era o exemplo perfeito de civilização, o único espaço em que o ser humano poderia ser plenamente feliz.
Chegou a criar uma fórmula, que mostrava que a “Suma Ciência” (tecnologia e erudição) multiplicada a “Suma Potência” (capacidade humana), conduzia à “Suma Felicidade”. Jacinto e Zé Fernandes se conheceram na Universidade em Paris, mas este último teve que retornar a Portugal por motivos familiares e eles se separaram. Durante sete anos, Zé se dedicou à administração da propriedade rural de sua família em Guiães, nas serras portuguesas.
Resolvido a tirar um tempo para descansar, foi a Paris rever o amigo. Encontrou-o entristecido e corcunda, muito distante da vivacidade da juventude. Seu estado de espírito causava espanto, porque Jacinto tinha transformado seu palacete, no número 202 da Avenida dos Campos Elísios, em uma verdadeira demonstração de sua fórmula juvenil, dotando-o dos maiores avanços tecnológicos da época e de uma vasta biblioteca. A despeito dessa maquinaria do conforto, Jacinto era infeliz.
As amizades eram falsas e superficiais, a tecnologia de que se cercava não funcionava a contento e, por fim, os livros que lia lhe causavam aborrecimento. Ao receber a notícia de um desabamento em sua propriedade em Tormes, localidade próxima a Guiães, Jacinto decidiu ir até lá. Depois de ordenar reformas no lugar, partiu com o amigo. O atraso e a rusticidade de Tormes surpreenderam Jacinto no primeiro contato. Aos poucos, porém, a natureza o encantou e ele resolver ficar. Reencontrando a antiga disposição, dedicou-se a algumas reformas na propriedade, melhorando as condições de vida dos empregados e estabelecendo com eles novas relações de trabalho.
Apaixonado por Joaninha, prima de Zé Fernandes, instala-se definitivamente nas serras. Da modernidade parisiense, admite apenas a instalação do telefone, que lhe parece útil ali. Assim, Jacinto encontra a “Suma Felicidade” bem distante da civilização. E Zé Fernandes dá sua tese por comprovada. Exercícios 1 – Analise os trechos a seguir. Trecho do capítulo VI – "A tua Civilização reclama insaciavelmente regalos e pompas, que só obterá, nesta amarga desarmonia social, se o Capital der Trabalho, pôr cada arquejante esforço, uma migalha ratinhada. Irremediável, é, pois, que incessantemente a plebe sirva, a plebe pene! A sua esfalfada miséria é a condição do esplendor sereno da Cidade.".
Trecho do capítulo VII – "Ela só sabia chalrar sobre a sua pessoa que era o resumo da sua Classe, e sobre a sua existência que era o resumo do seu Paris: - e a sua existência, desde casada, consistira em ornar com suprema ciência o seu lindo corpo; entrar com perfeição numa sala e irradiar; remexer os estofos e conferenciar pensativamente com o grande costureiro; rolar pelo Bois pousada na sua vitória como uma imagem de cera; decotar e branquear o colo; debicar uma perna de galinhola em mesas de luxo; fender turbas ricas em bailes espessos; adormecer com a vaidade esfalfada; percorrer de manhã, tomando chocolate, os “Ecos” e as “Festas” do Fígaro; e de vez em quando murmurar para o marido – “Ah, és tu?...".
Trecho do capítulo VII – "Sofrer portanto era inseparável de Viver. Sofrimentos diferentes nos destinos diferentes da Vida. Na turba dos humanos é a angustiada luta pelo pão, pelo teto, pelo lume; numa casta, agitada pôr necessidades mais altas, é a amargura das desilusões, o mal da imaginação insatisfeita, o orgulho chocando contra o obstáculo; nele, que tinha os bens todos e desejos nenhuns, era o tédio. Miséria do Corpo, tormento da Vontade, fastio da Inteligência – eis a Vida!".
Disserte sobre as ideias principais que o narrador cita nestes trechos, ressaltando exatamente qual a consideração de cada trecho e finalize dizendo como tais colocações reforçam sua tese de que o campo é melhor do que a cidade.
2 –Releia o capítulo 11 e diga por que Jacinto era considerado o Dom Sebastião de Tormes.
REDAÇÃO
Leia o trecho a seguir de "Cidade e as Serras"
"Foi então que o meu Príncipe começou a ler apaixonadamente, desde o Eclesiastes até Schopenhauer, todos os líricos e todos os teóricos do Pessimismo. Nestas leituras encontrava a reconfortante comprovação de que o seu mal não era mesquinhamente “Jacíntico” – mas grandiosamente resultante duma Lei Universal. Já há quatro mil anos, na remota Jerusalém, a Vida, mesmo nas delícias mais triunfais, se resumia em Ilusão. Já o Rei incomparável, de sapiência divina, sumo Vencedor, sumo Edificador, se enfastiava, bocejava, entre os despojos das suas conquistas, e os mármores novos dos seus Templos, e as suas três mil concubinas, e as Rainhas que subiam do fundo da Etiópia para que ele as fecundasse e no seu ventre depusesse um Deus! Não há nada novo sob o Sol, e a eterna repetição dos males. Quanto mais se sabe mais se pena. E o justo como o perverso, nascidos do pó, em pó se tornam. Tudo tende ao pó efêmero, em Jerusalém e em Paris! E ele, obscuro no 202, padecia pôr ser homem e pôr viver – como no seu trono de ouro, entre os seus quatro leões de ouro, o filho magnífico de David. Não se separava então do Eclesiastes. E circulava pôr Paris trazendo dentro do cupé Salomão, como irmão de dor, com quem repetia o grito desolado que é a suma da verdade humana – Vanitas Vanitatum! Tudo é Vaidade!".
Leia o capítulo 1 do livro bíblico Eclesiastes: Eclesiastes
1 1 Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém.
2 Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.
3 Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol?
4 Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece.
5 Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu.
6 O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos.
7 Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr.
8 Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
9 O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.
10 Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós.
11 Já não há lembrança das coisas que precederam, e das coisas que hão de ser também delas não haverá lembrança, entre os que hão de vir depois.
12 Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém.
13 E apliquei o meu coração a esquadrinhar, e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu; esta enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar.
14 Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito.
15 Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular.
16 Falei eu com o meu coração, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim em Jerusalém; e o meu coração contemplou abundantemente a sabedoria e o conhecimento.
17 E apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios e as loucuras, e vim a saber que também isto era aflição de espírito.
18 Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.
Leia o trecho da música "Tudo é vaidade" do cantor gospel João Alexandre:
Vaidade no comprimento da saia, no cumprimento da lei
Vaidade exigindo prosperidade por ser o filho do Rei
Vaidade se achando a igreja da história
Vaidade pentecostal
Vivendo e correndo atrás do vento, tudo é vaidade
Vaidade juntando a fé e a vergonha Chamando todos de irmãos
Vaidade de quem esconde a verdade Por ter o povo nas mãos
Vaidade buscando Deus em si mesmo
Querendo fugir da cruz
Não crendo e sofrendo, perdendo tempo
Tudo é vaidade
Falsos chamados apostolados do lado oposto da fé
Dinheiro, saúde, felicidade aquele que tem contra aquele que é
Rádios, tvs, auditórios lotados ouvindo o evangelho da marcha ré
A morte se esconde atrás dos templos
Tudo é vaidade
AONDE ESTÁ A HONRA DOS ORGULHOSOS A SABEDORIA MORA COM GENTE HUMILDE
LIBERDADE LIBERDADE
Proposta de redação
É possível observar que o trecho do livro fala sobre uma inquietude da personagem principal, Jacinto. O trecho bíblico demonstra que na mitologia judaico-cristã qualquer coisa que se faça é vão, pois na terra não há nada de novo e a morte demonstra como tudo que se pode fazer sob o sol além de não ser novo, também não é sólido porque não se pode ver o resultado até o final por causa da interrupção que é a própria morte.A música gospel é uma crítica às denominações evangélicas que, em muitos casos, vivem de enganar seus fiéis. E os três exemplos seriam então, vaidade.
Você concorda com esse ponto de vista? Você acha que nada do que se constrói na vida é válido porque a morte vai tornar vão? Relacione os textos apresentados conectando com as aulas sobre a "Cidade e as Serras" e escreva uma redação apresentando quais as ideias principais foram trabalhadas nas aulas, e qual o seu conceito de vaidade.